O sol batia direto nas laterais do toldo verde sobre as mesas externas do café, mas Ethan não se importava com o calor. Sentado ali, de óculos escuros, com os dedos inquietos ao redor da xícara ainda intocada, ele parecia uma estátua prestes a trincar.
Havia tensão em sua postura, uma rigidez contida nos ombros, como se estivesse à beira de um abismo, uma verdade, um fim.
Miranda chegou poucos minutos depois, impecável. Os cabelos soltos, os saltos altos estalando com arrogância. O batom vermelho sangrava sobre os lábios perfeitamente desenhados, mas o brilho nos olhos… era ácido.
Ela se aproximou como uma tempestade contida, e o sorriso que exibiu era um corte fino, afiado, cruel.
— Nossa… que milagre. A esposinha finalmente deixou você vir? Ou teve que escapar escondido pra me ver?
Ethan tirou os óculos lentamente. Os olhos azuis pousaram sobre ela com um cansaço doído.
— Miranda, por favor…
Ela se sentou com um estalo de irritação, jogando a bolsa na cadeira ao lado, cruzando as pernas com um movimento teatral.
— Por favor? Ethan, você realmente me chamou aqui pra me pedir “por favor”? — Ela riu, sem humor. — O que vem agora? Um sermão? Um pedido de desculpas falso? Ou quem sabe o clássico: “a culpa é minha, você é perfeita, eu só estou confuso”?
Ethan passou as mãos pelos cabelos e inspirou fundo, como se cada palavra precisasse atravessar um campo minado antes de sair.
— Eu chamei você para fazer o que tinha ido fazer naquela noite, dar um fim a tudo, Miranda. — A voz era baixa, mas havia um corte nela.
Ela o encarou como se ele tivesse cuspido um veneno irreversível.
— O que disse?
— Não é justo você continuar presa a mim. Esperando algo que eu… não posso dar. Você merece ser feliz e o que deseja é algo que eu não posso te dar.
Ela largou a mão sobre a mesa, o anel tilintando no tampo de madeira.
— Por quê?
A palavra veio fraca, mas o olhar… era uma faca.
— Foi porque você deixou de me amar? — Ela riu, mas sua voz tremia. — Ou porque aquela criatura melosa abriu as pernas pra você? Foi isso, Ethan? A songa-monga te deu uma noite de dó e você se encantou feito um garotinho?
Ethan cerrou os punhos e seus olhos endureceram.
— Miranda… pelo amor de Deus…
— Pelo amor de Deus?! — Ela bateu na mesa. — E nós, Ethan? E tudo que vivemos? E tudo o que suportei por você? Você me enganou, me iludiu. Me prometeu um futuro, porra! Eu fui fiel enquanto você se escondia atrás das suas desculpas!
Ele tentou manter o controle, mas o sangue já martelava nas têmporas.
— Você sabe que minha situação sempre foi diferente. Nada disso foi simples pra mim. Eu…
— Diferente? — Ela o interrompeu, com a voz afiada. — O que foi que mudou, Ethan? Foi depois que você a fodeu? Ficou com pena da coitadinha? Foi isso? Você transou com ela, viu que ela não era só uma órfã emocional e decidiu mudar de vida?
— Não fale assim da Helen.
Ela deu a volta na mesa, com os olhos agora marejados, mas a voz trêmula de ódio.
— E agora vai me trocar por uma mulherzinha de voz baixa e cara de santa? Vai jogar tudo fora por causa de alguém como ela?
Ethan ficou de pé, com o corpo rígido.
— Eu estou apenas escolhendo por mim, Miranda. Pelo o que sinto, Helen não tem nada a ver com as minhas escolhas.
— Eu não vou abrir mão de você! — ela gritou. — Principalmente por causa dela!
Ela avançou, empurrando-o no peito com as duas mãos. Uma. Duas vezes. Ethan não revidou. Só segurou os pulsos dela com firmeza a afastando devagar.
— Você já perdeu, Miranda.
Ela arregalou os olhos, o corpo vacilando como se ele tivesse lhe dado um tapa.
Por um segundo… ela pareceu implodir.
Mas então virou as costas e saiu do café com passos duros, os ombros tremendo, o orgulho estilhaçado aos seus pés, deixando Ethan sozinho com o peito apertado, a respiração acelerada mais, finalmente, livre.
Livre para se entregar ao que estava sentindo por Helen, sem receios. Livre para abrir o seu coração. E a certeza de que, pela primeira vez, havia escolhido o caminho certo.
Mesmo que esse caminho o obrigasse a enfrentar os próprios medos.

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