Chego em casa cansada e com a cabeça pesada, minha mente está a milhões e como sempre não consigo retirar os olhos magoados de Layonel da minha cabeça. Eu jamais deveria tê-lo tratado daquela maneira, não tenho esse direito e me sinto péssima por ter sido tão rude.
Desvio meus pensamentos ao ver Daisy debruçada sobre a mesa da cozinha desanimada e triste enquanto Ellen lava a louça do jantar, seus olhos vermelhos e irritados me preocupam e a congestão nasal havia piorado dificultando sua respiração.
Tudo indica que sua bronquite está atacada, mas o que mais me preocupa é a bombinha de asma com os broncodilatadores caso ela entre em crise.
Dou um beijo em sua testa e ela se encolhe na cadeira manhosa, já estava tarde e provavelmente a escola exigiu muito dela.
-Quer ir dormir menina linda da mamãe? –Sorrio a pegando no colo.
Ela balança a cabeça afirmativamente enroscando as pernas em minha cintura, acaricio seus cabelos castanhos claro como os meus e ela deita sua cabeça em meu ombro.
-O bebê da mamãe já está uma moça, daqui a pouco não consigo mais te pegar no colo. –Beijo seus cabelos com cheirinho de morango.
-Ela já jantou. –Ellen limpa a mão molhada. –Mas, não comeu muito, está manhosa e quietinha hoje.
-Obrigada Ellen, vou ver se compro os remédios dela amanhã na farmácia do Flávio, tenho certeza que ele não se importará de esperar meu próximo pagamento.
-Flávio é uma boa pessoa, ele entenderá a situação. –Elle deixa o pano sobre o encosto da cadeira para secar. –As coisas irão melhorar Hana, tenha fé, você me acolheu quando eu não tinha nada, o seu coração é imenso. Sairemos dessa situação juntas. –Ellen apoia a mão em meu ombro e as lágrimas escorrem livres por meu rosto.
-Obrigada Ellen. –Puxo o ar com força por ter o nariz entupido.
-Mamãe? –Daisy passa as mãozinhas em meu rosto enxugando minhas lágrimas.
-Oi minha princesa, está tudo bem. –Beijo sua bochecha.
-A cama dela está pronta. –Ellen pisca para mim. –E eu também vou me deitar. –Segue para o andar de cima e eu a acompanho levando Daisy para seu quarto.
Coloco minha garotinha deitada em sua cama das princesas da Disney e me surpreendo ao ver que ela já estava dormindo. O chiado em seu peito e a respiração pesada me deixam preocupada. Arrumo a coberta da Elsa e da Anna sobre seu corpo e ela resmunga se encolhendo.
Acaricio suavemente seus cabelos e deixo um beijo leve em sua testa para não acorda-la. Sabia que precisava comer algo, pois o dia todo com algumas xicaras de café não me sustentariam em pé por muito tempo, mas antes de me alimentar opto por tomar um banho relaxante.
Ao terminar visto um short de pijama folgado de seda rosa claro e uma blusa do conjunto, era fino e confortável. Fazia calor dentro de casa, mas lá fora o vento provavelmente deveria estar gelado.
Ao pegar o pente para escovar meus cabelos esbarro na bolsa de mão que usei naquela noite. Precisava devolver todas essas coisas ao verdadeiro dono, mas ao abrir para ver se não havia esquecido de nada encontro a gravata borboleta de Layonel.
Mordo os lábios contendo as emoções que querem me tomar e seguro o pequeno pedaço de pano entre os dedos o observando com calma e logo o cheiro forte de seu perfume amadeirado dominando meus sentidos por completo.
Ignorei completamente suas palavras gentis ao falar que minha presença na festa o acalmava e acabei sendo grossa quando ele estava pedindo desculpas. Eu sou uma pessoa horrível, permito que as lágrimas escorram pelo meu rosto não mais as contendo em meu interior.
Choro por diversos motivos e razões, mas um deles é ver o quão quebrado Layonel e eu conseguimos ser. A diferença é que estou tentando seguir em frente e ele pelo que posso ver não faz nada.
Passo os dedos pela pequena gravata a fitando mais do que deveria, por um momento quase a levo ao nariz para sentir de perto seu cheiro, mas antes de concluir aquele ato impensado a coloca dentro da bolsa onde era seu lugar. Seco minhas lágrimas com as costas das mãos tentando não me culpar por tudo o que tem acontecido comigo.
Irritada com os meus pensamentos e emoções que me jogam em picos de ódio e tristeza. Desço as escadas para ir jantar e me assusto ao ouvir a campainha tocar, franzindo as sobrancelhas olho o relógio da sala vendo que são mais de dez horas da noite.
Receosa em abrir a porta pondero se deveria ou não ir até lá, afinal, ninguém viria na minha casa uma hora dessas, mas a insistência na campainha começa a me irritar, pois Daisy estava dormindo e acorda-la agora seria a pior coisa que poderia acontecer.
Caminho até a porta a abrindo em um solavanco e arregalo os olhos ao ver Layonel parado no portão.
-Layonel? –O observo assustada. –Aconteceu alguma coisa? –Pergunto preocupada.
Ele desviar o olhar desconfortável passando as mãos pelos cabelos, olho para mim me lembrando que estava de pijama e cruzo os braços na tentativa de me esconder meus seios sem sutiã.
-Preciso da sua ajuda. –Diz desconfortável.
-E como posso ajudá-lo? –Pergunto confusa e ele mostra as pastas. -Você estava na empresa até agora? –Pergunto perplexa e ele maneia a cabeça em um sim.
Mordo os lábios sabendo que na verdade essa pasta chegou antes mesmo do almoço, porém foi o momento em que ele me chamou e eu acabei me esquecendo de vê-las.
-Está tarde eu não deveria ter vindo até aqui eu sei, mas o aniversário de Walter e da esposa é daqui a três dias e ele precisa da minha resposta hoje. –Diz visivelmente constrangido se preparando para ir embora.
-Espere. -Retiro a chave da porta abrindo o portão para que ele entre. –Entre o erro foi meu, deveria ter levado os papéis para você antes do almoço.
-Tudo bem. –Suspira cansado.
-Pode entrar. –Indico a porta segurando as pastas que tenho que olhar e faço uma careta ao ver que eram papéis realmente importante.
-Me desculpe te pedir isso a essa hora, mas você é boa no que faz. –Diz um tanto constrangido.
O observo silenciosa e sei que preciso me desculpar pelo ocorrido de mais cedo, afinal, esse assunto não sai da minha cabeça e está me enlouquecendo.
-Layonel me desculpe por mais cedo. –Digo com sinceridade olhando dentro dos seus olhos.
Ele desvia seu olhar do meu pensativo, mas logo vejo um sorriso sincero dançar em seus lábios.
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