O mundo girava.
Helen acordou com um gemido baixo, sentindo o peso do próprio corpo afundar no colchão macio, enquanto a cabeça latejava como se tivesse uma bateria de escola de samba desfilando dentro do crânio. As pálpebras pesadas demoraram a se abrir, e quando o fizeram, a luz suave que entrava pelas frestas da cortina parecia um ataque direto à sua sobrevivência.
Ela franziu o rosto, gemeu e se encolheu de novo.
Tudo parecia uma névoa. Estava deitada em uma cama enorme, com lençóis escuros e o cheiro amadeirado familiar que fazia o coração dela dar um salto. Virou o rosto devagar e viu que o lado ao seu lado estava vazio. Nenhum sinal de Ethan.
Suspirou fundo.
Cobriu o rosto com o cobertor, enfiando-se até o nariz e murmurou:
— Ai, meu Deus… o que eu fiz ontem?
E então, como um filme mal editado, flashes da noite anterior começaram a invadir sua mente.
Ela dançando bêbada, provocando e sorrindo como se não houvesse amanhã. O ruivo que a beijou. Ethan invadindo a boate como um furacão furioso. A briga, os socos. E depois… ele a carregando nos braços. O chuveiro, as mãos dele em sua pele, seu toque, o calor do seu corpo e os sussurros…
O corpo inteiro de Helen arrepiou sob o cobertor. Ela fechou os olhos com força, escondendo-se como se pudesse desaparecer dali. Por Deus, ela praticamente atacou Ethan ontem, ficou nua, tocou nele com intimidade… seu corpo todo se aqueceu ao lembrar de seu desejo evidente nas calças. Ele ficou excitado e não foi por Miranda, foi por ela.
— Helen, o que você fez? — murmurou, sorrindo para si mesma. — Não tem problema… a culpa foi do álcool
Mas era mentira.
Ela lembrava.
Lembrava de cada olhar de Ethan. Da maneira possessiva como ele a segurou no meio da pista. Do jeito como o corpo dele reagia ao dela. Do volume latejante que ele tentava esconder quando ela o provocava.
Meu Deus… aquilo era real?
Mordeu o lábio inferior, sentindo o gosto do arrependimento e do desejo se misturarem. Por mais que ainda estivesse magoada com ele… por mais raiva que ainda sentisse por tudo o que aconteceu… era impossível negar que gostou de saber que ela mexia com ele. Que ele a desejava como mulher, e, no fundo, isso a fazia sorrir.
Mas agora… agora tudo doía.
Tentou se levantar. O corpo cambaleou como se ela tivesse passado a noite em alto-mar. A cabeça girava, os pés tropeçaram no tapete, e ela se apoiou na parede mais próxima, murmurando:
— Droga… nunca mais eu bebo.
Caminhou com passos lentos e desajeitados até a porta do quarto. Abriu com cuidado, como se esperasse encontrar Ethan do outro lado. Mas o apartamento estava em silêncio absoluto. Nada de passos, nada de vozes, nada de café sendo passado ou jornal sendo folheado.
Provavelmente ele havia saído cedo para o trabalho. E, sinceramente, ainda bem. Ela não estava pronta para encarar aquele olhar dele logo cedo. Não com aquela ressaca.
Seguiu até a sala, o sol agora iluminando todo o ambiente com timidez. Passou pela cozinha americana e então viu, sobre a mesa de jantar, um copo com água, dois comprimidos e um pequeno bilhete.
Engoliu seco antes de atender.
— Alô?
— Senhora Carter, bom dia. Desculpe incomodar, mas gostaria de confirmar: seguimos com a entrada nos papéis do divórcio?
Ela ficou em silêncio.
O tempo parecia ter parado. Olhou para o bilhete. Lembrou do banho, do jeito como ele a enxugou com carinho, da camisa que ele colocou nela com cuidado… e da forma como ela adormeceu em seus braços.
Suspirou fundo e fechou os olhos. Por mais que ela conseguisse sentir que algo mudava, não poderia viver de migalhas de um amor. A dor de amar sem ser amado é uma ferida que não cicatriza e o amor só machuca quando é unilateral.
Fechou os olhos suspirando fundo.
— Sim — respondeu, por fim. — Pode seguir com o processo.
A ligação terminou, mas as palavras ficaram ecoando dentro dela.
Helen se levantou lentamente, caminhou até a janela e olhou para a cidade que se estendia diante de si, os carros passando apressados, os pedestres cruzando as ruas, todos em seus próprios mundos.
Mas o mundo dela… ainda girava em torno de Ethan Carter. Ela só esperava que um dia… parasse ou que girasse para perto dele novamente.

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