As risadas vinham da cozinha e da sala, misturadas ao cheiro delicioso de comida caseira. A casa dos Carter, em pleno final de tarde, pulsava com vida, vozes, passos, piadas soltas e aquele clima de lar em festa.
Mas, quando April e Tomás abriram a porta de vidro que ligava o quintal à sala, a movimentação parou por um instante. Foi coisa de segundos… o suficiente para todo mundo virar o pescoço ao mesmo tempo e encarar os dois adolescentes com um sorrisinho suspeito no rosto.
— Oooolha quem resolveu voltar… — disse Tiago, com um tom malicioso que fez David quase engasgar com o refrigerante.
— Estavam fazendo o que lá fora? Apreciando o pôr do sol romântico ou uma desculpa pra se beijar escondido? — cutucou David, rindo alto.
April arregalou os olhos e soltou uma risada nervosa, enquanto Tomás fingia tossir, vermelho até a raiz dos cabelos.
— A gente só tava conversando, seus bobos — disse ela, tentando soar natural, mas a pontinha de voz denunciava.
— Conversando? Ah, claro. Com esses olhos brilhando e a boca meio vermelha? Conversa de outro nível, né? — disparou Mel, surgindo do corredor com um sorriso travesso.
Helen, que vinha da cozinha com uma bandeja nas mãos, parou ao ver a filha. Seus olhos se encheram rapidamente de lágrimas, mas ela disfarçou com um sorrisinho terno.
— Parece que minha menininha cresceu… — murmurou para si mesma, observando o brilho nos olhos de April.
Já Ethan, encostado à parede com os braços cruzados, só lançou um olhar fulminante para Tomás. O pobre garoto engoliu em seco. Não era exatamente fácil ter o pai da garota que você gosta olhando como se quisesse te pendurar na parede.
— Oi… sr. Carter — disse ele, tentando soar confiante.
— Hm — respondeu Ethan, seco, sem sequer sorrir.
— Ethan! — Helen o repreendeu em um tom baixo. — Você prometeu se comportar.
— Eu tô me comportando! Só tô… observando.
David, claro, não deixou passar.
— Observando com o laser dos olhos, né? Pai, você está assustando o garoto.
— Ótimo — disse Ethan, pegando um copo de suco e dando um gole sem tirar os olhos de Tomás. — Quero que ele sinta mesmo que estou observando.
April segurou a mão de Tomás, e ele sorriu, mais aliviado. Era difícil sentir medo quando aquela garota o olhava daquele jeito, como se ele fosse a melhor parte de todo o dia.
— Gente, deixem os dois em paz — disse Zoe, surgindo atrás de Tânia e James. — Vocês já foram adolescentes também!
— Mas a gente não era tão fofo quanto esses dois — comentou Tânia, se sentando ao lado do marido e cruzando as pernas com um sorriso. — Olha a cara deles, é muito filme de romance colegial!
— Eu tô achando mais pra série de drama adolescente com pai possessivo — respondeu Tiago, rindo alto e apontando discretamente para Ethan.
Helen cruzou a sala e se aproximou da filha, segurando suas mãos.
— Você tá feliz, meu amor? — perguntou baixinho.
April sorriu com os olhos marejados.
— Muito.
Helen a abraçou com carinho e sussurrou em seu ouvido:
— Então nada mais importa, tá bem? Eu te amo.
— Também te amo, mãe.
Enquanto isso, Liam chegou da cozinha com um prato de pão de alho e falou animado:
— Gente, vamos parar de interrogatório e vamos focar no que importa: comida e conversa fiada!
Zoe levantou a mão.
— Eu voto em começar pelas fofocas. Cadê a continuação daquela história de “o que aconteceu no escritório”?
Todos começaram a rir ao mesmo tempo. Até Ethan deixou escapar um riso nervoso.
— Não tem mais nada pra contar — murmurou ele.
— Ah, tem sim — disse Liam, cutucando o cunhado. — Meu amigo, você se superou, deixou o seu filho traumatizado.
— Gente! — Helen gritou, morrendo de vergonha. — Não comece com isso! Tem…. crianças aqui! — disse corada.
— Agora são crianças, dona Helen? — completou Zoe divertida. — Você e meu irmão são caso perdido.
Tiago vendo que a coisa ia esquentar decidiu intervir rápido e mudar de assunto:
— É verdade que você e o Tomás se beijaram hoje?
April arregalou os olhos e mordeu o lábio, e Tomás ficou mais vermelho que um tomate.
— Isso é injusto! — disse ela, rindo. — Mas sim… é verdade.
— Aaaaaaah! — gritaram em coro, batendo palmas.
— E foi bom? — cutucou Mel, rindo.
— MEL! — April gritou, escondendo o rosto nas mãos.
Helen se afastou um pouco, enxugando discretamente uma lágrima. Ver a filha assim, leve, sorridente, apaixonada, era mais do que podia suportar sem se emocionar.
Ethan, do outro lado, suspirou e disse:
— Alguém me passa o uísque?
— Já volto, vou buscar um calmante natural pra você — disse Tânia, rindo.
April olhou para Tomás e sussurrou:
— Ainda quer continuar tentando me hipnotizar?
— Agora eu só quero… ficar do seu lado. Onde quer que você esteja.
Ela sorriu, o coração batendo como um tambor.
— Então fica. Por muito tempo.
E ele ficou.
Naquela noite, sob o teto de uma casa cheia de amor, com piadas demais, risadas sinceras e um pai ciumento tentando disfarçar o orgulho, dois adolescentes se apaixonavam devagar, do jeito mais bonito e real que existe: cercados de gente que os amava.
E mesmo que o mundo girasse, que os anos passassem, que o futuro fosse incerto… ali, naquele entardecer, com os pés ainda úmidos da piscina e as mãos entrelaçadas no sofá da sala, Tomás e April sabiam exatamente onde queriam estar.

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