A tempestade que caía lá fora era apenas uma metáfora pálida para o furacão que girava dentro dela.
Miranda caminhava sob a chuva fina, os cabelos molhados colando na pele, o batom borrado nos lábios trêmulos. As mãos agarravam com força a bolsa de couro, como se fosse a última âncora de sanidade que ainda possuía. Mas já não era. Ela havia perdido isso muito antes… quando Helen entrou na vida de todos e tirou tudo o que era seu.
O salto batia com raiva contra a calçada, cada passo mais descompassado que o anterior. Ao chegar à porta da casa de James, nem pensou em bater. Ela sabia que ele deixava destrancada. A confiança dele era a sua arma.
Entrou.
— James? — chamou, a voz rouca, desesperada. — Sou eu… Miranda.
Ele estava na sala, o copo de uísque nas mãos, os olhos cravados na lareira acesa. A luz laranja dançava sobre os contornos frios do rosto dele. Sem virar, respondeu:
— O que você quer aqui?
Ela fechou a porta, deixando a água pingar de sua roupa no chão de madeira. Tirou o casaco, revelando o vestido colado ao corpo, preto, decotado, impróprio para um dia frio. Caminhou até ele com movimentos lentos, estudados e sedutores.
— Eu precisava te ver. — respondeu, a voz embargada. — Precisava te lembrar do que existiu entre nós.
— Não existiu nada entre nós. — disse ele, agora encarando-a.
Ela se aproximou mais, os olhos vidrados, o sorriso trêmulo.
— James… — sussurrou, tirando os sapatos com um movimento quase teatral. — Eu sei que você sente minha falta. Eu sei. Você pode negar, mas eu te conheço. Sabe do que mais sinto falta? — perguntou, aproximando-se do sofá. — Do jeito que você me olhava… do jeito que sua voz dizia meu nome quando me queria…
James ergueu uma sobrancelha, sem mover o corpo.
— Você enlouqueceu de vez?
Miranda riu, mas o som saiu quebrado, nervoso. Ela passou a mão nos cabelos molhados, jogando-os para trás, e desabotoou lentamente os dois primeiros botões do vestido.
— Me diz que não sente nada. Me olha e diz que não lembra de quando a gente quase…
— Não houve “quase”, Miranda. Você se iludiu sozinha. — respondeu ele, seco.
— Não minta pra mim! — gritou, com um olhar ofendido. — Você me usou! Me deixou acreditar que havia algo! Eu entreguei tudo por você!
Ela se aproximou ainda mais e, sem aviso, desceu o zíper do vestido, deixando-o escorregar pelos ombros e cair até a cintura. Estava sem sutiã.
— Olha pra mim, James. — sussurrou, com os olhos arregalados, o peito arfando. — Você vai mesmo negar que já me desejou?
Ele se levantou com um suspiro impaciente, o olhar enojado cravado nela.
— Isso é patético, Miranda. Você precisa de ajuda.
Ela avançou, agarrando a camisa dele com as mãos trêmulas.
— Você é meu, James! Sempre foi! A Helen… aquela vadia nunca te mereceu!
James a segurou pelos pulsos e a afastou com firmeza.
— Você não é vítima, Miranda. Você é o próprio veneno. E a pior parte? Você acha que ainda pode ser amada… quando tudo que sabe oferecer é caos.
Ela chorava copiosamente agora. Mas não era dor. Era fúria. A boca tremia, os olhos estavam vermelhos, a maquiagem borrada como máscara de um palhaço trágico.
— Eu vou destruir vocês dois. — sussurrou. — Você e a Helen. E sabe por quê? Porque se eu não posso ter você… ninguém mais vai. Nem aquele idiota do Ethan.
James a segurou com força pelo braço e a conduziu até a porta.
— Tente encostar nela, Miranda, e eu mesmo vou garantir que você acabe atrás das grades. — rosnou. — Agora saia. Antes que eu perca a paciência.
Ela se desvencilhou, puxando o vestido com movimentos bruscos.
— Você vai se arrepender, James. — disse, os olhos fixos nos dele. — Vai sonhar com o que jogou fora. Vai me implorar um dia. Vai lembrar desse corpo que agora você rejeita!
— O único pesadelo que eu tive foi não ter me livrado de você antes. — respondeu ele.
Ela saiu aos tropeços, batendo a porta com tanta força que os quadros da sala estremeceram. Do lado de fora, a chuva engrossava. O trovão rugiu, como se o céu confirmasse a loucura que acabara de deixar aquela casa.
James ficou parado por um momento, respirando com dificuldade. Depois serviu outra dose de uísque e sentou-se, sentindo um alívio estranho, misturado com o cansaço de quem finalmente enterrou um demônio.
Porque Miranda não era mais um erro do passado.
Era agora… uma ameaça.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Após o Divorcio Meu Marido Se Arrependeu