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Após o Divorcio Meu Marido Se Arrependeu romance Capítulo 120

O céu daquela tarde parecia uma pintura arruinada, cinzenta, sombria, estagnada. Nenhuma brisa soprava, nenhum raio de luz conseguia atravessar o manto espesso de nuvens. Era como se o próprio mundo estivesse em suspensão, aprisionado num estado de dor muda e irreversível. E, em meio a esse cenário apocalíptico, Ethan Carter caminhava como um espectro, atravessando os corredores de mármore da empresa que outrora representava todo o seu império.

Simone, sua fiel secretária, chamou-o, com a voz carregada de preocupação:

— Senhor Carter…? Está tudo bem?

Mas Ethan não ouviu, ou , se ouviu, não respondeu. Seguiu adiante, com passos pesados, o olhar fixo no nada, ignorando também William, que tentava alcançá-lo chamando seu nome.

— Ethan! Espera! — insistiu o advogado e amigo, mas era inútil.

Ethan atravessou o saguão da empresa sem sequer olhar para os lados. A cada passo, o peso no peito parecia crescer. Havia tomado uma decisão. Uma decisão que não podia mais adiar, que queimava dentro dele como uma necessidade de sobrevivência. Ele precisava falar com Helen. Precisava lutar, mostrar que ainda a amava, que sempre a amaria, mesmo que tivesse falhado miseravelmente no passado.

“Hoje”, pensou ele enquanto dirigia pela avenida movimentada, com os olhos fixos no horizonte, “hoje eu vou dizer tudo.”

Ele ia pedir perdão de novo, ia se ajoelhar se fosse preciso. Ia prometer que seria o homem que ela merecia, que faria tudo diferente, que nunca mais a faria chorar. Porque viver sem ela… não era mais uma opção.

O caminho até a casa dos pais dela nunca pareceu tão longo e, ao mesmo tempo, tão curto. Cada batida do coração era como um tambor contra seu peito. As mãos estavam úmidas no volante, mas ele as ignorava, focado apenas no que viria.

O volante do carro deslizou sob suas mãos úmidas de suor. O trânsito parecia inexistente, as luzes da cidade passavam como vultos embaçados diante de seus olhos vazios. Dirigia no automático, guiado apenas pela agonia pela urgência em vê-la.

Helen…

Seu nome pulsava em sua mente como uma oração e uma maldição ao mesmo tempo.

Quando estacionou a alguns metros da casa, respirou fundo. Queria se preparar, queria reunir forças para enfrentá-la, para enfrentar o que quer que ela dissesse. Mas o que ele não esperava, o que nem nos seus piores pesadelos ousava imaginar ,era o que seus olhos veriam naquele instante.

A princípio, pensou que estivesse sonhando, ou que seus olhos o traíram.

Mas não.

Ali, no jardim iluminado pela luz suave do final da tarde, Helen estava com James.

O mundo pareceu congelar ao redor de Ethan.

Helen sorria de um jeito que ele não via há muito tempo, com a cabeça levemente inclinada, os cabelos balançando com a brisa, os olhos brilhando com uma paz que Ethan havia tentado tantas vezes devolver a ela… e falhado.

E então aconteceu.

James se inclinou, segurou o rosto de Helen entre as mãos e a beijou com ternura, como quem segura o bem mais precioso do mundo. E Helen… correspondeu. Sem hesitação. Sem culpa. Sem dor.

Como se, finalmente, tivesse encontrado seu lar.

Ethan não se moveu, não piscou, nem respirou, apenas sentiu.

Sentiu cada fibra do seu ser se despedaçar como vidro sob pressão. Sentiu o coração, aquele mesmo coração que sempre acreditou ser forte demais para se partir, estilhaçar de uma vez só.

Sem perceber, deu alguns passos para trás. Como se o instinto dissesse que ele não pertencia mais àquele mundo. Não àquele momento. Não a ela.

Apoiou-se no carro, com o peito arfando em busca de ar que parecia ter desaparecido. Seus olhos ardiam, mas ele se recusava a chorar. Não ali. Não agora. Entrou no carro, com as mãos trêmulas no volante, e ficou parado por alguns segundos, encarando o próprio reflexo no espelho retrovisor.

Quem ele era agora?

Quem ele se tornou para merecer isso?

Um traidor, um covarde. Um homem que deixou o amor da sua vida escorregar por entre os dedos, porque foi ingenuo, tolo, idiota.

E talvez… talvez Helen merecesse isso. Talvez merecesse alguém como James, alguém que nunca a fez chorar, que nunca traiu sua confiança, que a amava com pureza e sem reservas.

“Você merece ser feliz, Helen…” Ethan sussurrou para o próprio reflexo, sentindo as palavras arranharem sua garganta como lâminas.

Ethan fechou os olhos, sentindo o gosto salgado das lágrimas escorrendo até a boca.

Ele ainda a amava.

De um jeito tão brutal, tão absoluto, que a simples ideia de nunca mais tocá-la o fazia querer gritar até perder a voz. Mas amor, o verdadeiro amor… era também deixar ir. Mesmo que isso significasse morrer um pouco a cada dia.

Talvez essa fosse sua punição.

Viver todos os dias com a lembrança do que perdeu, com a dor de saber que era tarde demais. Que os beijos que antes eram seus agora pertenciam a outro. Que os sorrisos que antes iluminavam seus dias agora pertenciam a quem soube valorizar aquilo que ele, tolo e cego, destruiu.

As mãos de Ethan apertavam o volante com força, os nós dos dedos estavam brancos. Se pudesse voltar no tempo… Se pudesse arrancar de si mesmo cada erro, cada palavra não dita, cada momento de descuido…

Mas a vida não permitia retornos e a única coisa que lhe restava era o arrependimento.

Parou o carro em um mirante da cidade, o vento frio batendo contra seu rosto. Saiu, cambaleando como se estivesse bêbado, e se sentou na beira do gramado, encarando as luzes da cidade lá embaixo.

A cidade que parecia tão viva, tão indiferente à sua dor. Puxou uma garrafa de uísque que guardava no porta-luvas e bebeu um gole longo, sentindo o álcool queimar sua garganta como um castigo bem-vindo.

“O que somos… sem quem amamos?” ele murmurou, encarando o céu cinzento acima dele.

Ninguém respondeu.

Talvez porque a resposta fosse óbvia.

Nada.

Sem Helen, ele não era nada. Era apenas um corpo vagando por entre os vivos. E talvez… talvez merecesse isso. Talvez merecesse vagar para sempre pagando, eternamente, o preço de ter perdido o amor da sua vida. Pagando o preço de ter destruído o que de mais puro já teve.

Pagando o preço… de ter sido Ethan.

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