O silêncio da manhã era acolhedor, como se o apartamento inteiro tivesse decidido protegê-la por mais algumas horas. As cortinas deixavam entrar faixas suaves de luz dourada, que atravessavam o ar como braços de um sol cuidadoso. O aroma do chá recém-feito preenchia o ambiente com calma, como se dissesse: você está segura, por enquanto.
Helen despertou devagar. O peso no peito ainda estava ali, como um animal adormecido que podia acordar a qualquer momento. Os cílios tremeram antes de abrir os olhos, e por um instante ela ficou ali, em silêncio, ouvindo o mundo.
Ao lado da cama, sobre o criado-mudo, havia uma xícara fumegante, um livro com uma pétala marcando a página, e… uma presença.
— Katerina? — murmurou, com a voz áspera do sono.
A mulher elegante à poltrona levantou os olhos do livro, oferecendo-lhe aquele sorriso que carregava séculos de sabedoria e ternura.
— Bom dia, querida. — disse, fechando o exemplar com delicadeza. — Dormiu por quase doze horas. E graças a Deus, está bem.
Helen sentou-se devagar, o corpo ainda trêmulo. A lembrança da caixa voltava como um sussurro — os olhos perfurados, o cheiro de sangue seco, o bilhete cravado na gola da roupinha.
— O bebê está bem? — perguntou, com a respiração presa.
— Está ótimo. O médico veio assim que você chegou. Batimentos fortes. Apenas repouso. Ethan fez questão que você ficasse aqui, onde ele sabia que estaria protegida.
Helen olhou em volta, respirando o aroma de lavanda, sentindo o vento entrar pelas janelas abertas. Por um momento, imaginou que aquilo tudo fosse um pesadelo. Mas não era.
— E o Ethan? — perguntou, apertando os lençóis.
Katerina se aproximou, sentando-se na beira da cama. Segurou a mão da nora com delicadeza.
— Ele, Liam e James tiveram que sair cedo para uma reunião de negócios. Investidores, uma coisa de última hora.
Mentira. Mas uma mentira piedosa.
— Entendo. — Helen murmurou, assentindo, embora sentisse o coração apertar.
— Ele vai voltar logo. E até lá… você tem a mim. — disse Katerina, acariciando seu rosto. — E claro… a louca da Zoe.
Como invocada pelo nome, Zoe entrou no quarto com um pote de frutas e uma expressão debochada no rosto.
— A princesa da tragédia acordou!
— Zoe… — Helen murmurou, já sorrindo. — Não começa.
— “Não começa”, ela diz… depois de dormir feito uma rainha e ter um batalhão de guarda-costas vigiando cada canto desse apartamento. Se isso aqui não for luxo, eu não sei o que é.
— Zoe não incomode Helen. Minha querida, vou preparar alguma coisa gostosa para você e o netinho da vovó comer. — Helen sorriu. — E Zoe, se comporte!
— Tudo bem general minha mãe!
Zoe jogou-se na cama como se tivesse nascido ali, equilibrando o pote de frutas e uma colher.
— Fiz questão de cortar os morangos em forma de coração. Mas comi a maioria no caminho. Desculpa. O amor só foi até a metade.
Helen riu, e aquela risada, ainda tímida, foi um bálsamo para as duas mulheres à sua volta.
— Eu vou chorar. — disse Helen. — E não é pelos hormônios. É por vocês mesmo.
— A gente é insuportável, eu sei. — Zoe respondeu. — Mas a parte boa é que você me ama mesmo assim.
— Amo você desde que me chamou de “sapatênis ambulante” no meu primeiro dia na empresa.
— E eu estava certa! Aquele sapato… pelo amor de Deus, Helen! — Zoe apontou como se fosse um trauma. — Mas olha só agora: minha cunhada ta gravida, com uma pele radiante, um marido CEO babando por ela e ainda por cima carregando um mini Carter no ventre. Amiga… você venceu.
Helen sorriu, encostando a cabeça no travesseiro.


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