O som da sirene da ambulância cortava a madrugada como uma ferida aberta no ar.
Zoe segurava a mão do irmão com força. Ela sentia o suor frio da pele dele, o tremor involuntário dos músculos, e o som irregular da respiração. Cada movimento da maca dentro do veículo a fazia reviver, em looping, a imagem de Ethan nu, deitado no próprio vômito, desidratado, febril e completamente devastado pela ausência de Helen.
Liam estava ao lado dela, calado, mas com os olhos vermelhos e o maxilar trincado. Nunca vira Ethan daquele jeito. E, mesmo sem dizer nada, a dor e o medo estavam estampados em seu rosto.
— Vamos conseguir — Zoe sussurrou, mais para si mesma do que para os outros. — Ele só precisa… segurar um pouco mais.
Ethan não respondia. Estava semiconsciente, murmurando frases desconexas entre pequenas convulsões de angústia e calor. Seu corpo oscilava entre arrepios e febre. O rosto ainda tinha marcas do soco de Michael, e os lábios rachados pela desidratação pareciam ainda sangrar.
— Helen… — ele murmurava em intervalos. — Helen, me perdoa…
O paramédico olhou para Zoe e assentiu com delicadeza.
— Ele está em choque emocional profundo. O corpo está reagindo ao estresse com colapso sistêmico. Mas está estável… por ora.
Zoe assentiu. Mas por dentro, ela estava em pânico.
Ao chegarem no hospital, Ethan foi levado imediatamente para o setor de urgência. Médicos e enfermeiros correram para atendê-lo. A maca sumiu por trás das portas automáticas. E, com ela, o que restava do homem que um dia foi Ethan Carter.
Zoe desabou num dos bancos da sala de espera, passando as mãos trêmulas pelos cabelos. Liam permaneceu de pé, andando de um lado para o outro, como uma fera enjaulada.
Melissa chegou minutos depois, com os olhos marejados e o rosto abatido. Ela tinha os ombros curvados, como quem carregava o peso do mundo ou, pelo menos, o peso de não ter conseguido evitar aquilo.
— Alguma notícia? — ela perguntou, com a voz baixa.
— Ainda não. — Zoe respondeu. — Estão estabilizando ele. Mas… o médico disse que ele teve um colapso nervoso e físico. Tá com sinais de desidratação severa, intoxicação alcoólica e… confusão mental.
— Meu Deus… — Melissa levou a mão à boca.
Liam parou de andar e se abaixou em frente a Zoe.
— Ele vai sair dessa. Ele tem que sair.
Zoe balançou a cabeça.
— Não sei… sem ela, eu acho que ele nem quer mais continuar.
O silêncio que se seguiu foi quebrado apenas pelos sons dos monitores à distância e dos anúncios no alto-falante.
Foi então que o celular de Zoe tocou.
Ela olhou a tela e sentiu o coração pulsar ao ver o nome que há anos não escutava.
— James Foster. — ela murmurou, surpresa.
Melissa ergueu o olhar, alerta, enquanto Zoe atendia rapidamente.
— James?
Do outro lado da linha, a voz dele soou firme e, ao mesmo tempo, envolta em uma leve exaustão.
— Zoe… desculpe ligar tão tarde. Mas sei que vocês estavam procurando por Helen.
O coração de Zoe quase parou.
— James… pelo amor de Deus… você sabe onde ela está?
— Eu estou com ela. Na minha casa de campo.
— O quê?!
Zoe se levantou de imediato, indo até Melissa.
— Ela tá bem? — Melissa perguntou, sem conseguir conter as lágrimas.
— Ela tá viva? Tá segura? — perguntou Zoe desesperada.
— Sim. Está viva e segura. Encontrei por acaso com ela, mas agora ela está comigo. Mas… está emocionalmente muito abalada. Helen está em pedaços, Zoe. A dor que ela sentiu… quase a destruiu. Ela passou dias sem comer direito, sem dormir. Só chorava. Está fraca. Mas está se recuperando… aos poucos.
Melissa chorava em silêncio e Zoe apenas ouvia tudo sentindo o coração doer.
Ela passou a mão pelos olhos e respirou fundo.
— Diz pra ela… — disse com dificuldade — que ele não desistiu dela, que ele a ama de todo o coração.
James hesitou por um instante e mesmo sentindo dor ao ouvir aquela confissão, respondeu:
— Eu digo.
Fez novamente uma pausa, como quem pondera cada palavra.
— Quando ela estiver pronta, eu a levarei de volta.
— Obrigada, James. Por tudo. — Zoe sussurrou.
— Cuidem dele, por ela.
A ligação caiu.
Zoe ficou parada por um instante, absorvendo tudo.
— Ela está viva. — disse, olhando para Liam, com os olhos marejados. — Está viva e… ela ainda o ama.
Liam se sentou ao lado da namorada e abraçou Zoe, que não conseguia parar de chorar.
— É a chance dele… de ambos. — disse ele.
— Mas eles têm que resistir até lá. — Zoe completou.
E naquele hospital silencioso, onde o tempo parecia congelado, a esperança voltou a respirar, frágil, mas viva.
Porque Helen estava segura. E Ethan… lutaria por ela até o fim.

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