O céu de fim de tarde estava coberto por nuvens pesadas, tão cinzentas quanto a alma de Miranda. Dentro do carro parado do outro lado da rua, ela observava a entrada principal do prédio empresarial com olhos fixos e selvagens. Os dedos batucavam no volante com impaciência. O rádio e o ar condicionado estavam desligados e o silêncio, quase absoluto, era cortado apenas pela respiração irregular que escapava de seus lábios entreabertos.
Foi então que os viu.
A porta giratória abriu, e Ethan saiu primeiro. Alto, sorridente, impecavelmente vestido. A camisa branca dobrada nos cotovelos, o paletó pendurado despreocupadamente no ombro. Atrás dele, James. Os dois riam de algo que pareciam ter acabado de comentar. Era uma cumplicidade tranquila, descontraída. Um tipo de irmandade que Miranda nunca viu antes entre os dois.
Eles trocaram um soquinho de mãos e continuaram andando lado a lado pela calçada. Ethan dizia algo com empolgação, e James balançava a cabeça, rindo. Dois homens diferentes, mas com algo em comum: o amor pela mesma mulher.
Helen.
Miranda cerrou os dentes, sentindo o estômago virar. O sangue ferveu nas veias como ácido prestes a transbordar.
— Claro… — sussurrou, com um riso amargo. — É isso, né? Amiguinhos agora? Um foi rejeitado, o outro foi perdoado. E os dois babando pela mesma santa.
Apertou o volante com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. O coração batia forte, dolorido. Não era apenas raiva. Era ressentimento em estado puro. Um ressentimento que ardia com a força de quem foi ignorada por todos e chutada por aquele que jurou amar.
Ela fechou os olhos por um segundo e a cena voltou como um soco: James diante dela, frio, distante, lançando palavras como lâminas que cortavam sem piedade.
“ Tenho nojo de você.”
“ Isso não é amor. É doença.”
Ela saiu da casa dele naquele dia em farrapos. Por dentro e por fora, as roupas coladas ao corpo pela chuva, os olhos em chamas, a dignidade em cacos. O caminho até o carro foi o trajeto mais humilhante de sua vida. E agora, ver James e Ethan sorrindo, agindo como se o mundo estivesse em perfeita ordem, era o ápice da provocação.
E o mais insuportável de tudo?
Helen.
Sempre ela. A mulher que parecia um ímã para todos os afetos. A que era amada até mesmo quando errava. A que tinha Ethan de volta, James como guardião, amigos, família, estabilidade. Um lar. Um futuro.
Um bebê.
Miranda bufou, passando a língua pelos dentes, com um brilho perturbador nos olhos.
— Isso não é justo. — murmurou. — Ela não pode ter tudo. Ela não merece tudo isso.
E foi ali, naquele instante, com os olhos ainda grudados nos dois homens que se afastavam pelo calçadão, que a ideia surgiu. Silenciosa, rasteira. Uma semente de algo obscuro que brotou no fundo da mente e se espalhou com rapidez.

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