A manhã avançava devagar, como se o tempo estivesse em conluio com o universo para não interromper o momento entre os dois. A cozinha ainda cheirava a café fresco, e as pantufas de panda descansavam perto da porta, como sentinelas de um sentimento que acabava de florescer.
Helen e Ethan estavam abraçados junto à bancada, os corpos colados num encaixe natural, como se tivessem feito isso a vida toda. Ele brincava com uma mecha do cabelo dela, enrolando no dedo com distração, enquanto desenhava círculos com o dedo sobre o peito dele, onde o botão da camisa ainda estava aberto.
— Ethan… — ela começou, com a voz baixa — sobre a viagem…
Ele não respondeu de imediato. Apenas deslizou os dedos até o queixo dela e a fez olhar em seus olhos.
— Eu quero que você vá comigo. Quero que você vá como… você. A mulher que me faz rir, que me faz pensar, e que me faz… — ele suspirou, pressionando a testa contra a dela —… ficar nervoso como um adolescente quando acorda com a mão dela no lugar errado.
Helen riu, mordendo o lábio.
— Você nunca vai esquecer isso, né?
— Nunca. Já virou meu trauma favorito.
Ela o empurrou de leve, e ele a puxou de volta pela cintura.
— Vai ser uma viagem intensa, Helen. Eu não sei tudo o que vai acontecer. Mas sei que quero você comigo. Como parceira… e quem sabe, algo mais.
Ela assentiu devagar.
— Eu também quero estar com você. Mesmo que você continue sendo um convencido de short de panda.
— Ei! Esse short é uma declaração de moda!
— Uma declaração de desespero, talvez. — ela retrucou, rindo.
Ele segurou o rosto dela entre as mãos, com aquele olhar que dizia tanto em silêncio. Aquele olhar que dizia: “você me vê como ninguém.”
— Acha que a Rússia está pronta pra gente? — ele provocou.
— Sinceramente? — Helen entrelaçou os dedos aos dele. — Acho que a Rússia não faz ideia do que está por vir.
Ethan riu e puxou-a para mais um beijo. Um daqueles que aquecem de dentro pra fora.
Mas antes de selar os lábios, ele murmurou contra a boca dela:
— Mas, chatinha… só pra constar… se tiver barata no hotel, você resolve.
— VOCÊ TÁ MALUCO?! — ela gritou, dando um tapa no braço dele. — Acorda, Ethan! Eu sou a que se esconde embaixo da mesa, lembra?
— Nesse caso, levarei minha pantufa de panda como arma de defesa.
— Excelente. Nada mais intimidador do que um panda de pelúcia pra espantar monstros voadores.
Os dois gargalharam.
✲ ✲ ✲
A noite havia avançado suavemente, tudo parecia suspenso no tempo. Ethan e Helen estavam no sofá, cobertos por uma manta leve, com os pés descalços e duas taças de vinho pela metade sobre a mesinha de centro.
Helen se inclinava levemente sobre Ethan, a cabeça repousando em seu ombro. Ele tinha um braço ao redor dela, os dedos distraídos traçando pequenos círculos no tecido do vestido que ela usava.
— Isso aqui… está indo rápido demais? — perguntou ela, quebrando o silêncio confortável.
Ethan virou levemente o rosto, encarando-a com ternura.
— Está indo no ritmo certo — respondeu, com aquela voz grave que sempre fazia o coração dela acelerar. — E se quiser ir devagar… eu vou no seu tempo.
Helen ergueu o rosto, tocando o queixo dele com carinho.
— Devagar parece bom. Não quero queimar o que ainda nem começou.
— Nem eu. — ele sorriu. — Mas… só pra constar: eu tenho pouca resistência quando você encosta em mim daquele jeito.
— Qual jeito?
— Aquele jeito de hoje cedo, quando acordamos e você quase me matou do coração.
— Você nunca vai me deixar esquecer, né?
— Nem quero.
Ela riu, batendo de leve no peito dele. Ethan segurou a mão dela e a beijou devagar, nos dedos, um por um.
— Mudando de assunto… — ela disse, com um suspiro leve. — Adivinha quem ligou?
— Espero que não tenha sido o Liam me falando sobre mais alguma reunião chata antes de viajar.
Helen riu.
— Foi a sua mãe.
— E o que ela queria?
— Lembrar sobre os presentes e dizer que comprou umas coisas para mim, ela disse que está organizando um jantar com nossa família, quando voltarmos. Disse que minha mãe, minha irmã… e o Michael vão estar lá também.
Ethan revirou os olhos tão fortes que quase viu a alma saindo.
— Michael. — disse com nojo, franzindo a testa. — Seu primo que me ama de todo coração?
— Algum chato provavelmente.
Ela se levantou, arrumando os cabelos com os dedos e foi até a porta.
Ao abrir, Zoe entrou sem cerimônia nenhuma, seguida por Liam, que carregava uma sacola de comida.
— Vamos logo, que eu tô morrendo de fome! — anunciou Zoe, jogando o casaco sobre o sofá e tirando os sapatos como se estivesse em casa.
Helen arregalou os olhos.
— Zoe?! O que vocês estão fazendo aqui?
— Ethan vai viajar e passar uma semana longe, tem umas coisas da empresa que preciso rever com ele antes dele viajar. — respondeu Liam, já colocando a comida sobre a mesa. — Trouxe a comida!
Ethan surgiu na sala com a blusa torta e cabelo bagunçado. Liam olhou e sorriu dizendo:
— Ahhhh… entendi tudo. — disse o cunhado, divertido.
Ethan lançou um olhar de ameaça.
— Não diga uma palavra, Liam. --- falou entredentes.
— Eu? — Liam ergueu as mãos, rindo. — Só estou feliz que finalmente tá rolando!
Zoe correu até a cozinha, ignorando tudo.
— Tem arroz? Pelo amor de Deus, não aguento mais salada.
Helen cobriu o rosto com as mãos.
— Alguém me coloca numa mala e me despacha logo para Rússia.
Ethan se aproximou por trás dela, sussurrando no seu ouvido:
— Se for pra dividir a mala contigo, eu vou sorrindo.
Helen deu um tapa no braço dele, rindo.
E Liam, do outro lado, observava a cena com um sorriso satisfeito. Ele sabia. Dava pra ver nos olhares, nos gestos, nos sorrisos bobalhões…
O que estava nascendo entre eles não era só desejo.
Era início, promessa, amor em construção e nenhuma viagem seria mais bonita que essa.

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