Helen Carter
A luz suave da manhã atravessava as frestas da cortina quando abri os olhos sentindo uma britadeira no lugar da cabeça. Tudo girava levemente, como se eu estivesse em alto-mar depois de uma noite de tempestade. Soltei um gemido e sentei devagar na cama, percebendo, só então, que estava usando uma camisola de cetim azul clara, que eu definitivamente não lembrava de ter vestido.
Pior… eu não lembrava de absolutamente nada depois da sexta dose de Gin tudo era um branco na sua mente.
— Minha cabeça… está explodindo! — reclamei em voz alta, pressionando as têmporas. — Como eu cheguei em casa? E quem me trocou?!
Cambaleei até o banheiro, cada passo parecendo um esforço gigantesco. O chão gelado me fez arrepiar. E sem tempo pra pensar em mais nada, fui direto para o vaso.
Blargh… blargh…
— Ah, meu Deus… eu acho que vou morrer!
— Deixa de drama, chatinha! — ouvi a voz sarcástica atrás de mim.
Arregalei os olhos, girando a cabeça devagar, ainda ajoelhada, e dei de cara com Ethan entrando no banheiro casualmente, como se fosse a cena mais normal do mundo. Ele segurava um copo de água e uma cartela de comprimidos.
— O… o que você está fazendo aqui?! — perguntei, com a cara pálida e provavelmente um pouco suada. Ainda não estava preparada para olhar para ele, não depois de tudo o que aconteceu entre nós.
— Ora, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença… esqueceu dos nossos votos?
Eu ri fraco, ainda nauseada.
— Bobo…
Ele se agachou ao meu lado e me ajudou a levantar. Me apoiei nele com o pouco de dignidade que me restava. Fui até a pia, lavei o rosto e aceitei o copo e o comprimido.
— Obrigada…
— Toma um banho e depois eu trago seu café.
— Ethan? — chamei, já prevendo a resposta.
— Oi?
— Quem trocou minha roupa?
— Ora, quem mais seria? Eu!
— Vo-você?! — quase engasguei com o comprimido. Por mais que na noite anterior eu praticamente tivesse ficado pelada para ele, mas teoricamente, estava bêbada e ele não precisa saber disso, não é mesmo?
— Sim — respondeu ele, com um sorrisinho nos lábios.
— Ma…
— Que, mente maliciosa, chatinha. Fiz com você o que faria pela Zoe. — Ele cruzou os braços, fingindo indignação.
Eu corei até a alma, só de imaginar ele me despindo e Ethan não ajudou, claro. Uma coisa e estar consciente outra é desmaiada.
— Não me aproveitei de você, se é isso que está com medo. — Ele deu de ombros, mas com aquele brilho safado nos olhos. — Se bem que você implorou e…
— ETHAN! — o interrompi, batendo de leve no ombro dele.
Ele riu alto, aquele riso rouco que sempre fazia minha espinha arrepiar. Seus olhos desceram por mim por um segundo a mais do que o necessário.
— Sabe que você fica ainda mais sexy descabelada, né?
— Ethan… — avisei, mas estava sorrindo.
Ele ergueu as mãos como quem se rende.
— Tá bem, tá bem. Sem provocações, por enquanto.
Sorri encarando ele e antes dele caminhar até a porta para sair do quarto, segurei no seu braço e disse:
— Vamos esquecer tudo e voltar a sermos amigos?
Ethan sorri e levanta a mão acariciando o rosto e diz:
— É o que eu mais desejo, chatinha.
Antes de sair do quarto, ele se virou na porta, olhou por cima do ombro e disse, com um sorriso torto:
— Mas olha… se quiser repetir o que você quase fez ontem… tô na cozinha.
E saiu.
Deixando para trás o cheiro do café recém-passado, o som leve de sua risada e um calor repentino no meu peito. E, bom… em outros lugares também.
Ethan Carter
Saí do quarto de Helen com um sorriso no rosto, mas ele não durou muito. Assim que fechei a porta atrás de mim, a realidade caiu como um peso nos meus ombros. Ela não lembrava… de como me olhou como se eu fosse o seu preferido, da forma como a puxei para mim, como nossos corpos colidiram, como a desejei como nunca desejei mais ninguém.
Ela não lembrou de como me provocou na noite passada e como foi manhosa ontem a noite.
Vi o brilho nos olhos dela. Aquela faísca que eu conhecia tão bem. Mas ela desviou o olhar rápido, como se tentasse esconder o que sentia. Para com isso, Ethan. Não complique mais…
— Só se for de terror! — ela respondeu, com uma provocação.
— Ah não, chatinha, terror não!
— Por quê? Não me diga que tem medo?
— Medo? Eu? Não sou eu quem sai correndo da sala quando vê uma barata voando!
— Seu bobo!
— Vá, coma tudo e descanse. Até mais tarde.
Me aproximei e depositei um beijo suave em sua testa. Só isso. Um beijo leve, simples… mas senti seu corpo enrijecer. Seus olhos se fecharam, e no segundo seguinte, vi sua respiração falhar. Ela parecia… lembrar?
Dei um passo para trás, fingindo não notar, e saí do quarto em silêncio. O som dos meus próprios passos ecoava pelo corredor como se cada batida contra o piso denunciasse a agitação que eu carregava por dentro.
Lá dentro, Helen permaneceu imóvel.
Estática, como se o ar tivesse se transformado em vidro ao seu redor, frágil, cortante.
O calor se espalhava por todo o seu corpo, subindo do peito para o rosto, incendiando cada célula com uma mistura de excitação e terror. Tentou se convencer de que era apenas a tensão do momento, o desconforto de estar vulnerável… mas, então, como se uma cortina fosse arrancada bruscamente da sua mente, os flashes começaram.
O toque firme das mãos dele em sua cintura, a urgência no modo como ele a pressionava contra si, os dedos cravando em sua pele como se quisessem deixá-la marcada. Ela o provocando, a respiração quente no pescoço, os olhos famintos dele a devorando, a maneira que ele gemeu ao sentir o quanto ela o desejava.
Ela arregalou os olhos, sentindo o corpo enrijecer sobre a cama.
— Preciso me acalmar… — sussurrou, como se tentasse convencer a si mesma.
Levou um pedaço de panqueca à boca com as mãos trêmulas. O gosto era bom, macio, adocicado. Mas o sabor que ela desejava era outro.
Helen queria saber qual o sabor da boca dele, queria novamente sentir o toque de suas mãos fortes em seu corpo de maneira autoritária… seu corpo inteiro latejava, como uma ferida exposta por vez, uma fome por algo que ansiava mais que tudo.
Helen fechou os olhos por um breve instante, tentando recuperar o controle. Era só carência, só uma ilusão. Era só o desejo falando mais alto, claro que era.
Mas no fundo, bem no fundo, ela sabia…
Nada seria mais perigoso do que permitir que aquele homem se aproximasse outra vez. Porque se ele o fizesse… ela não teria forças para impedi-lo.
E dessa vez… ela talvez nem quisesse.

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