A noite tinha engolido a cidade como um predador silencioso.
No céu, nenhuma estrela ousava brilhar. As sirenes da ambulância cortavam o ar pesado, trazendo consigo a trilha sonora do desespero.
Dentro da ambulância, os paramédicos lutavam contra o tempo e a morte.
— Pressão 60 por 40! Frequência cardíaca caindo! — gritou a técnica de enfermagem, pressionando o sensor do monitor cardíaco com força.
— Trauma craniano! Fratura exposta no úmero esquerdo! Suspeita de hemorragia interna! — outro paramédico relatava ao rádio, comunicando o hospital.
O corpo de Ethan Carter estava coberto de sangue. O rosto, parcialmente oculto pela máscara de oxigênio, tinha cortes profundos. O peito subia e descia em um esforço desesperado. A mão esquerda, grotescamente virada para o lado oposto, pendia sem vida.
O carro, ao capotar, havia transformado sua estrutura em sucata e o corpo de Ethan sofreu cada impacto como se fosse uma boneca de trapo.
— Vamos, Carter… — murmurou o paramédico, ajustando a ventilação. — Aguenta firme.
Quando a ambulância finalmente guinou para dentro do pátio do hospital, a equipe de trauma já aguardava.
Assim que a maca atravessou as portas de emergência, os gritos ecoaram:
— CÓDIGO VERMELHO! CÓDIGO VERMELHO!
***
Minutos antes, Zoe, Melissa e Tânia saltaram do táxi ainda em movimento.
Helen vinha logo atrás, com o rosto branco como papel. O coração dela batia de forma tão dolorosa que parecia querer rasgar seu peito de dentro para fora. Elas correram pelos corredores, derrubando papéis, bolsas, arrastando olhares preocupados dos funcionários do hospital.
— EU SOU A HELEN BENNETT CARTER! — gritou Helen para a recepcionista, com a voz trêmula e desesperada. — ACIDENTE DE CARRO! PRECISO VER ETHAN CARTER!
A recepcionista levantou-se de imediato, reconhecendo o pânico legítimo.
— Senhora, por favor, mantenha a calma… — tentou orientar, mas Helen já tremia da cabeça aos pés.
— Ele está na ala de trauma! — informou outra enfermeira, surgindo apressada. — Está em procedimento emergencial!
Zoe segurou Helen antes que ela desabasse no chão.
— Eles estão lutando por ele, Helen — sussurrou no ouvido dela, a voz embargada. — Mas você precisa ser forte agora.
Helen assentiu com dificuldade, com as pernas vacilando a cada passo. Melissa e Tânia se entreolharam, silenciosamente, oferecendo apoio.
O grupo foi encaminhado para a sala de espera cirúrgica, onde as paredes brancas pareciam zombar da agonia silenciosa que preenchia o ambiente.
Enquanto isso, no centro cirúrgico, o drama atingia seu ápice.
— Está entrando em choque hipovolêmico! — gritou a cirurgiã principal.
— Pressão abaixo de 50 por 30! Saturação em queda! — relatou o anestesista.
O monitor cardíaco começou a apitar irregularmente.
— Estamos perdendo ele! — anunciou uma enfermeira.
Sem hesitar, o médico-chefe gritou:
— Iniciar protocolo de reanimação! Dois miligramas de adrenalina, via intravenosa, agora!
A equipe médica correu.
Seringas foram preparadas em segundos.
O desfibrilador foi trazido às pressas.
— Carga a 200 joules! — ordenou o médico.
As pás foram posicionadas no peito ensanguentado de Ethan.
— Afastem-se!
— Choque!
O corpo dele se arqueou violentamente na maca.
O monitor voltou a apitar.
Ainda sem ritmo organizado.
— De novo! Carga a 300! Afastem-se!
— Choque!
Mais uma vez, o corpo de Ethan se contorceu.
O tempo parecia parar.
A tensão era palpável, sufocante.
Helen, Zoe, Melissa e Tânia aguardavam sem saber que, naquele momento, a vida de Ethan pendia por um fio tão fino quanto o último suspiro.
Mas todos sabiam que a batalha estava longe de terminar.
O corredor da UTI parecia um purgatório. As paredes brancas, o cheiro estéril, o silêncio interrompido apenas pelo som distante dos monitores cardíacos.
Helen se mantinha de pé à força, as mãos trêmulas e o coração esmagado sob o peso da dor. Do outro lado daquela porta, Ethan Carter, o homem que tinha sido sua ruína e sua redenção, lutava para sobreviver.
Ela sentia cada segundo como uma facada invisível. Estava com medo do que iria ver, mas precisava ser forte, por ela e pelo filho que carregava dentro do seu ventre.
Foi então que a porta se abriu, e o médico que liderava o procedimento apareceu na sala de espera, o jaleco estava sujo de sangue, o rosto exausto, ele surgiu com uma prancheta nas mãos.
— Familiares de Ethan Carter?
— Aqui doutor.
Helen foi a primeira a se levantar, cambaleando seguida de Zoe que quase desfaleceu.
— Sou… sou a esposa dele — disse, com a voz quase inaudível. — e essa a irmã.
O médico respirou fundo.
— Ethan Carter passou por uma cirurgia de emergência — informou. — Ele sofreu múltiplas fraturas e traumatismo craniano.
Helen levou a mão à boca, sufocando um soluço.
— Devido a perda maciça de sangue, ele sofreu uma parada cardíaca durante o procedimento — continuou o médico. — Mas conseguimos reanimá-lo. Está entubado, sedado, em ventilação mecânica. O cérebro dele está inchado por conta da pancada e por isso, devemos manter ele monitorado.
Helen sentiu as pernas cederem. Zoe segurou-a antes que caísse.
— Ele vai sobreviver? — perguntou, com a voz embargada.
O médico hesitou.
— As próximas 24 horas serão cruciais, quanto a perda volêmica, conseguimos reverter, agora precisamos deixar esse cérebro desinchar para sabermos de fato se ele sofreu algum dano mais grave. Estamos fazendo tudo o que é possível. Agora, o corpo dele precisa reagir. As próximas 24 horas são determinantes.
Helen engoliu o choro, assentindo.
— Eu posso vê-lo?
O médico assentiu, com gentileza.
— Por alguns minutos. — concedeu a médico. — Mas esteja preparada. Ele está muito machucado. E ainda entubado.
Helen assentiu, engolindo o choro que ameaçava sufocá-la.

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