O nome de James Foster pairou no ar como uma rajada fria de vento em uma manhã de verão. Assim que Simone o pronunciou, o clima mudou. Ethan, que até então sorria entre uma planilha e um pensamento sobre Helen, ficou imediatamente sério. A expressão leve deu lugar à rigidez de um homem que carregava o peso de muitas cicatrizes e muitas histórias.
— Pode mandar entrar, Simone. — disse ele, com a voz baixa, firme.
A secretária assentiu e desapareceu pelo corredor. Liam, encostado à estante com uma xícara de café meio esquecida nas mãos, arqueou uma sobrancelha.
— O que será que o James quer?
Ethan não desviou o olhar da porta. Sua voz soou seca.
— Vamos descobrir.
A espera durou menos de trinta segundos, mas foi o suficiente para a sala mergulhar em um silêncio denso, interrompido apenas pelo som discreto do elevador mais ao fundo.
A porta da presidência se abriu suavemente, e James surgiu.
Elegante como sempre, o terno bem cortado, cabelo arrumado com aquele ar negligente que só os naturalmente charmosos conseguiam manter. Mas o que realmente chamava atenção era seu olhar. Algo ali estava tenso, sombrio, quase preocupado demais para uma visita casual.
Ethan se levantou imediatamente, atravessando a sala e estendendo a mão.
— James.
— Ethan. — James assentiu e apertou sua mão com firmeza. — Que bom ver você de volta. E inteiro, pra variar.
Ethan esboçou um meio sorriso.
— Eu sou como um bom uísque, James. Quanto mais quebrado, mais valioso fico.
Liam riu ao fundo, mas James só abanou a cabeça, divertidamente.
— Se você fosse um uísque, Carter, teria 90% de álcool e causaria coma etílico em meia dose.
— Por isso sou perigoso — rebateu Ethan, já gesticulando para que ele se sentasse. — Vamos conversar.
James se acomodou na poltrona diante da mesa de carvalho. Seus olhos vagaram pelo ambiente como se procurassem traços da antiga versão de Ethan, o homem duro, distante, blindado contra qualquer sentimento. Mas o que encontrou ali foi outro homem: ainda poderoso, mas agora com algo a mais, algo suave no olhar. Algo… humano.
— E a Helen? — James perguntou, direto, sincero.
Ethan se recostou na cadeira, cruzando as mãos diante do corpo. O sorriso que escapou foi o de um homem irremediavelmente apaixonado.
— Está bem. Linda, ranzinza, teimosa… e mais minha do que nunca. — suspirou. — Acho que, finalmente, nos encontramos de verdade. Dessa vez… é diferente.
James sorriu, mas havia um toque de melancolia nos olhos.
— Fico feliz, cara. De verdade. Vocês dois sempre pareceram feitos um para o outro. Era só uma questão de tempo pra isso acontecer.
Ethan o encarou por alguns segundos, os olhos escurecendo um pouco. Quando falou, sua voz veio mais baixa.
— Obrigado… por ser fiel a ela desde sempre. — Ele hesitou. — Você sabe que ela ama você, não sabe?
James desviou os olhos, e o silêncio caiu como um véu. Por fim, ele falou, rouco.
— Sei. Mas não da maneira que eu gostaria. — Um meio sorriso triste curvou seus lábios. — Sempre foi você, Ethan. Sempre foi o seu nome que ela dizia no meio do choro. Seu rosto que ela buscava quando estava perdida. Eu só… estive ali.
Ethan engoliu seco. Aquela era uma dor que respeitava.
— Mesmo assim, cara… obrigado. — disse. — Eu sei que não foi fácil pra você. Ainda mais com toda a merda que aconteceu.
James deu de ombros.
— Coração não tem botão de desligar. Mas… respeito é escolha. E eu escolhi respeitar. Ela… merece isso. Você também.
Liam, até então quieto, observava a cena com atenção. Havia algo poderoso naquele momento: dois homens diferentes, unidos pela mesma mulher e pelo desejo genuíno de protegê-la.
James respirou fundo, como se precisasse mudar o rumo da conversa.
— Mas, mais do que uma promessa… eu vim aqui por outro motivo.
Ethan franziu a testa. Liam se ajeitou na poltrona.
— A Miranda esteve no meu apartamento. — James disse, firme.
O nome foi como um estalo seco dentro da sala. Ethan se enrijeceu, a mandíbula trincada.
— Miranda… — repetiu com a voz baixa, carregada de raiva contida.
— Ela está fora de controle, Ethan. Apareceu de madrugada, chorando, rindo, surtando. Disse coisas absurdas, incoerentes. Está instável… perigosa.
— E o que ela quer agora?
James hesitou.
— Disse que não vai permitir que você e a Helen fiquem juntos. Que vai destruir tudo. Ela falou com um ódio que… me arrepiou. Está obcecada. Doente.
Ethan se levantou tão bruscamente que a cadeira girou levemente para trás. Seus punhos se fecharam com força, os olhos faiscando.
— Ela que não ouse tocar na minha mulher ou no meu filho! — rosnou. — James, eu juro por tudo que é sagrado… por muito pouco eu não parti pra cima daquela mulher no dia que ela armou toda aquela palhaçada. Mas se ela aparecer de novo, se ela ameaçar a minha família… não sei se me contenho outra vez.
— E nem deveria — respondeu James, sério. — Se ela tentar algo, vai ter que passar por mim também.
Houve uma pausa. Longa e intensa. Os dois homens se encararam como soldados selando um pacto silencioso.
Liam gargalhou alto.
— Vocês dois são ridículos. Vão acabar abrindo uma sociedade para proteger a Helen. “Carter & Foster: Segurança Emocional e Surra Garantida”.
Ethan riu.
— Se fosse pra proteger ela… eu abriria até um convento.
— E enfiava ela lá dentro? — questionou James, rindo.
— Claro que não. Eu ia morar lá com ela. E detalhe Foster, ela me disse que vai convidar você para ser o padrinho do bebê.
James sorriu largo e foi a vez de Liam falar.
— Deus, por favor, que venha um menino, senão essa garota vai sofrer!
— Cala a boca, Liam — disseram os dois ao mesmo tempo, arrancando mais gargalhadas.
A tensão se dissipou. Por um momento, a sala estava leve outra vez. Mas todos ali sabiam que aquilo era só a calmaria antes de uma possível tempestade.
Porque Miranda ainda estava à solta… e ninguém sabia até onde ela estava disposta a ir.
Mas se havia uma coisa que Ethan Carter tinha certeza agora, era que protegeria Helen com tudo o que tinha. Com a vida, se fosse necessário.
E que ninguém, absolutamente ninguém, tiraria dele a chance de ser o pai daquele bebê… e o homem que Helen sempre mereceu.
E naquele exato momento, enquanto os três riam brevemente como velhos amigos, o celular de Ethan vibrou sobre a mesa.
Era uma mensagem de Helen.
“Ei, chatinho. Adivinha quem acabou de comer três cupcakes e ainda está querendo pão de queijo? Você está mimando demais essa grávida aqui.”
Ethan sorriu, encarando a tela por um segundo antes de responder:
“Você merece muito mais que isso. E quando eu chegar em casa… vai ter muito mais dengo.”
Ele guardou o celular no bolso e olhou para James e Liam.
— Hora de ir pra casa.
E então, com o coração cheio, mas o instinto em alerta, Ethan Carter se preparou para viver o próximo capítulo da sua vida. Mais forte. Mais inteiro. Mais apaixonado do que nunca.
E disposto a tudo para proteger o que era dele.

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