O relógio marcava 21h58 quando Ethan e James estacionaram o carro em frente ao antigo galpão da zona industrial. O lugar era um cemitério de concreto e ferrugem, esquecido pelos anos, com placas caídas, janelas quebradas e uma sensação de abandono que arrepiava a pele.
O vento frio cortava a pele, e o silêncio ao redor parecia ensurdecedor.
Ambos desceram do carro em silêncio, vestidos com roupas escuras. Ethan carregava no olhar a fúria silenciosa de um homem que já perdera demais. James, ao seu lado, estava alerta, tenso, com os olhos atentos a cada sombra.
— Estamos mesmo sozinhos? — murmurou James, enquanto se aproximavam da porta lateral do galpão.
Ethan fez um gesto com a cabeça. Liam estava em contato, monitorando à distância. Tudo estava pronto, mas ninguém sabia o que esperar.
Eles empurraram a porta de metal enferrujado. O som agudo ecoou como um grito no vazio.
Lá dentro, a escuridão era quase total, exceto por uma única lâmpada pendurada do teto, que balançava lentamente com o vento, iluminando uma figura sentada em uma cadeira metálica, de cabeça baixa.
Ethan parou por um momento confuso, seus olhos estreitaram. Não era Miranda.
— Quem é você? — perguntou, firme, mas cauteloso.
A mulher levantou o rosto devagar… e Ethan congelou.
Os cabelos castanhos presos de qualquer jeito, as olheiras profundas, o rosto abatido, mas familiar. Ele a reconheceu. Demorou um segundo, mas a memória veio como um raio.
— Clara? — disse, sem conseguir disfarçar o choque.
A mulher assentiu, com os olhos já cheios de lágrimas.
James a observava, confuso.
— Você a conhece?
Ethan se aproximou devagar, o olhar ainda incrédulo.
— Ela trabalha no setor de contabilidade. Há alguns meses… Helen a ajudou. Lembro como se fosse ontem.
Clara abaixou os olhos, e lágrimas começaram a escorrer pelas bochechas.
— Helen me salvou — disse, com a voz embargada. — Meu ex… ele era um monstro. Me isolou da família, me afastou dos amigos, me manipulava… e depois começaram os t***s. As humilhações. Eu já não sabia quem eu era.
Ela apertou as mãos no colo, tremendo.
— Um dia, ele apareceu na empresa, bêbado. Começou a gritar comigo no estacionamento. Todos viraram o rosto. Fingiram que não era com eles. Todos… menos ela.
— Helen — murmurou Ethan, sentindo o peito apertar.
Clara assentiu com um choro preso na garganta.
— Ela desceu correndo do prédio, gritou com ele, me puxou para longe, chamou a segurança, chamou a polícia. Ele foi preso naquela noite. Helen me deu abrigo, apoio, pagou uma advogada pra mim… Ela… ela salvou minha vida. Eu fiquei devendo a ela mais do que gratidão.
— E agora você tá aqui… — murmurou James, ainda sem entender tudo. — Por quê?
Clara levantou o rosto e os olhos dela estavam ardendo de verdade, de culpa, urgência.
— Porque há dois dias… eu ouvi algo que não consegui ignorar. Um dos estagiários do financeiro estava ao telefone no banheiro. Ele falava baixo, mas eu reconheci o nome. Ele disse: “Ela já recebeu a caixa. A reação foi exatamente como esperado. A próxima fase é amanhã.”
Os olhos de Ethan endureceram.
— A caixa...
Clara assentiu, engolindo o choro.
— Eu congelei. Saí do banheiro sem que ele me visse e fui direto procurar ajuda, mas… me apavorei. Então lembrei dela. De Helen. Do bebê. E eu não podia ficar calada. Mesmo que vocês não acreditassem em mim.
— Nós acreditamos — garantiu James, com a voz firme. — Você veio até aqui sozinha?
Ela hesitou.
— Eu não estou envolvida com eles. Juro. Mas há algo que vocês precisam saber. Miranda… ela não está agindo sozinha. Ela tem ajuda.
Ethan se inclinou um pouco, sério.
— Que tipo de ajuda?



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