A cozinha estava um caos controlado. Helen tentava montar a mesa com dignidade, mesmo ainda vermelha como um tomate. Ethan, agora vestido, pelo menos da cintura para cima, preparava o café como se nada tivesse acontecido. Zoe? Zoe andava de um lado para o outro com a sacola nas mãos, ainda se recuperando do “choque visual”.
— Eu só queria entregar pão de queijo… e vi meu irmão armado! — repetia ela pela décima vez. — ARMADO, Helen! Com munição e tudo! No meio do campo de guerra!
Helen riu, ainda tentando manter a compostura.
— Zoe, pelo amor de Deus… não precisa narrar em detalhes.
— Ah, claro que precisa! Isso é traumático! É um crime contra a saúde mental da própria irmã!
Ethan se encostou na pia, cruzando os braços e erguendo uma sobrancelha.
— Você que entrou sem bater. E, convenhamos, já me viu de sunga várias vezes na praia.
Zoe o encarou, indignada.
— Sunga não é “estado de ataque total”! Sunga tem limite. Aquilo ali era… era… pornográfico!
Antes que Helen pudesse responder, a campainha tocou.
— Por favor, seja o carteiro — murmurou Ethan, indo atender.
Mas não era o carteiro.
Katerina Carter, impecável como sempre, em um vestido azul-marinho de linho, óculos escuros e uma bolsa estruturada digna de editorial de moda. Ao lado dela, Richard, o patriarca de olhar calmo, camisa clara e expressão sempre afetuosa… até hoje.
— Filhos! — disse Katerina, entrando. — Zoe disse que precisava de apoio emocional e trouxe doces. Achei melhor virmos todos antes que ela dramatize mais do que o necessário.
— Já dramatizou, mãe — respondeu Ethan, sem disfarçar a ironia.
Richard entrou e deu um beijo na bochecha da filha, depois em Helen, e por fim apertou o ombro do filho.
— Aconteceu alguma coisa?
— Você não tem ideia… — murmurou Zoe, dramática. — Senta, pai. Mãe, prepara o coração.
Todos se acomodaram à mesa. Katerina ergueu uma sobrancelha.
— Zoe, seja breve. Tenho uma reunião às onze.
Zoe colocou as mãos sobre a mesa, como se estivesse prestes a dar um depoimento em um tribunal de guerra.
— Mãe. Pai. Eu entrei no quarto do Ethan sem bater…
— Isso já está errado — interrompeu Katerina. — Quantas vezes dissemos pra bater antes de entrar?
— Espere! O que encontrei… não tem precedentes.
Ela inspirou profundamente.
— Ethan estava entre as pernas da Helen! Quase engolindo a pobre mulher! E ainda com a arma completamente exposta! Sem aviso! Sem proteção emocional! EU VI TUDO!
Richard engasgou com o gole de café tossindo em seguida.
— O quê?!
— Zoe! — exclamou Katerina, horrorizada. — Pelo amor de Deus! Isso é coisa que se diga na mesa?!
— Eu tô traumatizada, mãe! — Zoe rebateu, apontando para o irmão. — Eu vi o bat-sinal ao vivo! Em movimento!
Ethan deitou a cabeça sobre o braço, rindo sem conseguir respirar. Helen já tinha largado o pão e estava completamente derrotada pela gargalhada. Katerina passou a mão no rosto, tentando manter a compostura.
— Você precisa de limites, de terapia e talvez um retiro espiritual.
Richard ainda corava como um adolescente.
— Eu só vim pelo café — murmurou, sem encarar ninguém.
Nesse exato momento, a porta se abriu novamente. E então…
— Amor! — Zoe gritou.
Liam entrou com uma caixa de suco de laranja na mão, parando imediatamente ao ver o cenário: sogros, cunhada rindo, Ethan escondendo o rosto e a própria noiva correndo em sua direção como se tivesse sobrevivido a um apocalipse.


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