Faz três dias desde que deixei o apartamento. Três dias desde que virei as costas para a história que tentei sustentar por tanto tempo. Três dias de silêncio absoluto. Nenhuma ligação. Nenhuma mensagem. Nenhuma notícia de Ethan.
E, mesmo que eu tentasse convencer a mim mesma de que isso não me importava, a verdade era que cada minuto sem saber como ele estava apertava meu peito um pouco mais.
Hoje, decidi almoçar sozinha.
Precisava de ar, de espaço.
Precisava ir ao apartamento que um dia foi meu buscar umas coisas, precisava criar coragem para ir lá. Estar naquele apartamento me sufocava. Tudo lá ainda tinha o cheiro dele. E cada canto parecia me lembrar da forma como ele se ajoelhou diante de mim, bêbado, implorando…
Eu precisava me preparar antes de ir.
Escolhi um restaurante discreto no centro. Já havia ido lá algumas vezes, geralmente em dias em que queria silêncio e comida simples. Pedi uma mesa nos fundos, algo afastado, onde pudesse respirar e pensar. Apenas isso.
Mas antes que pudesse me sentar, algo me fez parar. Era uma voz familiar, um riso… seria capaz de reconhecer aquele sorriso de olhos fechados.
Virei o rosto discretamente e senti o meu coração congelar por um segundo. Ali, na primeira mesa à direita, perto da janela, estava Miranda. Sentada diante de um homem, rindo com a mão sobre o braço dele como se o mundo fosse leve e ela a dona de toda felicidade.
Quase me virei para ir embora, senti meu estômago embrulhar. A presença de Miranda era como veneno em minhas veias, uma lembrança viva da traição, da dor, da dúvida. Já ia sair quando escutei.
— …Você precisava ter visto a cara da idiota ao ver o Ethan me beijando — disse Miranda, rindo. — Paralisei na mesma hora e meu sangue sumiu do rosto.
O homem na frente dela, pareceu confuso, mas divertido.
— E ele retribuiu?
Miranda fez um biquinho debochado, mexendo no canudo do seu suco.
— Mal. Ele estava tenso, distante. Estava ali só pra me dar um fora, acredita? Aquele idiota foi lá determinado a me cortar de vez, mas eu tinha que tentar uma última jogada.
Naquele momento parei sentindo o sangue gelar ao ouvir aquilo. Então Ethan não retribuiu o beijo? Então ele tinha ido ao apartamento de Miranda terminar tudo? Mas… porque?
— Então você forçou o beijo?
— Óbvio! — respondeu Miranda, como se fosse a coisa mais natural do mundo. — Você precisava ver a cena. Eu me joguei em cima dele e beijei com tudo. Ele até retribuiu por dois segundos, acho que foi o susto… mas depois me empurrou com força.
O homem arregalou os olhos.
— E a tal da esposa viu?
Miranda gargalhou.
— Viu o que eu queria que ela visse, claro. E caiu como um patinho. Acreditou em tudo. Saiu correndo feito uma criança ferida. Você não tem ideia do quanto isso me fez feliz. Foi como vingança em forma de novela. Ela achando que estava no controle… quando na verdade eu estava manipulando tudo.
Senti meu estômago revirar mais uma vez. Um misto de sentimentos se apossou de mim, raiva e arrependimento.
Não acreditava no que tinha acabado de ouvir. Não podia ficar mais um minuto ali, era doloroso demais. Recuei, saindo discretamente pela lateral do restaurante, antes que Miranda me visse. Mal conseguia respirar. As palavras dela giravam em minha cabeça como agulhas.
“Ele estava distante”
“Foi lá pra me dar um fora.”
“Eu forcei o beijo.”
Apoiei-me na parede externa do restaurante. O vento frio do fim da manhã bateu no meu rosto, mas não foi suficiente para afastar o calor da vergonha e da confusão.
— Meu Deus… ele não mentiu — sussurrei para mim mesma, sentindo as lágrimas ameaçarem cair.
Ethan não mentiu.
Tudo o que ele havia dito… era verdade. E eu o chamei de canalha. O humilhei, disse coisas horríveis. Revidei com crueldade. E agora…
Agora eu era a idiota da história. A marionete de Miranda. A mulher que duvidou do único homem que, mesmo com todos os defeitos, tentava se manter firme. Não podia se culpar, por mais que dessa vez Ethan não tivesse culpa, seus atos anteriores foram os culpados para que ela duvidasse.
Engoli em seco. Peguei o celular, mas não tive coragem de ligar para ele, ainda não. Na verdade, não sabia se ia falar com ele sobre isso. Em vez disso, entrei no primeiro táxi e pedi para ir até a empresa. Precisava conversar com Tânia.
✲ ✲ ✲
O prédio empresarial da Interprises Carter era imponente, mas naquele fim de tarde, parecia mais intimidante do que o habitual. Helen subiu direto até o andar em que trabalhava e caminhou até a sala onde sabia que Tânia estaria finalizando relatórios.
— Helen? — exclamou Tânia ao vê-la entrar. — Você tá pálida. O que aconteceu?
— Eu preciso conversar com você — respondeu, sem rodeios. — Agora.
Tânia se levantou imediatamente, fechando o notebook.
— Vamos pra sua sala.
Tânia sorriu.
— Baixe a guarda, só um pouquinho. Vai com calma, mas deixa as coisas acontecerem. Dá espaço para que ele prove que gosta de você. E, acima de tudo, escute o que seu coração tá gritando.
Helen inspirou profundamente. Ficou em silêncio por longos segundos, se sentia esgotada, mas algo dentro dela começava a se realinhar.
— Eu vou pensar — disse por fim.
Tânia assentiu.
— Não pense demais. Às vezes, o que a gente sente já é resposta o suficiente.
Na saída do prédio, Helen ficou parada diante da rua, olhando os carros passarem. O celular pesava em sua bolsa. A vontade de ouvir a voz dele era insuportável. Queria gritar, chorar, correr até ele. Mas não faria isso agora.
Ainda não.
Ela precisava de mais um tempo. Mas, pela primeira vez em muito tempo… estava disposta a dar uma chance. Não só a Ethan, mas a ela mesma.
A chance de amar de novo, com o coração inteiro e talvez… recomeçar.
O telefone tocou e ela sorriu ao ver no visor o número da amiga e ex-cunhada.
— Oi Zoe.
— Oi cunhadinha, ligando pra te chamar para beber um pouco, o que acha?
Helen sorriu fechando os olhos. Talvez estivesse precisando conversar e esquecer um pouco.
— Preciso passar no meu antigo apartamento antes, pegar umas coisas…
— Quer que eu vá com você?
— Não, eu estou bem.
Houve um silêncio.
— Tudo bem, onde nos encontramos?

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