A primeira noite em casa com David começou com promessas otimistas, sorrisos confiantes e uma montanha de fraldas organizadas por cor, tamanho e cheiro, cortesia de Zoe, que havia decidido que “a paleta de cocô diz muito sobre a alma do bebê.”
Ethan passou o dia inteiro montando uma espécie de fortaleza ao redor do berço. Comprou câmera com sensor de movimento, babá eletrônica com detector de som ambiente, um purificador de ar e, segundo suas palavras, “um exército de pelúcias treinadas para observar o sono do príncipe herdeiro”.
Helen apenas observava, deitada no sofá com David no colo, sorrindo como quem já sabia que o caos viria e que seria lindo.
— Ethan, amor, você instalou um monitor dentro do bercinho?
— Claro! Se ele espirrar, eu quero ouvir em HD. E se ele bocejar… bom, eu quero um registro em câmera lenta.
— Você está um pouco exagerado.
— Helen, eu tô absolutamente fora de mim. Meu filho está em casa. Aqui. No nosso lar. Eu tô autorizado a ser completamente maluco.
— Tá. Mas se tentar conectar o monitor na TV da sala, a gente vai brigar.
Ele parou no meio do caminho, com o controle remoto escondido atrás das costas.
— Eu estava só testando… juro.
Na primeira madrugada, às 02h14, David chorou.
Ethan caiu da cama.
Literalmente.
— Que foi? Ele está com febre? Tá com cólica? Parou de respirar? Helen, amor, chama o pediatra! Ou a NASA!
— Ethan, é só fome. — Helen disse, se levantando com calma. — Acontece com todos os seres humanos. Inclusive com você quando acorda de madrugada querendo pizza.
Ela sentou-se na poltrona de amamentação, com os olhos ainda cheios de sono, enquanto David se aconchegou ao seio com um suspiro aliviado.
Ethan a observava como se tivesse diante de um milagre.
— Vocês são lindos. Eu nunca vi algo tão bonito quanto isso.
— Você disse isso ontem quando o David arrotou.
— Foi um arroto com classe.
Helen sorriu, e os dois passaram alguns minutos em silêncio, apenas ouvindo o som suave da sucção e do tic-tac do relógio na parede.
Às 04h17, David chorou de novo.
— Fralda! — gritou Ethan, pulando da cama como um soldado em guerra.
— Pode trocar. Eu tô morta. — disse Helen, com a voz abafada pelo travesseiro.
Ethan congelou.
— Eu? Trocar?
— Você disse que assistiu todos os vídeos.
— Sim, mas… era um bebê de mentirinha. Não um bebê real, com dedos minúsculos e expressão de julgamento.
— Vai, pai do ano. Ele é seu. E a fralda também.
Ethan foi até o bercinho, pegou o bebê com todo o cuidado do mundo — como se estivesse manuseando um artefato sagrado do Egito — e o levou até o trocador.
— Tudo bem, campeão. Só o papai aqui. Nada de pânico. É só… uma fralda. Com conteúdo. Ah, céus, é MUITO conteúdo.
Helen ria em silêncio no quarto, ouvindo os murmúrios desesperados vindos do cômodo ao lado.
— Ok, vamos tirar isso com calma… uh, por que isso tem a cor de um alienígena?
— Ethan? — ela gritou. — Tá tudo certo aí?
— Sim! Tudo sob controle! O pai da criança está em ação! Armado com lenços umedecidos e coragem questionável!
O som do velcro da fralda ecoou pela casa. Um segundo depois…
— AH, NÃO! ELE ME MIJOU! EU FUI ALVEJADO! FOI UMA ARMADILHA! O MENINO É UM SNIPER!
Helen rolava na cama, gargalhando.
Ethan voltou dez minutos depois, com o cabelo molhado, a camiseta encharcada e o bebê limpo — com a fralda meio torta, mas colocada com amor.

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