O céu parecia um espelho cruel para o coração de Helen naquela manhã, carregado de nuvens espessas, tão pesadas que ameaçavam despencar em lágrimas a qualquer instante. Era como se o universo inteiro, em sua vastidão silenciosa, sentisse a mesma angústia que ela.
O carro deslizou pela estrada sinuosa, vencendo quilômetros que pareciam tão longos quanto a distância que separava Helen da paz interior que tanto ansiava. Cada metro percorrido trazia memórias, dores antigas, esperanças que ela tentava abafar sem sucesso.
James, ao volante, lançava olhares discretos para ela, mas não dizia nada. Sabia que o silêncio era a companhia que Helen precisava agora. Quando o veículo estacionou em frente à velha casa dos seus pais, Helen sentiu o peito apertar de maneira quase física.
O lugar parecia menor do que ela se lembrava, mais envelhecido, mas ainda assim, irradiava algo que ela não encontrava mais em lugar nenhum: Segurança.
James saiu primeiro, contornando o carro com passos calmos, abriu a porta para ela num gesto de gentileza silenciosa e Helen agradeceu com um leve aceno, mas seu corpo mal se moveu. Seus pés tocaram o chão com uma hesitação quase infantil. Parte dela queria correr de volta, sumir, apagar a vergonha e a dor que a corroíam, a outra… a outra só queria um abraço, um colo, um lar.
A porta da casa se abriu antes mesmo que Helen pudesse pensar em tocar a campainha. Donald, seu pai, já estava ali. A figura sólida, o rosto sulcado pelos anos, mas com os mesmos olhos que, desde a infância, eram o seu porto seguro.
Sem dizer uma palavra, ele caminhou até ela e Helen largou a bolsa no chão e correu se jogando nos braços dele como uma criança perdida, e ali, naquele abraço apertado, deixou que todo o peso que carregava desabasse.
— Papai… — sussurrou, com a voz embargada pelo choro.
Donald apertou-a contra o peito, sua mão calejada acariciando os cabelos dela.
— Você está em casa, minha menina — disse ele, com aquela voz grave e acolhedora que parecia capaz de curar o mundo.
Helen chorou.
Chorou como não chorava há muito tempo.
Chorou pela dor da traição, pela humilhação, pelo amor que ainda insistia em pulsar dentro dela, mesmo despedaçado.
Donald passou um braço forte pelas costas dela e a guiou para dentro da casa, como se temesse que um vento mais forte pudesse quebrá-la.
O cheiro da madeira antiga, do café recém-passado e do bolo de baunilha preencheu o ar, trazendo de volta lembranças de tempos mais simples, onde o único medo que conhecia era de perder a boneca preferida ou cair da bicicleta.
James entrou logo depois, mas permaneceu discretamente na sala, como um guardião silencioso. Aquele momento era de Helen e de seu pai.
Donald a fez sentar-se no velho sofá de couro, enquanto ele mesmo se ajoelhava diante dela, segurando suas mãos trêmulas com uma firmeza gentil. Helen mal conseguia sustentar o olhar, com os dedos entrelaçados no próprio colo, como se tentasse segurar os cacos do que sobrava dela.
— Me conta, filha — pediu ele, com a voz firme, mas tão gentil que fez novos soluços rasgarem a garganta de Helen.
Ela tentou falar, mas a dor a sufocava. Fechou os olhos, respirou fundo e, finalmente, deixou as palavras escaparem:
— Eu… — a voz quebrou no ar. — Eu vi, pai. Eu vi com meus próprios olhos…
As lágrimas caíram.
— Ethan e Miranda… juntos. Nus. Na cama… — ela engasgou no choro. — Garrafas de champanhe espalhadas… como se estivessem comemorando a minha dor.
Donald apertou mais forte suas mãos, transmitindo toda a força que podia oferecer.
— Você viu… — repetiu ele, com a voz carregada de algo entre dor e compreensão. — Mas o que a gente vê, nem sempre é a verdade inteira, Helen.
Ela ergueu o olhar, ferida, confusa.
— Como pode dizer isso? — sussurrou, quase em um lamento. — Eu vi, pai! Eu vi!
Donald soltou um suspiro pesado. Seu rosto parecia envelhecido pelo sofrimento da filha.
— Porque Ethan veio até aqui — disse ele, simplesmente.
Helen arregalou os olhos, o choque estampado em cada traço do rosto.
— E-Ethan?
— Sim — Donald confirmou com um leve aceno. — Ele veio. Poucos dias depois que você partiu. E conversou comigo… e com Michael.
Helen piscou, atônita.
— Com o Michael…? — repetiu, como se tentasse acreditar.
Donald soltou um riso seco.
Por um segundo eterno, o mundo inteiro pareceu sustar a respiração. Donald piscou, atordoado. Depois, sem pensar, ele puxou Helen para um abraço apertado, forte, protetor.
— Minha menina… — sussurrou, com a voz embargada pela emoção. — Minha menina vai ser mãe…
Helen chorava em seus braços, o corpo sacudido pelos soluços.
— Eu não sei o que fazer, pai — confessou, perdida.
Donald afastou-se o suficiente para olhar nos olhos dela.
— Você ainda o ama? — perguntou, com firmeza.
Helen soluçou, mas respondeu com toda a alma:
— Mais do que tudo.
O velho sorriu, com lágrimas escorrendo pela barba grisalha.
— Então talvez, filha… talvez seja hora de dar uma segunda chance. Não por você ou por Ethan, mas por essa nova vida que cresce dentro de você. — disse levando a mão até o ventre ainda pequeno da filha.
Helen fechou os olhos, sentindo o amor do pai envolvê-la como um cobertor quente contra o frio do mundo.
E ali, nos braços dele, soube:
Ainda havia esperança.
Ainda havia amor.
Ainda havia tempo.
E talvez… talvez isso fosse suficiente.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Após o Divorcio Meu Marido Se Arrependeu