O relógio marcava 06h07 da manhã quando a enfermeira empurrou a maca com Helen para dentro da sala de parto. Ethan vinha ao lado, de touca azul, jaleco, máscara pendurada no queixo e um olhar que alternava entre pânico absoluto e êxtase desorientado.
— Helen… amor… eu tô aqui, tá? — disse ele, andando de costas e tropeçando nos próprios pés. — Qualquer coisa, morde a minha mão. Ou meu braço. Ou minha cara. Pode arrancar um pedaço se aliviar.
— Ethan… respira. — respondeu ela, segurando o riso mesmo com as contrações aumentando. — Se alguém tiver que desmaiar aqui, vai ser você.
— Eu tô bem! Tô tranquilo! — afirmou ele, com a voz aguda e trêmula. — Só… minha perna tá meio dormente. Meu braço também. Mas é só ansiedade muscular.
— É o quê? — perguntou a enfermeira, rindo.
— Nada! Pode ignorar! Só me avisa quando for minha hora de… fazer alguma coisa útil.
Helen foi transferida da maca para a maca obstétrica com delicadeza. A obstetra entrou na sala sorrindo, com a equipe posicionada e o ambiente sob controle.
— Bom dia, Helen! Pronta pra conhecer o David?
— Prontíssima. — respondeu ela, firme.
— E você, papai, está pronto?
Ethan arregalou os olhos.
— Eu nasci pronto. Quer dizer, eu acho. Talvez não. Eu não sei mais o que eu sou. Um homem? Um molusco? Um ser emocional?
Todos riram.
Helen segurou a mão dele com força.
— Ethan…
Ele olhou nos olhos dela e tudo se acalmou.
— Vai dar tudo certo. — ela disse.
— Vai ser perfeito. — ele respondeu.
A médica se posicionou e deu os comandos.
— Helen, quando a contração vier, respira fundo, segura e empurra. Ok?
Helen assentiu.
A primeira contração forte veio e Helen fechou os olhos. Ethan ficou ao seu lado, segurando sua mão com tanta força que parecia tentar transferir parte da dor para si.
— Você tá indo muito bem, amor. Respira. Respira como treinamos. Igualzinho a… uma mulher maravilhosa, guerreira e fodona. Isso!
— Fodona? — ela arfou, arquejando. — Sério?
— É o adjetivo técnico para mães prestes a parir. Tá no dicionário do amor.
Outra contração veio. Forte. Helen grunhiu, o rosto suado. Ethan secou sua testa com o pano que a enfermeira entregou.
— Você tá linda. Sério. Parece que está gravando uma cena de filme. Tipo a Scarlett Johansson com dor, mas gloriosa.
— Cale a boca, Ethan! — ela gritou, com dor e riso misturados.
— Sim, senhora!
— Vai, Helen, força! — incentivava a médica.
— Isso, amor. Empurra! Como se fosse… sei lá, a última vez que você pisa no acelerador antes do sinal fechar!
— EU NÃO DIRIJO, ETHAN!
— Tá bom! Como se fosse… seu último brigadeiro na festa!
— ISSO EU ENTENDO!
Mais uma contração, mais um grito. Helen apertou a mão dele como se quisesse fundi-los.
E então…
— JÁ DÁ PRA VER O CABELO! — anunciou a médica.
Ethan soltou um “ai meu Deus” e quase se ajoelhou.
— Cabelo? Ele já tem cabelo? Já posso pagar o primeiro corte!
Helen arqueava o corpo, dando tudo de si.
— MAIS UMA, HELEN! VAMOS LÁ!
Ela gritou, empurrou com tudo, e…

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