Três dias depois...
O apartamento era pequeno, mas havia algo reconfortante naquela simplicidade. Foi o lar de Helen antes dela se casar com Ethan e ela amava aquele lugar. As paredes claras refletiam a luz suave do entardecer, enquanto Helen organizava as últimas caixas com uma calma quase estranha. Não era felicidade. Ainda não. Mas era paz. E paz, depois de tanto caos, já era um começo.
A campainha tocou.
Helen caminhou até a porta e a abriu. Do outro lado, Melissa sorria com uma caixa de bolo em mãos e uma sacola com uma garrafa de vinho. Mas seu sorriso não era tão leve quanto de costume.
— Trouxe açúcar e álcool. E antes que diga que está tudo bem, eu conheço aquele olhar vazio seu melhor do que ninguém — disse, entrando sem cerimônia. — Vai me deixar cuidar de você hoje ou tenho que te amarrar?
Helen riu de leve, fechando a porta.
— Entra. Não tenho forças pra discutir com você.
Melissa colocou o bolo na bancada da pequena cozinha americana e olhou ao redor do novo espaço. Simples, mas aconchegante. Ainda assim, havia algo nos olhos dela que não combinava com a leveza da visita.
Helen percebeu de imediato.
— O que foi? Você tá com aquela cara de quem precisa contar algo que eu não vou gostar.
Melissa respirou fundo. Soltou devagar. Depois, sentou-se no sofá e fez sinal para que Helen se juntasse a ela.
— Eu hesitei em vir… mas achei melhor você saber por mim do que descobrir pela internet ou pelos corredores do prédio antigo.
Helen se sentou ao lado da irmã, atenta.
— O que aconteceu?
— É sobre o Ethan.
Helen imediatamente ficou em alerta. Seu corpo enrijeceu, e por um segundo, tudo pareceu congelar.
— O que teve ele?
— Três dias atrás, depois que você saiu da empresa… ele teve um colapso. — Melissa disse com calma, medindo as palavras. — Ficou trancado no escritório por horas, bebendo sem parar. Simone contou que tentou intervir, mas ele estava transtornado.
Helen engoliu em seco, o peito apertando.
— E depois?
— Liam foi até lá, mas mesmo assim… ele perdeu o controle. Saiu pelo corredor cambaleando, gritando coisas sobre você, sobre ter estragado tudo. Que te amava, que era um idiota. Jogou um copo no chão, encarou os funcionários. Disse que se quisessem filmar, que filmassem mesmo, porque ele estava destruído.
Helen levou a mão à boca, surpresa.
— Meu Deus…
— Tem vídeos, Helen. Ainda não vazaram para imprensa, mas estão circulando nos bastidores. E… ele não voltou à empresa desde então. Tá sumido. Ninguém sabe ao certo onde ele está.
Ela se levantou do sofá e caminhou até a janela, com os olhos fixos em algum ponto do horizonte que ela já não enxergava. O coração batia apertado. Fechou os olhos e lembrou desse dia, do jeito que ele chegou embriagado, da maneira que ele implorou e de como disse que a amava. Mais Helen não podia acreditar naquilo, Ethan estava apenas perdido, ele não a amava, ele tinha escolhido a Miranda e Helen escolhido a si mesma.
Melissa se aproximou devagar.
— Ele está sofrendo, Helen. E eu sei que você também está, mesmo que tente parecer forte o tempo todo.
— Eu estou forte. Pela primeira vez na vida, eu sou forte — respondeu, com os olhos marejados. — Mas isso não quer dizer que ver ele se destruindo não me machuque. Ethan só está confuso… tudo o que ele disse é uma mentira. Ele escolheu a Miranda, Melissa. Ele foi até o apartamento dela, eles se beijaram e se eu não tivesse interrompido, com toda certeza tinham transado como dois coelhos.
Melissa suspirou fundo.
— Eu não vim pra te fazer mudar de ideia — disse a irmã, com carinho. — Só achei que devia saber.
Helen assentiu, engolindo o nó na garganta.
— Obrigada por me contar.
— Vai fazer alguma coisa?
— Não sei. — Ela olhou para as próprias mãos. — Talvez… apenas me lembrar que, mesmo amando alguém, às vezes a gente precisa ir embora pra sobreviver.
✲ ✲ ✲
Ethan Carter
Três dias.
Noventa e seis horas.
Cinco mil setecentos e sessenta minutos.
Foi o tempo que levei para sair do chão da minha sala, tomar um banho gelado e vestir minha melhor máscara: a de homem resolvido, imperturbável, intacto.
Mas por dentro…
Por dentro, tudo que restou de mim foi o eco do silêncio que Helen deixou.
Hoje voltei ao trabalho. A sede da empresa parecia menor, mais sufocante, como se os corredores sussurrassem meu nome sem que ninguém tivesse coragem de dizer nada em voz alta. E eu não os culpo. O espetáculo patético de um CEO embriagado, arrastado pelos próprios erros, não é algo que se esquece com facilidade.
Entrei pela porta principal com os ombros retos, o queixo erguido e o olhar fixo. Eu sabia que estavam me observando. Eu os senti, mas os ignorei.
Apertei o vidro com a palma da mão, o rosto encostado ali. A cidade seguia…
E eu?
Eu estagnei no minuto exato em que ela virou as costas.
— Se pelo menos você ouvisse o que eu tenho a dizer, chatinha… — sussurrei, quase sem ar.
A porta atrás de mim se abriu com um rangido discreto.
Reconheci os passos antes mesmo de virar.
— Liam — murmurei.
Não me virei de imediato. Só quando ouvi o suspiro dele é que girei o corpo e o encarei.
Ele me olhou por longos segundos. Como quem queria dizer mil coisas, mas não sabia por onde começar.
— Tá tudo bem? — perguntou.
— Tudo como deveria estar — respondi com frieza. — Trouxe os documentos da reunião?
— Sim. Estão aqui.
Estendi a mão, pegando a pasta de couro com os papéis. Nem conferi de imediato. Apenas a coloquei sobre a mesa, como se fosse um peso a mais entre tantos que já me esmagavam.
— Ótimo.
Liam não se moveu. Ficou ali parado, me observando. Meus olhos azuis estavam pesados, opacos. Ele me conhecia desde que éramos quase adolescentes. Sabia ler meus silêncios. Sabia que algo em mim estava… quebrado.
— Ethan… — ele começou, com voz baixa.
— Não — cortei, duro. — Não vamos fazer isso aqui.
— Eu só ia dizer… — Ele respirou fundo. — Que eu nunca vi você assim.
Fiquei em silêncio.
Porque ele estava certo. Eu nunca mais seria o mesmo.
E, mesmo que o mundo voltasse a me aplaudir, mesmo que os holofotes retornassem, que as ações da empresa disparassem, que os jornalistas escrevessem sobre a minha volta por cima… Nada disso me devolveria a única coisa que realmente importava.
Helen.

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