A porta se fechou atrás dela com um estrondo que ressoou como o próprio fim do mundo. O vestido molhado colava ao corpo, pesado como a humilhação que a corroía por dentro. A maquiagem desfeita escorria pelo rosto em linhas tortas, transformando Miranda em um retrato grotesco de dor e fúria.
Ela cambaleou até o carro, jogando-se no banco do motorista com um grito sufocado. Bateu no volante com força, uma, duas, três vezes, até os nós dos dedos ficarem vermelhos. A raiva explodia dentro dela como fogo preso, e o nome de Helen se repetia em sua cabeça como uma maldição.
— Helen… Helen… Helen… — sussurrava, com os dentes cerrados. — Sempre ela. Sempre a maldita Helen.
Ligou o carro em um movimento abrupto, quase atropelando um ciclista que desviou a tempo, xingando alto. Ela nem ouviu. Os olhos estavam fixos na estrada, mas o destino não importava. Podia ser o inferno. Desde que ela arrastasse Helen com ela, valeria a pena.
Parou horas depois em frente ao prédio antigo onde morava. Entrou sem cumprimentar o porteiro, subiu as escadas feito uma alma penada e trancou-se em seu apartamento. Jogou a bolsa contra a parede e arrancou o vestido molhado com violência, como se ele também tivesse traído suas expectativas.
No espelho do banheiro, viu seu reflexo… e odiou o que viu. A mulher diante dela não era bonita. Não era desejada. Era patética, rejeitada, ignorada. E o pior: não era Helen.
Socou o espelho com força. O vidro rachou, cortando-lhe o dorso da mão. O sangue escorreu entre os dedos, mas ela não pareceu sentir dor. Ao contrário… sorriu.
— Você vai pagar, Helen. — sussurrou. — Cada maldita lágrima que eu derramei… cada segundo que me senti invisível… tudo vai voltar pra você. Em dobro.
Caminhou pela sala escura, como uma sombra. Ligou o abajur e abriu uma das gavetas da estante. De lá, tirou uma pasta. Grossa. Preenchida com fotos, recortes, documentos, anotações. Um verdadeiro dossiê.
Helen sorrindo com Ethan em eventos. Helen abraçando o pai. Helen na porta do hospital. Helen com James. Helen de costas, saindo de um carro. Fotos tiradas à distância, com lentes de longo alcance. Outras hackeadas, obtidas por meios ilegais. E no centro de tudo, colada com fita preta, uma foto de Helen sozinha, linda, serena, alheia à escuridão que a observava.
— Você não é especial, sabia? — disse Miranda para a foto, ajoelhada no chão como se prestasse culto a um altar profano. — Você só teve sorte. Sorte de ser notada. Sorte de ser escolhida. Eu é que merecia tudo isso. Eu é que deveria estar com Ethan. Ou com James. Eu me esforcei. Você… só existiu. E foi o suficiente.
Ela puxou o celular e abriu um aplicativo oculto, digitando uma senha longa.
— Vamos ver se a princesinha continua com o mesmo número… — murmurou.
Na tela, abriu-se uma lista de mensagens. Algumas recentes. Outras antigas. Todas enviadas de números anônimos. Ameaças, provocações, mentiras cuidadosamente elaboradas. Era assim que Miranda agia: plantando a dúvida. Envenenando os sentimentos alheios como quem espalha perfume.
Releu algumas mensagens que havia enviado para Ethan, disfarçada de “fonte confiável”. Mensagens que o fizeram desconfiar de Helen. Outras que enviou para James, usando fotos forjadas, tentando romper laços. Um jogo sujo que ela adorava.
— Mas nada disso foi o suficiente, né? — falou sozinha, passando a mão ensanguentada no cabelo. — Agora… agora vai ser diferente.
Levantou-se e foi até o armário. Pegou uma caixa de madeira antiga. Dentro, uma coleção de objetos: um colar antigo de Helen que ela havia roubado anos atrás durante uma festa. Um lenço com o perfume da rival. Um brinco quebrado que ela afirmava ter pegado “sem querer”. Tinha até uma escova com fios de cabelo.
— Todo altar precisa de relíquias. — murmurou, rindo baixinho.
Ela levantou, pegou a chave do antigo depósito que alugava há meses e onde guardava objetos diversos que não usava mais. Mas que, agora, pareciam perfeitamente úteis.
Roupas, identidades falsas, equipamentos de vigilância, microfones. Tudo montado ao longo de anos de paranoia e obsessão. Ela nunca confiou que seria amada, então construiu alternativas. E agora, cada peça daquele quebra-cabeça distorcido teria um novo uso: destruir Helen.
— O que me resta? — perguntou-se em voz alta, olhando para o teto. — Se não sou amada… que pelo menos eu seja temida.
Riu alto, um riso histérico, fora de tom. Depois caiu de joelhos, exausta, mas ainda rindo.
— Você me destruiu, James. Mas eu vou fazer pior. Eu vou destruir tudo o que você ama. E vou começar pela sua redentora.
Levantou-se cambaleante. Limpou o sangue da mão na saia rasgada. Foi até o banheiro e encarou de novo o espelho rachado.
— Você está linda, Miranda. — disse para o próprio reflexo. — Linda o suficiente para assustar um anjo.
O espelho refletia mais do que uma mulher desequilibrada. Refletia uma sombra.
E quando uma sombra decide se mover por vingança… não há luz que a detenha.

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