Respiro e inspiro profundamente tentando manter a calma. Não quero ser grossa com ele mais uma vez quando me ajudou com Daisy, mas está difícil toda essa curiosidade desnecessária. Layonel é apenas meu chefe e não tem que se envolver em minha vida pessoal assim como eu não me envolverei mais na dele.
Tento manter a calma ignorando os seus comentários antes que eu perca a paciência e minha barriga ronca ruidosamente me deixando constrangida. Somente agora me lembro de não ter comido absolutamente nada o dia todo.
-A quanto tempo está sem comer? –Ele cruza os braços me observando carrancudo.
-Isso com toda certeza não importa. –Me concentro em acariciar os cabelos macios de Daisy.
-Importa, pois tenho notado que você não está saindo para almoçar esses dias, ou seja, está sem comer o dia todo. –Ele me acusa descaradamente.
-Meu Deus, você por um acaso é algum espião secreto? Ou gosta de bisbilhotar a vida dos seus funcionários? Você já fez muito por mim hoje Layonel, pode ir para casa dormir e nos vemos na empresa amanhã, certo? Eu e Daisy agradecemos imensamente a sua ajuda. –Sorrio gentilmente e agradecida, mas querendo que ele realmente vá embora por me sentir pressionada diante daqueles olhos verdes curiosos e questionadores.
Ele semicerra os olhos me observando irritado, após alguns minutos respira profundamente e se levanta saindo da sala a passos rápidos e decididos.
Sem se despedir ou me dizer algo me deixa ali com Daisy como eu havia pedido. Não vou me lamentar, pois a culpa é dele em tentar bisbilhotar um assunto que não cabe a ele, minha vida pessoal já está uma desordem e não preciso do meu chefe me dizendo o que fazer ou simplesmente me acusando.
Me recosto na cadeira e minha mente cheia tem um turbilhão de pensamentos por segundo me causando uma tremenda e irritante dor de cabeça, se não bastasse tanta má sorte minha barriga ronca novamente querendo comida.
Apoio as mãos na testa e mesmo que me force a não pensar em Layonel, quero saber os motivos do porque ele está agindo dessa forma.
Eu não quero perder esse emprego.
Não quero que ele descubra sobre a dívida, pois pelo pouco que o conheço sei ele vai se envolver, pois não está afetando só a mim. O único problema é que isso não é uma obrigação dele. Ele é apenas meu chefe e jamais quero tirar proveito da sua bondade assunto encerado e ponto final, tento convencer meu cérebro.
Me encolho na cadeira abraçando meu próprio corpo com mais força, o seu terno quente me reconforta e o seu cheiro me faz sorrir involuntariamente. Inspiro aquele perfume maravilhoso deixando a lapela de seu terno bem próxima ao meu nariz para gravar sua fragrância maravilhosa em meus sentidos.
Daisy tem uma respiração mais calma e agradeço a Deus por nada de ruim ter acontecido com minha filha. Sua respiração está mais leve e isso me deixa aliviada.
As lágrimas brotam em meus olhos sem minha permissão e tento ao máximo não chorar, mas eu estava cansada, completamente fragilizada e sem forças para brigar com o mar de sentimentos que turbilhonavam minha mente e meu peito.
Layonel não pode ser tão gentil dessa maneira, esfrego os olhos na manga de seu terno esgotada psicologicamente. Ele simplesmente não pode, essa gentileza está fazendo algo crescer dentro do meu peito e eu quero arrancar esses sentimentos pela raiz o mais rápido possível e o pior de tudo é saber que gosto dele.
Depois de minutos chorando me lembro que deixei Ellen sem notícias e precisava ligar para ela. Me lembro também que sai de casa sem celular e sem carteira. Para ajudar mandei Layonel embora. Ótimo, palmas para mim, acho que mereço um prêmio.
Essa é a consequência de engolir tantos problemas e sorrir no final do dia, chega uma hora que todos eles se acumulam e extravasam de alguma maneira.
Suspiro com dificuldade por ter o nariz tampado devido tanto choro, a porta do quarto se abre rapidamente e salto da cadeira esfregando os olhos nas mangas do terno pensando ser Layonel, mas era apenas o doutro Victor.
-Te assustei? –Ele pergunta preocupado.
-Não. –Respondo fanha.
-Você está bem? Parece muito cansada, pode usar uma das macas para dormir, não teremos paciente por agora e essa é a ala pediátrica. Você não precisa chorar dessa maneira sua filha está bem. –Ele aperta meu ombro em sinal de conforto.
Acabo sorrindo devido a sua preocupação. Mal sabia ele a desordem que se encontrava minha vida e mente.
-Obrigada! Estou bem não se preocupe é difícil vê-la assim. –Observo minha menina e o aperto em meu peito se intensifica.
-Drevitch pediu que lhe entregasse isso. –Me entrega uma sacolinha e meu coração se despedaça.
Engulo o nó na minha garganta e forço as minhas mãos tremulas a segurarem o lanche natural com um sorriso no rosto.
-Obrigada! –Agradeço novamente.
-Se precisar de algo é só chamar. –Ele se vira para ir embora, mas desvia seu caminho para um armário que ficava no canto.
Abre o armário com uma chave e destaca um pequeno comprido da cartela, pega um copo de água me entregando logo em seguida.
-Tome vai te ajudar a descansar. –Ele entrega o comprimido e água para mim.
Nem pergunto o que é apenas tomo como me foi indicado e assim Victor sai me deixando a sós com Daisy. Meu coração se encontra entristecido por ter sido dura com Layonel enquanto sua gentileza e preocupação sempre predomina me surpreendendo.
Olha para o lanche como se ele pudesse de alguma forma enviar o meu pedido de desculpa a Layonel, mas isso não seria possível. Sem muito rodeio como todo o lanche, pois realmente estava com fome e agradeço mentalmente por ele ter escolhido peito de peru e não salame que sempre me faz mal.
Depois de comer e me sentir satisfeita jogo o pacotinho no lixo me sentando novamente ao lado da cama de Daisy, encostando minha cabeça no colchão abraçando meu próprio corpo e quando menos espero meus olhos começam a pesar. Tento lutar contra o sono, mas o cheiro do seu perfume de alguma forma me acalma e me traz segurança e quando menos espero embalo em um sono pesado e profundo.
Layonel
Peço para Victor entregar o lanche para Hana, pois ela realmente parecia faminta. Aproveito esse tempo para ir a um supermercado que fica em uma esquina próximo a clínica. No caminho liguei para Leonardo e pedi que me enviasse a ficha completa de Hana o mais rápido possível.
Ao chegar no supermercado compro alguns salgadinhos, água e um refrigerante para ela, acabei comprando um pacote de MM por não resistir à tentação de comer doces.
Fico perambulando pelas gondolas mais tempo do que gostaria por estar indeciso do que levar para ela. Eu não sei as coisas que ela gosta de comer então acaba sendo difícil escolher, por fim opto por coisas do meu gosto na esperança de que ela também goste.
Ela poderia facilitar as coisas para mim, mas entendo sua insegurança ao descobrir que ela foi traída. O seu ex-marido deve ser um completo babaca por perder uma mulher tão forte e incrível como ela.
Victor me questionou de todas as formas querendo saber quem era Hana e Daisy. Ele é um amigo de longa data e me ajudou muito em um momento complicado da minha vida, mas isso não quer dizer que lhe devo satisfações.
Passo as minhas compras e volto rapidamente a clínica torcendo para que Victor fique bem longe de Hana e Daisy ou eu mesmo acabarei com sua raça. Ela parece ter sofrido muito com o ex-marido não precisa de outro mulherengo ao seu redor.
Entro no quarto e me surpreendo ao vê-la toda torta e desconfortável dormindo na cadeira. Ela segurava a mão de Daisy apoiando sua cabeça em seu próprio braço como travesseiro.
Hana é tão vulnerável e frágil que chega a ser preocupante, deixo as compras sobre a cadeira vazia para chama-la, mas acabo não querendo acorda-la por ver que está em um sono profundo.
Solto sua mão que seguram a da filha e apoio sua cabeça em meu peito para pega-la no colo, assim posso passar meu braço livre em suas pernas e suas costas a aninhando em meu colo.
Suspiro ao ver que ela havia chora, seus lábios estavam inchados e vermelhos assim como seus olhos e seu nariz, por esfregar diversas vezes a manga do terno nos olhos eles estavam levemente machucados.
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