O céu parecia desabar sobre a cidade naquela tarde. As nuvens carregadas não choravam chuva, choravam silêncio. Um silêncio espesso, pesado, impossível de atravessar sem sentir o peito apertado.
Dentro da velha casa dos pais de Helen, no calor de um lar que tentava acalmar a dor que ela carregava, algo novo e devastador se preparava para acontecer.
Helen recuou um passo, sentindo o coração batendo forte contra as costelas, como se tentasse escapar de dentro dela. Colocou a mão espalmada no peito de James, afastando-o com delicadeza.
Não foi um gesto ríspido, foi cheio de ternura, cheio de respeito, cheio da dor que ela não queria infligir.
James entendeu assim que olhou nos olhos dela, tão tristes, tão cheios de amor por outro, soube.
— Helen… — a voz dele saiu rouca, carregada de arrependimento — Me desculpa. Eu… não deveria ter feito isso, foi um impulso estúpido.
Helen sorriu, frágil, um sorriso tão quebradiço quanto o seu próprio coração.
— Não, James — disse, apertando a mão dele com carinho. — Não foi estúpido.
Ela inspirou fundo, lutando contra as lágrimas que ardiam nos olhos.
— Eu sempre te amei — sussurrou. — Mas de um jeito diferente.
James fechou os olhos por um instante, como se digerisse o golpe com a dignidade de um homem de alma nobre.
— Como um amigo querido, não é? — completou, com a voz embargada.
Helen assentiu, sentindo o peito doer.
— Você sempre foi meu porto seguro, James. Sempre esteve aqui por mim, mas o meu coração… — ela pausou, fechando os olhos com força — O meu coração sempre foi dele.
James sorriu, triste. Passou os dedos pela bochecha dela, um toque tão leve que parecia um adeus silencioso.
— Eu entendo, Helen — murmurou. — E se algum dia ele te fizer chorar de novo… eu ainda vou estar aqui.
Helen apertou a mão dele mais uma vez, em gratidão silenciosa, antes de seus olhos se voltarem para a janela.
Foi então que viu.
Zoe, Melissa e Tânia, chegando como um vendaval alegre, carregando sacolas, rindo, chamando atenção antes mesmo de entrarem.
O coração de Helen, tão espremido de dor, aqueceu-se um pouco e ela correu para a porta para receber as amigas.
— Olha quem chegou! — exclamou Zoe, sacudindo uma sacola no ar, como se estivesse prestes a lançar confetes.
— Viemos bagunçar tudo! — riu Tânia, dando um passo para dentro da casa.
Helen abriu os braços e abraçou cada uma delas, sentindo o calor humano preencher um pouco do vazio que a consumia.
— Eu precisava tanto disso — disse ela, com a voz embargada pela emoção.
— E nós trouxemos presentes, fofocas, babados e… — Melissa ergueu um saquinho de doces — …açúcar para levantar seu astral!
As três entraram tagarelando, espalhando uma energia viva que contrastava com o peso que antes pairava no ambiente.
Tânia, sempre atenta, olhou para o jardim, onde James ajeitava a manga da camisa, pronto para partir.
— E aquele ali? — perguntou, com uma sobrancelha arqueada e um sorriso maroto. — Um gatinho, hein?
Helen riu, balançando a cabeça.
— Apenas conversávamos — disse, mas um leve rubor traía suas emoções confusas.
Zoe, claro, não perdoou.
— Conversando, é? Porque de onde eu vi, parecia um papo bem animado…
Todas riram, e Helen também, sentia pela primeira vez em muito tempo algo semelhante à felicidade. Por um instante, pensou que talvez estivesse começando a reconstruir.
Entre bolachas abertas, chá servido, e comentários sobre as últimas aventuras de Melissa na academia, a tensão se dissolveu um pouco mais. Até que Helen, mordendo o lábio com hesitação, lançou a pergunta que martelava em sua mente.
— Zoe… — chamou, com a voz baixa — Como está o Ethan?
O ambiente mudou de imediato.
O riso morreu.
Tânia parou de mastigar.
Melissa endireitou-se na cadeira.
Zoe respirou fundo.
— Destruído — respondeu, sem rodeios.
Helen baixou os olhos, apertando as mãos no colo.
— O papai comentou que ele esteve aqui — disse, tentando manter a voz firme.
Melissa soltou uma risada amarga.
— Esteve sim. E não só aqui. Levou uma surra do Michael. — Disse, sacudindo a cabeça como se ainda não acreditasse. — Mas ficou de pé. Todo arrebentado, gritando que ainda te amava.
Helen sentiu uma fisgada no peito. A imagem de Ethan machucado, mas irredutível, cravou-se em sua mente. Tânia percebeu e tocou sua mão.
— Amiga… — disse com doçura — Ouve ele. Pelo menos uma vez, você merece respostas.
Helen mordeu o lábio, hesitante.
— Não é tão simples…
Zoe se inclinou, com os olhos brilhando de urgência.
Mas o destino, cruel e impiedoso, não permitiria que aquele momento durasse.
O telefone de Zoe tocou e todas ainda agitadas com a noticia e Zoe atendeu, ainda sorrindo.
— Alô?
— Zoe Carter?
— Sim — respondeu, com a voz alegre.
— Aqui é do Hospital Central. Seu irmão, Ethan Carter, deu entrada agora no pronto-socorro. Ele está em estado grave.
O chão pareceu desaparecer sob seus pés.
— O quê?! — gritou Zoe, pálida.
Helen sentiu a alma se desprender do corpo. Melissa e Tânia se aproximaram de Zoe, tentando entender.
— Ele sofreu um acidente de carro. Capotou várias vezes. — continuou a voz grave do outro lado da linha. — O estado dele é crítico.
Zoe deixou o celular cair no sofá todas encararam a amiga assustadas, mas Helen sentiu que algo muito ruim tinha acontecido, foi quando encarou a cunhada nos olhos e mesmo com medo, perguntou:
— Zoe o que….
— Precisamos de um familiar no hospital — completou a enfermeira, ainda na linha, enquanto Melissa apanhava o telefone caído.
Zoe pegou de volta, lutando para manter a voz firme.
— Estamos a caminho! — disse, antes de desligar.
Ela olhou para Helen.
— É o Ethan… — sua voz falhou. — Ele sofreu um acidente e pode…
Helen caiu de joelhos no chão. O desespero era absoluto, o grito que saiu da sua garganta foi primitivo, cortante.
— NÃO!
Melissa e Tânia se ajoelharam ao lado dela, segurando-a, enquanto Zoe tentava organizar tudo, chorando.
— Vamos agora! — gritou Zoe.
Helen mal conseguia se levantar, suas pernas não obedeciam, o corpo dela inteiro tremia, mas dentro do seu peito, o amor por Ethan explodia, feroz.
Ela precisava vê-lo, precisava lutar por eles, antes que fosse tarde demais. Antes que o destino cruel lhe roubasse a única pessoa que ela jamais conseguiu esquecer.
O seu único e verdadeiro amor..

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