A porta fechou com um clique seco, como um selo final sobre tudo o que eles haviam construído. Ethan continuou ali, parado, encarando o vazio como se ainda pudesse vê-la. Como se houvesse tempo. Como se ela pudesse voltar.
Mas não voltou e nem voltaria.
A pasta azul ainda estava sobre a mesa, aberta. Os papéis assinados por ela gritavam uma verdade que ele não queria ouvir: ela estava indo embora. Helen estava deixando-o. E, dessa vez, não havia súplica que pudesse impedi-la.
As mãos dele tremiam, a garganta ardia e o mundo que tanto lutara para controlar parecia ter desabado com um simples gesto, a entrega de uma pasta.
Ele caminhou em direção ao pequeno bar dentro de seu escritório, abriu uma das garrafas mais caras que possuía e, sem pensar duas vezes, serviu-se de um copo cheio. Engoliu de uma vez só. O uísque queimou sua garganta, mas não o suficiente para anestesiar o que sentia.
— Maldita hora que eu deixei tudo chegar nesse ponto… — murmurou, servindo outro copo. E depois mais um.
O tempo passou, e os copos se multiplicaram sobre a mesa. A gravata foi arrancada, a camisa amassada pendia aberta no peito suado. O rosto, antes austero, agora era um retrato de desespero: os olhos marejados, vermelhos; os lábios trêmulos; o corpo afundado na cadeira de couro como se até seu orgulho tivesse pedido demissão.
Por volta das cinco da tarde, Liam chegou ao prédio. Simone, a secretária, o abordou no corredor, preocupada.
— Doutor Liam… o senhor precisa ver o estado do senhor Carter. Ele não saiu do escritório desde cedo. Dispensou reuniões, trancou a porta… e está bebendo sem parar.
Liam bufou e seguiu direto. Não bateu — empurrou a porta. E ao entrar, o cheiro forte de álcool quase o fez recuar.
— Que merda é essa? — ele murmurou, vendo o cunhado jogado no sofá, camisa aberta, cabelo despenteado, os olhos fundos como um homem que perdeu a alma.
Ethan levantou o olhar devagar, o sorriso torto nos lábios e estendeu o copo que estava nas suas mãos.
— Bem-vindo à festa da minha ruína, cunhadinho… quer um drinque? Ou veio rir da minha cara?
— Você esta completamente bêbado — constatou Liam, se aproximando. — Que diabos aconteceu?
Ethan soltou uma risada vazia. Um som oco, triste, arranhado.
— O que aconteceu? Aconteceu que eu sou um idiota, Liam. Um completo, monumental, imbatível idiota. Eu perdi a única mulher que amei na vida, é isso que aconteceu.
Liam tentou tirar o copo da mão dele, mas Ethan puxou de volta com violência.
— Não encosta em mim! — gritou, tropeçando ao levantar. — Eu tô fodido, tá ouvindo? FODIDO! A Helen me deixou… ela me deixou… e eu mereço!
O grito foi tão alto que atravessou a sala. Funcionários no corredor começaram a se aproximar, espiando pela porta aberta.
— Ethan, abaixa a voz. Vamos pra casa. Você precisa descansar, tomar um banho…
— Pra casa? Qual casa, Liam? A casa que ela tá deixando? A casa onde cada parede tem o cheiro dela? Não tem mais casa! NÃO TEM MAIS PORRA NENHUMA!
Ele tropeçou ao tentar pegar outra garrafa, derrubando-a no chão. O vidro estilhaçou, o líquido espalhou-se pelos tapetes luxuosos. Ethan caiu de joelhos, socando o chão com fúria, como se pudesse quebrar o que restava de si.
Liam abaixou-se, tentando ajudá-lo, mas Ethan empurrou-o com força.
— O QUE FOI?! — berrou, erguendo-se com dificuldade, encarando os funcionários que agora o observavam do corredor. — Nunca viram um homem destruído e abandonado? Querem filmar? Filmem, caralho! Tirem fotos! Postem no I*******m: “Ethan Carter, o CEO de merda, arruinado pelo amor!”
Liam puxou-o pelo braço.
— Chega! Você vai sair daqui agora!
— Me solta! — Ethan tentou resistir, mas cambaleava. — Eu te amo, Helen… eu te amo, caralho! — gritou para o nada.
Com esforço, Liam conseguiu contê-lo. Passou um dos braços por debaixo dos ombros do cunhado e o levou, aos trancos e barrancos, até o elevador. Os funcionários recuavam com olhares chocados, alguns registrando a cena com os olhos, outros com os celulares, apesar dos alertas da segurança.
No estacionamento, Ethan já mal conseguia manter-se em pé. Chorava, murmurava, praguejava. Quando chegaram ao apartamento, a porta se abriu num silêncio incômodo.
Helen ficou parada à porta do quarto, encarando aquela imagem. Aquele homem não era o mesmo que a fizera sorrir, que a encantara, que a fizera acreditar em promessas. Era o reflexo do que a dor podia transformar alguém.
Liam voltou até ela. Ajeitou as mangas da camisa e suspirou.
— Deveria ouvir o que ele tem a dizer.
Helen virou-se para ele. Seus olhos estavam frios, mesmo úmidos.
— Já tomei minha decisão.
— Boa noite, Helen.
— Boa noite, Liam.
Ele se foi.
Helen permaneceu ali, imóvel, por longos minutos. O silêncio do apartamento era devastador. Caminhou até o quarto. Ethan dormia pesado, de lado, respirando de forma descompassada.
Ela se aproximou devagar, sentou-se na beirada da cama e observou seu rosto. Ainda era o homem que ela amava. Mas amor não bastava. Não mais.
Ele disse que a amava, sim. Mas seria aquilo amor… ou desespero?
Ela não sabia. E talvez nunca soubesse.
A única certeza que tinha era que, por mais que doesse, ele tinha feito a sua escolha, e pela primeira vez em muito tempo, ela escolheria ela mesma.
Levantou-se, caminhou até as malas, e sem olhar para trás, saiu do quarto com o coração em pedaços, porque por mais que mentisse para si, ela o amava de todo o coração.

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