O carro deslizava pelas ruas da cidade com as luzes refletindo nos vidros, como se a noite quisesse conversar com eles. Ethan dirigia com uma mão no volante, a outra firme sobre a coxa de Helen, entrelaçando os dedos com os dela, mesmo que ela já estivesse meio adormecida. O corpo dela estava relaxado, mas o rosto ainda carregava traços de uma batalha interna.
Do banco do passageiro, ela resmungava em voz baixa. Palavras desconexas que só faziam sentido para quem a conhecia muito bem.
— Ethan… você… arrogante… gosta mesmo de me deixar doida — murmurou, com os olhos fechados e um sorriso bêbado nos lábios.
Ele sorriu. Um daqueles sorrisos que poucos viam. O tipo que mostrava uma rendição sem palavras. Porque apesar de tudo, apesar das brigas, da confusão, da bagunça dos sentimentos… ela ainda era a única capaz de fazer seu mundo desacelerar.
— E você ainda acha que sou o perigoso da história — murmurou ele, mais para si mesmo, enquanto fazia a curva rumo ao prédio onde moravam.
Ao estacionar, Ethan deu a volta no carro, abriu a porta do lado dela e se abaixou. Helen piscou lentamente quando sentiu a brisa fria da noite bater em sua pele.
— Já chegamos? — a voz saiu embargada, mas doce.
— Já, chatinha — respondeu com um sorrisinho. — Hora de colocar a princesa no castelo.
Ela riu baixinho e ergueu os braços.
— Me leva no colo. Se eu andar agora, vou cair e bater a cara no chão. E se quebrar esse nariz aqui… vai ser um prejuízo.
— Você e esse ego — disse ele, rindo enquanto a erguia nos braços com facilidade.
— Meu ego é proporcional à minha beleza — respondeu, aninhando-se no peito dele.
— Então você devia estar insuportável.
Helen deu um tapinha fraco no ombro dele, rindo de novo. E então suspirou contra o peito dele.
— Gosto do seu cheiro… — murmurou, já fechando os olhos de novo.
Atravessar o saguão vazio com uma mulher nos braços não era o tipo de cena comum para Ethan Carter, e já era a segunda noite consecutiva que isso acontecia, mas naquela noite ele não se importava com olhares ou julgamentos. Ela estava ali. Dormindo nos seus braços e nada mais importava.
O elevador subiu devagar. O silêncio era confortável, quebrado apenas pela respiração suave de Helen. Ao chegar no andar, ele se apressou para destrancar a porta do apartamento, ainda com ela nos braços, e a empurrou com o pé.
A luz suave do hall de entrada iluminou o rosto dela. E Ethan ficou parado por um instante, só olhando. Era surreal como alguém podia ser tão doce e ao mesmo tempo tão forte. Tão confusa… e ainda assim tão certa. Ela era sua ruína… e sua redenção.
Seguiu para o quarto dela e empurrou a porta com o ombro. O ambiente tinha o cheiro de lavanda e um leve toque de baunilha. A cama estava arrumada, sorriu ao lembrar de como ela gostava de manter tudo limpo e impecável. Deitou-a com cuidado sobre os lençois brancos. Ela abriu os olhos, sonolenta, e sorriu ao ver que ele estava ali.
— Ethan… você ainda tá aqui?
— Onde mais eu estaria?
Ela corou, mesmo bêbada.
Vestiu-a com a camisola como quem toca algo precioso. E quando ela já estava coberta, ele ajeitou os travesseiros e puxou o edredom até a altura do peito dela.
Helen sorriu, com os olhos pesados de sono.
— Por que você tá sendo tão bom pra mim?
Ele a encarou por um momento, depois se inclinou e beijou sua testa com a ternura de quem carrega o mundo inteiro dentro do peito.
— Porque eu amo cuidar de você. E porque você merece isso… e muito mais.
Ela fechou os olhos devagar. Uma lágrima solitária escorreu pelo canto, mas havia um sorriso em seus lábios.
Ethan a observou por mais alguns segundos, como se estivesse tentando guardar cada traço, cada curva, cada suspiro. Então se levantou, apagou a luz principal e acendeu o abajur ao lado da cama, que lançava uma luz suave e aconchegante sobre o rosto dela.
Antes de sair do quarto, voltou até a cama, se abaixou mais uma vez, e sussurrou junto ao ouvido dela:
— Durma bem, chatinha.
E então… sorriu.
Aquele sorriso que era só dela. Ele sabia que algo estava acontecendo entre os dois, por mais confuso que estivesse no fundo, gostava disse e estava decidido a tentar fazer esse casamento dar certo.

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