A chuva não dava trégua. Gotas pesadas escorriam pelo para-brisa enquanto Ethan dirigia em silêncio, os olhos fixos na estrada, mas a mente distante, ainda presa àquela noite sombria. O volante firme em suas mãos era o único elo entre ele e a realidade.
O cheiro do couro do carro misturava-se com o perfume de terra molhada que entrava pela fresta da janela entreaberta. Ao seu lado, James o acompanhava em silêncio, respeitando o peso que Ethan carregava nos ombros. Os dois haviam saído do galpão sem dizer muito, apenas um breve aperto de mãos e o mesmo pensamento não dito: isso ainda não acabou.
Ethan desviou o olhar para o retrovisor, onde a luz vermelha das sirenes ainda piscava ao longe. Aquilo parecia um pesadelo mal costurado à realidade. Mas ele sabia: o verdadeiro pesadelo seria acordar e perceber que Helen estava em perigo. E era por ela que precisava seguir.
Ao entrar no condomínio fechado onde moravam, o coração de Ethan apertou. As luzes da casa estavam acesas. Ele sabia que Helen o esperava. Mesmo sem entender o que estava acontecendo do lado de fora, ela sempre o sentia. Sempre sabia quando ele chegava com a alma em frangalhos.
Estacionou, desligou o motor e inspirou fundo antes de sair do carro. O silêncio da madrugada só era cortado pelo som da água caindo do céu. E ainda assim, ao colocar os pés sobre o assoalho de casa, Ethan sentiu que a tempestade dentro dele se acalmava.
Helen estava na sala, sentada no sofá com um robe de cetim claro, os cabelos soltos e o olhar ansioso voltado para a porta. Quando o viu, levantou-se de imediato, os olhos marejando.
— Ethan…
Ele caminhou até ela sem dizer uma palavra, envolveu-a nos braços com força e encostou o rosto em seu pescoço. Ficaram assim por longos segundos, sem se mover, sem respirar fundo, apenas se sentindo.
— Está tudo bem? — ela perguntou, a voz embargada.
Ethan assentiu com um gesto mínimo, mas não mentiu:
— Agora está.
Ela o apertou ainda mais forte. E, naquele gesto simples, ele encontrou tudo o que precisava.
A água quente preenchia a banheira lentamente, liberando vapor e aromas suaves de lavanda e baunilha. Helen havia preparado o banho para acalmá-lo, mas quando Ethan entrou no banheiro e a viu ajoelhada ao lado da banheira, com as mãos dentro d’água testando a temperatura, algo dentro dele derreteu.
Ela levantou o olhar e sorriu. Um sorriso terno, cheio de amor.
— Vem… — disse, estendendo a mão. — Você precisa relaxar.
Ethan aproximou-se sem dizer nada. Seus olhos não deixavam os dela. A tensão em seu rosto suavizou à medida que ela começou a desabotoar a camisa molhada que ele ainda usava. Um botão. Depois outro. Com delicadeza, ela deslizou o tecido encharcado pelos ombros largos dele e o jogou no chão.
Ele a observava em silêncio. Havia algo sagrado naquele momento. Helen passava os dedos pela pele dele como se quisesse tirar, com o toque, toda a dor que o mundo havia tentado imprimir em sua alma naquela noite.
— Deita aqui comigo — ela sussurrou, depois de tirar o próprio robe, revelando o corpo nu, acolhedor, tão familiar e ao mesmo tempo sempre novo.
Ethan não hesitou.
Despiu-se com movimentos lentos e entrou na banheira, acomodando-se com ela entre as pernas. Helen se recostou contra seu peito, e ele a envolveu com os braços, como se o universo inteiro estivesse ali, em seus corpos juntos, na água quente que os envolvia, no silêncio confortável que os unia.
As gotas da água escorriam pelos ombros dele, misturando-se com as que vinham dos olhos dela.
— Você chorou? — ele perguntou, beijando a têmpora dela.
— Chorei. Achei que você não voltaria inteiro.
Ethan fechou os olhos.
— Eu quase não voltei.
Helen virou-se, sentando-se de frente para ele, os joelhos dobrados, o corpo submerso até a cintura.



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