O barulho dos trovões parecia refletir o que se passava dentro de cada um deles. Do lado de fora, a chuva castigava o telhado de zinco do galpão como dedos nervosos tamborilando, impacientes. Lá dentro, a tensão ainda reverberava. As palavras de Miranda pareciam impregnadas nas paredes, como veneno que escorria lento e silencioso.
Ethan apertava os olhos, tentando controlar a raiva que ainda pulsava em suas veias. Seus punhos estavam cerrados e os ombros retesados como se o corpo inteiro estivesse preparado para a próxima guerra — mesmo que o campo de batalha estivesse em silêncio.
— Onde está o hacker? — repetiu James, se aproximando de Liam, que falava com os policiais enquanto entregava as coordenadas que eles haviam rastreado na última semana.
— Ela mantinha contato com ele por esse lugar — respondeu Liam, sério. — Um sinal secundário foi captado no porão. Vamos descer.
Sem perder tempo, os três seguiram pelo corredor lateral do galpão. O ar estava mais frio, e o cheiro de ferrugem era sufocante. A cada passo, Ethan sentia o peso da realidade se impondo, se Miranda havia mesmo plantado alguma armadilha digital, precisavam descobrir rápido. Helen e o bebê estavam em risco.
A escada para o porão era estreita e rangia a cada degrau. O cheiro piorava conforme desciam. Quando chegaram ao fim, depararam-se com um cômodo iluminado por monitores e fios entrelaçados, uma espécie de bunker tecnológico montado em meio ao mofo e à escuridão.
Liam acendeu a lanterna e iluminou o canto mais escuro da sala. Um jovem de aparência desleixada, suado e trêmulo, estava sentado diante de três monitores. Tinha fones nos ouvidos e nem pareceu notar a presença deles até a voz de Ethan cortar o ar:
— Mãos para cima. Agora.
O rapaz se virou lentamente. Tinha menos de vinte e cinco anos, os olhos fundos e assombrados. Era o tipo de gênio caído, brilhante, mas facilmente manipulável.
— Calma… calma… Eu… só fiz o que me pediram! — disse, apavorado. — Ela disse que era por justiça. Disse que ninguém ia se machucar de verdade!
— Você invadiu redes de segurança, acessou dados pessoais, alterou registros médicos, ameaçou uma grávida — disparou James, furioso. — Isso parece pouco pra você?
— Eu não sabia… Eu juro que não sabia! — O rapaz se encolheu, com as mãos erguidas. — Ela me pagava em criptomoeda. Disse que queria derrubar um sistema corrupto! Não que era uma vingança pessoal!
Ethan o agarrou pela gola, levantando-o da cadeira com facilidade.
— Onde estão os backups? Os vírus? Os gatilhos que você programou?
— T-tudo está na nuvem, mas só eu tenho a chave de acesso! — respondeu, ofegante. — Se vocês me entregarem pra polícia agora, vão perder tudo! Ela mandou apagar em 48 horas se algo acontecesse com ela!
James se aproximou, encarando o garoto com desprezo.
— Isso não é negociação, é sobrevivência. Se colaborar, talvez saia com um acordo. Se não, vai apodrecer numa cela com a cara da Miranda tatuada na sua consciência.
— Eu… vou cooperar! — ele disse rápido, os olhos marejados. — Mas me deixem ao menos tirar o protocolo de autodestruição dos arquivos!
Liam fez um sinal para os policiais entrarem. Um deles se aproximou, algemou o rapaz e o conduziu até um dos computadores, mantendo a arma em punho.
— Faça o que precisa, devagar e sem truques. — ordenou Liam.
Durante os próximos minutos, o hacker digitou linhas de código com dedos trêmulos, desativando os protocolos de tempo e liberando o caminho para os investigadores acessarem o conteúdo. Na tela, pastas com nomes como “Justiça Pessoal”, “Dossiê Helen”, “Operação Arcanjo” e “Verdadeira História” se espalhavam como fantasmas prestes a serem libertos.
James não conseguia tirar os olhos de uma das pastas. Quando clicaram nela, centenas de fotos apareceram, registros da vida de Helen, seguidas por imagens pessoais de Ethan, arquivos confidenciais da empresa, conversas hackeadas entre funcionários e até mesmo áudios captados da casa deles.



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