O bar já estava cheio, mas Zoe, com seu sorriso confiante e o cabelo preso num coque displicente, fazia parecer que nada ali podia tocá-la. Seu olhar estava afiado sobre a amiga, ou melhor, a cunhada que, à sua frente, girava o copo de gin como se o mundo estivesse contido ali dentro.
Helen suspirou pela terceira vez em menos de cinco minutos. Zoe arqueou uma sobrancelha.
— Se você suspirar mais uma vez, eu vou jogar esse copo pela janela.
Helen soltou um riso fraco, meio trêmulo.
— Eu ainda o amo, Zoe.
— E você já falou isso quatro vezes — disse Zoe, empinando a taça de gin. — E sabe o que é pior? Eu sei que meu irmão está balançado por você.
Helen abaixou o olhar. Sentindo os olhos marejarem.
— Eu fui tão estúpida.
— É, foi mesmo — Zoe respondeu sem cerimônia, e depois completou com um sorriso: — Mas com motivos. Ethan sempre vacilou muito com você no início, e, cá entre nós, meu irmão tem a sensibilidade emocional de um sofá de couro. Mas quando gosta… gosta como um furacão. Destrói tudo, mas também reconstrói.
Helen riu, mesmo que de forma amarga.
— Às vezes, acho que tudo isso é uma ilusão, que vou acordar a qualquer momento e me dar conta de que eu e o Ethan nunca seremos possíveis.
— Helen, você é minha cunhada. E eu sou irmã do Ethan desde que saí da barriga da nossa mãe. Eu conheço aquele ogro. Ele gosta de você, mas ele nunca precisou lidar com esse tipo de sentimento antes, por isso fica confuso e acaba fazendo merda. Por muitos anos ele viveu acreditando que amava aquela lambisgoia, mas o que Ethan sempre sentiu por Miranda era desejo, e talvez o fato dela ter sido a garota popular e desejada do campus acendeu nele o instinto macho alpha, entende?
— Entendo…
— Por mais que não queira e seja doloroso, tem que entender que eles tiveram uma história juntos e isso não se apaga do dia para noite por mais que eu deseje ardentemente que ele aniquile qualquer imagem daquela vagabunda da mente dele.
Helen sorriu e bebeu sua dose.
— Olha, nunca vi o meu irmão agir como agiu ontem. Ele sempre foi um homem centrado, controlado, que não curtia se meter em confusão e brigas, mas ontem, ele partindo para cima daquele cara que te beijou, foi demais!
Helen sorriu.
— Coloca uma coisa na sua cabeça cunhadinha, você é a mulher que desmonta o todo-poderoso Ethan Carter. E isso, minha amiga, é mais raro que diamante rosa.
Helen enxugou discretamente os olhos e sua voz falhou um pouco.
— Hoje… eu ouvi a Miranda.
— O quê? — Zoe se inclinou sobre a mesa, atenta.
— Eu estava em um restaurante. Ia sair assim que a vi. Mas aí ouvi… ouvi ela dizer que forçou o beijo. Que Ethan foi lá pra terminar tudo. Que ele tentou se afastar… mas ela quis me fazer acreditar no contrário. E ela conseguiu.
O silêncio durou dois segundos antes de Zoe erguer-se da cadeira com uma fúria silenciosa.
— Aquela… vagabunda.
— Zoe…
— Não me segura, Helen. Porque eu juro por Deus, por todas as bebidas que bebi hoje e por cada fio de cabelo que esse teu loiro maravilhoso tem, eu vou enfiar a cara daquela cobra no meio-fio. Ela vai esquecer o próprio nome depois da surra que eu vou dar!
Helen riu, mesmo com os olhos marejados.
— Você é louca…
— Sou. Mas sou sua cunhada, e ninguém mexe com minha cunhada. Se ela achou que ia te machucar e sair impune, ela não conhece Zoe Carter.
— Obrigada — disse Helen, com a voz trêmula.
Zoe pegou a mão dela.
— Helen, olha pra mim. Você é a melhor coisa que já aconteceu pro meu irmão. Ele já foi o homem mais frio e fechado que eu conheci… mas depois de você, ele mudou. Não completamente — acrescentou, rindo. — Ainda é um chato mandão. Mas agora ele tem coração e esse coração é seu. Só seu. Então se um dia você quiser devolver, eu te entendo. Mas não devolve por causa de mentiras de uma cobra peçonhenta.
Helen assentiu, com os olhos marejados outra vez.
— Hoje… eu só queria esquecer. Só por hoje.
— Então vamos brindar. Um brinde ao esquecimento momentâneo… e à surra que eu ainda vou dar na Miranda.
— Um brinde à Zoe, a melhor irmã que um homem poderia ter… e a melhor amiga que eu poderia encontrar.
As duas brindaram, rindo. E por alguns minutos, Helen se permitiu relaxar.
Mas os olhos ainda procuravam a porta, mesmo que inconscientemente.
Mais tarde, Zoe olhou para a amiga e notou a oscilação entre o riso e a vontade de chorar.
— Tá na hora. — disse, sacando o celular. — Hora do resgate.
Antes que Zoe pudesse se levantar para segurá-la, Ethan já estava ali.
— Claro que viria… sua chatinha.
Helen o abraçou com força, se encaixando no peito dele como se aquele fosse o único lugar seguro no mundo.
— Ethan… desculpa.
Ele a envolveu com os braços, apertando-a com ternura.
— Eu que tenho que pedir desculpas pra você.
— Me leva pra casa… — pediu, com a voz baixa e sonolenta.
— Com toda certeza — respondeu ele, erguendo-a nos braços com facilidade.
Helen sorriu, encostando a cabeça em seu peito e fechando os olhos. O corpo se rendendo com tranquilidade fazendo Zoe sorrir satisfeita.
— Olha só. Casalzão da porra.
Liam se aproximou e disse, com um sorriso provocativo:
— Quer que eu te carregue também?
Zoe deu um tapa leve no ombro dele e respondeu:
— Só se for pra me levar direto pra um motel, gostosão.
Liam riu.
— Isso pode ser providenciado.
Zoe se virou para Helen e Ethan e murmurou:
— Finalmente. Agora vocês que lutem para se resolver. Eu vou ali ser feliz com o meu homem.
E os quatro saíram do bar. Dois casais, dois recomeços. E uma noite que, com certeza, mudaria tudo.

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