A porta bateu atrás de mim com um estrondo abafado, mas nem isso me fez olhar para trás.
Eu não sei como saí da empresa. Não lembro do elevador, do estacionamento, do caminho até o carro. Tudo o que lembro é da dor, essa que martela o peito com tanta força que parece que vai explodir a qualquer segundo.
A dor da ausência.
A dor da culpa.
A dor de ser o responsável por ter afastado a única mulher que me amou de verdade.
O caminho até o apartamento foi automático. Dirigi como um zumbi, sem ver semáforos, sem contar as ruas, sem escutar as buzinas impacientes. Minha mente estava em outro lugar.
Estava com ela.
Com Helen.
Com o silêncio dela indo embora e me deixando sozinho com os meus erros. Por mais que não tenha tido culpa, eu estava pagando por toda dor que eu a fiz passar. Não a culpo por acreditar no que viu, porque eu a machuquei muito.
Cheguei em casa e joguei as chaves num canto qualquer. Tirei o paletó e joguei no chão. Depois a camisa, os sapatos. Um por um, fui largando os pedaços do que sobrou de mim pelo caminho. As roupas formaram uma trilha até o centro da sala.
A garrafa de uísque me esperava como uma velha cúmplice.
Peguei sem pensar. Sem medo. Sem culpa e enchi meu copo bebendo em seguida. Nos últimos sete dias, era isso que fazia. Acordava, bebia, dormia, acordava novamente e bebia. Era a única maneira que eu conseguia aplacar a dor que sentia dentro de mim.
Meus pais vinham sempre e tentavam conversar, mas eu não queria ouvir. Minha mãe partiu para cima de mim quando soube o que aconteceu, mas Zoe contou tudo o que de fato tinha acontecido, se até a minha mãe só acreditou em mim por causa da Zoe quem dirá Helen?
Senhor Donald, meu sogro, veio até mim determinado a me confrontar mais quando ele viu o estado deplorável que eu me encontro, ele apenas me encarou e disse que se eu realmente amasse sua filha deveria lutar por ela. Mas, se Helen desapareceu significa que ela desistiu de nós dois e a cada dia essa certeza me mata por dentro.
— Parabéns Ethan Carter o premio do idiota do ano vai para você. — digo encarando o meu reflexo no espelho.
Uma imagem deplorável de um homem que perdeu tudo. Não se trata de contratos, empresas, cargos… mais um homem que teve o vislumbre da felicidade e estragou tudo.
Enchi novamente meu copo e bebi sem gelo e sem pausa. A queimação foi imediata. Mas não suficiente. Nada era suficiente para apagar o que eu sentia. A garrafa foi ficando mais leve. E eu, mais pesado.
Sentei no sofá e olhei ao redor.
A manta de unicórnios que Helen adorava ainda estava dobrada sobre o braço do estofado. O livro que ela estava lendo tinha um marcador em forma de flor. A caneca com a inicial dela ainda estava na prateleira. O porta-retrato com a nossa foto… ainda sorria pra mim.
Levantei com raiva.
Atirei o porta-retrato na parede com tanta força que ele se espatifou em dezenas de pedaços. O som do vidro quebrando ecoou pela sala como um grito desesperado. Mas ainda não era suficiente.
Joguei o copo na parede também, a garrafa e finalmente o próprio corpo.
Caí de joelhos no meio da sala, sem ar, com os olhos ardendo.
A respiração saiu em soluços descontrolados. E então eu chorei.
Chorei como nunca antes.
— Helen… — sussurrei, com a voz engasgada. — Me perdoa…
As lágrimas se misturaram com o suor, com o álcool, com o vazio.
Arrastei meu corpo pelo chão até encostar na parede. Encostei a testa ali e fechei os olhos, mas as lembranças não paravam.
O riso dela ecoava pela sala como uma assombração. Imagino o olhar de decepção, a porta se fechando, o silêncio.
A ânsia subiu pela garganta como uma avalanche e não consegui controlar.
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