James não voltou direto para casa. Não conseguia. A imagem daquele quarto, as fotos, as palavras de ódio, as juras perturbadoras, girava em sua cabeça como um pesadelo do qual não podia acordar. Ele sabia que precisava contar a Ethan e esse encontro não podia esperar. Telefonou para o amigo e disse que estava indo até a sua casa. Discou também para Liam e pediu que se encontrasse com ele na casa de Ethan.
Era noite quando estacionou em frente ao prédio de Ethan. Não precisou ser anunciado, subiu até a cobertura sentindo ainda todo o peso das descobertas recentes. Por Deus, o que tinha acontecido com Miranda?
O corredor estava mergulhado em penumbra, com poucas luzes acesas e um silêncio que, naquela noite, parecia ainda mais espesso. Ele tocou a campainha e foi Liam quem atendeu, abrindo a porta com o cenho franzido.
— Vamos, ele está no escritório. Está te esperando — disse, direto, como se já soubesse que algo grande vinha por aí.
— E Helen?
— Dormindo.
James apenas assentiu e entrou. Seus passos ecoaram no chão de mármore até o corredor lateral, onde a porta do escritório estava entreaberta. Lá dentro, Ethan estava de pé, de costas para a porta, segurando um copo de uísque com a mão esquerda. Parecia tenso, os ombros rígidos, o olhar perdido na lareira acesa à frente.
— Eu fui até a casa dela. — A voz de James cortou o ar.
Ethan se virou imediatamente. O olhar encontrou o do amigo e, em segundos, ele soube que a visita não havia sido em vão.
— E então? — perguntou, colocando o copo sobre a mesa com firmeza.
James entrou e fechou a porta atrás de si.
— A mãe dela me reconheceu na hora. Antes que eu dissesse qualquer coisa, ela soltou: “O que minha filha fez dessa vez?”
Ethan franziu o cenho, inquieto.
— Ela te deixou entrar?
— Sim. E me mostrou algo que… cara, eu nunca imaginei.
James respirou fundo, tirou o celular do bolso e entregou para Ethan. As imagens apareciam uma a uma na tela: o quarto, as paredes forradas de fotos, os textos escritos embaixo da imagem de Helen.
Ethan não disse nada. A mandíbula trincou. Os olhos escureceram.
James continuou:
— Ela passou seis meses internada depois da formatura. A mãe achou que isso tinha ajudado. Achou que ela estava bem. E agora, Ethan… ela está pior.
Ethan largou o celular sobre a mesa, tentando controlar a respiração.
— Ela não está apenas com raiva. Ela está doente — disse, com a voz grave. — E obcecada.
James assentiu.
— Obcecada por mim, por você e com um ódio inexplicável por Helen.
Houve um longo silêncio entre eles. Então, Ethan ergueu os olhos.
— Tem algo que eu não te contei ainda.
James o encarou.
— O quê?
Ethan se afastou da mesa, foi até o bar e encheu novamente o copo. Mas não bebeu. Apenas segurou o cristal entre os dedos.
— Dois dias atrás, recebi um telefonema anônimo.


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