As duas faces do meu chefe romance Capítulo 35

Layonel L. Drevitch

Depois de dispensar Juan voltei para mesa onde os empresários me esperavam e com rapidez terminei aquela reunião sem nem ao menos prestar a devida atenção no que realmente estavam falando.

Era para ter fechado um grande contrato com uma filial de mercados, mas minha falta de atenção e interesse acabou dispersando meus pensamentos e a reunião precisou ser remarcada, ou melhor dizendo a visão de Hana sendo guiado por Juan pelo restaurante me tirou a paz.

Depois daquela visão desconcertante não consegui mais focar no trabalho.

Aperto o volante entre os dedos ao recordar a imagem das mãos de Juan tocando as de Hana com suavidade, seus olhos fixos nos dela com grande atenção e carinho. Um advogado não deveria se envolver com seus clientes dessa maneira.

Automaticamente bufo irritado e vejo os olhos preocupados e cansados de Hana sobre mim, não consigo controlar minha raiva.

Ela negou o meu pedido, me ignorou, não quis me atender e ainda assim saiu com Juan para um jantar quando tínhamos que resolver nossos assuntos pessoais. Hana consegue me tirar do sério, consegue deixar meus sentimentos um mar revolto e tempestuoso.

Como ela consegue isso? Nem mesmo eu sei, mas ela me deixa absurdamente enciumado e o pior é que não tenho direto de exigir nada dela e isso é uma das coisas que mais me irrita.

Eu quero que ela seja minha, mas é difícil colocar isso em palavras e dizer. Isso tudo é tão complicado e desgastante.

Já estou velho demais para ficar nesse jogo de chove e não molha ou de gato e rato, somos adultos e mal conseguimos resolver nossos problemas e confesso que isso está pior do que eu poderia imaginar.

Hana não está errada em exigir que eu conte mais sobre mim. Sempre soube que esse dia chegaria, mas não imaginei que seria da maneira como foi.

E agora me encontro com Hana sentada ao meu lado em dos meus carros, com os braços cruzados sobre os peitos, olhos cansados magoados e perdidos no nada. Seus lábios carnudos estão em uma linha reta e fina e ela mexe as pernas impacientemente esperando que eu fale algo, mas na verdade não sei por onde começar ou como deveria começar, nem mesmo sei se realmente deveríamos começar essa conversa.

Estou tão confuso e isso é extremamente frustrante e irritante.

-Você não precisava tratar Juan daquela forma. –Hana me observa com um olhar de repreensão.

Suas palavras me jogam de volta ao restaura. Eu estava atenciosamente ouvindo Bruno falar sobre a nova filial de mercados que abrirá no Brasil quando o barulho de saltos finos chamou minha atenção, automaticamente voltei minha atenção ao som insistente que caminhava em minha direção. Meu coração se acelerou ao subir os olhos por pernas torneadas e definidas, uma meia fina que marca suavemente sua pele clara. O vestido verde acima dos joelhos acentuava seus quadris largos, seus seios estavam apertados dentro do decote comportado, mas que realçava suas curvas perfeitamente, instintivamente me inclinei para observa-la melhor, mas a decepção tomou conta dos meus pensamentos ao ver Juan tocando a base de sua coluna por baixo de seus cabelos guiando-a por entre as mesas do restaurante.

Naquele instante tive vontade de me levantar e força-la a ir embora comigo.

Sim, sou extremamente possessivo e eu sei disso, não preciso que ninguém me conte e isso parece se aflorar ainda mais quando o assunto é Daisy e Hana.

O corpo maravilhoso de Hana, seu sorriso e olhos brilhantes eram somente meus e Juan não tinha o direito de vê-los, não com toda aquela sinceridade explicita neles, não com o carinho que eles expressavam, não com a esperança estampada em cada traço de seu rosto. Aqueles sentimentos tão puros deveriam ser destinados a mim e não a ele e isso só fazia a raiva em meu coração aumentar.

Mesmo com todos esses sentimentos explícitos em sua face Hana parecia de certa forma desconfortável diante de Juan, aquilo acalmou um pouco o meu coração, mas meus olhos não desgrudavam de seu corpo e de seus movimentos por um segundo sequer e no instante em que ele tocou sua mão com cuidado apertei os talheres entre os dedos com força me segurando para não ir até lá ou atirar a faca em sua direção. Claro que isso seria um perigo já que minha mira não é das melhores então me contentei em saltar um suspiro decepcionado e me acalmei ao ver Hana retirar suas mãos das deles.

Aquilo me fez sorrir por ver que ela não se sentia confortável com seus toques diferente dos meus que ela se entrega mesmo que relutante.

Por um momento tive que desviar meus olhos dos dois ao ser chamado por Bruno, mas nem ao menos prestei a atenção no que havia dito apenas sorri e assenti sem muito interesse, entretanto não deixei que ele percebesse.

Assim que voltei novamente meus olhos para os dois, Hana o olhava com ternura e compreensão como se entendesse Juan, seus olhos o observam com um certo amor o que fez meu estômago se revirar. O clima dentro daquele restaurante estava quente e pesado demais e aquela gravata que eu tanto odeio apertava meu pescoço, fui obrigado a puxar o colarinho da minha camisa que sufocava a passagem de ar para meus pulmões e me impedia de engolir a saliva que se formava em minha boca, pois o nó na garganta estava apertado demais.

Irritado com toda aquela palhaçada retiro a caneta do bolso do terno e escrevo e escrevo em papel qualquer que encontro sobre a mesa. Chamo o garçom com um aceno e peço para ele entregar o pequeno bilhete a Hana. Sem demora ele cruza o salão lhe entregando o pequeno papel e instantaneamente aqueles maravilhosos olhos cor de Mel se voltam em minha direção surpresos.

Por poucos segundos ela sustenta meu olhar e a ternura e amor que ela expressava para Juan se esvaem dando lugar ao desespero, medo e incompreensão, mas bem lá no fundo eles brilharam ao me observar silenciosa.

Aqueles sentimentos expressos diretamente para mim acabaram comigo, literalmente esmagou minhas esperanças de um dia tê-la por completo em meus braços e naquele momento eu precisava toca-la. Precisava desesperadamente ver o desejo brilhar novamente em seus olhos, então sem pensar duas vezes a segui até o banheiro a encurralando naquele espaço sem medo ou receio.

É maravilhoso ouvi-la gemer e se entregar a mim sem medo, mas eu estava irritado demais para apreciar com calma seus gestos e feições e queria tira-la dali o mais rápido possível.

-Você poderia pelo menos dizer algo? –Sua voz se altera assim que estaciono o carro na garagem da minha casa.

-Foi um prazer acompanha-lo Juan. –Imito sua voz melosa e recebo um olhar duro.

-Você é pior do que uma criança. –Bufa irritada.

-Eu sei disso não precisa jogar na minha cara. –Reviro os olhos.

Eu realmente sabia, pois era verdade. Talvez era por isso que me dava tão bem com Daisy, por entende-la tão bem.

-Já chega eu quero ir embora. –Diz magoada. -Não tem a menor possibilidade disso dar certo você está muito irritado e isso faz de você insuportável. –Ela diz séria.

-Obrigado pela sinceridade. –Semicerro os olhos a observando. –Vamos logo para dentro.

-Eu não quero ir. –Insistente chateada.

-Nós precisamos conversar certo? Então apenas vamos. –Suspiro.

-Vai parar de ser sarcástico e irônico? –Aperta os braços sobre o peito com os olhos marejados.

Respiro profundamente e sei que meu humor não fica dos melhores quando estou nervoso. Puxo o ar com força e solto calmamente tenta controlar o mar de sentimentos que me assolam. Com cuidado me aproximo de Hana que recua um pouco chateada, mas acariciando seu rosto com o polegar. Ela afasta minha mão e desvia os olhos dos meus deixando que as lágrimas escorram por seu rosto.

-Me desculpe Hana. –Peço com calma e gentileza. –Eu sei que meu humor fica insuportável quando estou irritado, mas estou com raiva de Juan.

Seus olhos cor de mel tristes se voltam para mim molhados pelas lágrimas e com suavidade passo o polegar por sua bochecha deslizando minha mão para sua nunca onde seguro a trazendo para mim e acabo deixando um demorado beijo em sua testa.

-Eu não sabia que ele iria me levar aquele restaurante. –Ela apoia a mão em meu peito. –Era apenas um jantar para que ele pudesse me explicar sobre o que está acontecendo com o banco. –Ela tenta explicar.

Sei que sua inocência jamais visualizaria as intenções contrarias de Juan.

-Eu sei que a culpa não é sua, mas estou nervoso mesmo assim. Vamos entrar por favor? –Peço educadamente e recebo um sorriso satisfeito e feliz.

-Somente porque você pediu desculpas pela sua falta de educação.

Acabo rindo do seu jeito e ao saímos do carro a brisa fria do mar faz Hana se encolher e cruzar os braços com frio. Retiro meu terno jogando sobre seus ombros para cobri-la e esquenta-la.

A guio até a porta permitindo que ela entre. Maria já estava dormindo o que nos dava a liberdade de ter a casa somente para nós.

-Venha, vamos para o meu quarto aqui está frio e será melhor não acordamos Maria caso você queira arremessar objetos em mim por algum motivo que eu não saiba. –Digo e ela para no meio da sala me observando com os olhos serrados.

-Eu não vou arremessar objetos em você sem motivo, nem com motivos eu faria isso. -Diz indignada.

-Tão linda.

-Layonel. –Me repreende com aquela voz doce o que só me instiga a quere-la ainda mais. –Ainda estou brava com você. –Cruza os braços se afastando para me observar.

-Eu também estou, mas a vontade de tocar seu corpo acaba falando mais alto. –Semicerro os olhos encarando-a.

-Você não tem motivos para estar bravo comigo. –Balança a cabeça em negativo rindo.

-Tenho muitos e um deles é esse vestido. –Desço meu olhar pelo seu corpo e ela se remexe desconfortável.

-Meu vestido não tem nada de errado e você rasgou minha meia. –Suspira seguindo para as escadas. –Vamos logo para o quarto já que quer conversar lá.

Cruzo os braços analisando suas costas enquanto ela sobe os degraus, seu quadril se move de um lado para o outro elegantemente naquele vestido verde apertado.

-Vem logo Lincoln. –Meu segundo nome saindo de seus lábios daquela maneira faz os pelos do meu corpo se eriçarem.

Sempre odiei meu segundo nome e depois de Valéria as coisas pioraram, mas Hana tem um efeito contrário em mim.

Sou possessivo, arrogante e territorial.

O que é meu, simplesmente é meu e de mais ninguém e Hana com toda certeza é minha, mas ela consegue driblar todos esses sentimentos os usando contra mim.

Vê-la com Juan me causou todos os sentimentos possessivos existente, mas depois de toca-la e ver o desejo explícito em seus olhos junto dos seus gemidos, aquele ódio momentâneo passou e aqui estou eu em um emaranhado de sentimento que nem mesmo eu consigo controlar.

Mordo os lábios tentado a apertar sua bunda enquanto subimos as escadas e resolvo não mais passar vontade.

-Layonel.... -Ela se vira batendo em minha mão.

-O que foi? É mais forte do que eu. -Encolho os ombros.

-Você é terrível. -Ela nega esperando que eu abra a porta do quarto.

Assim que entramos a escuridão toma o quarto, as cortinas grossas impedem qualquer passagem de luz para o interior e particularmente gosto do sombrio.

-Sem escuridão dessa vez Layonel. -Hana diz sem rodeios e acabo entendo o duplo sentindo da frase.

Ela não se referia apenas ao quarto e sim aos meus sentimentos obscuros trancados no mais profundo da minha alma.

Antes de acender as luzes abro as cortinas revelando a belíssima visão do mar e da lua que recobre o oceano. Suspiro ao analisar aquela visão. Moro aqui a anos, mas me privo dessa bela visão todas noites, não acredito ser digno dela.

A muito tempo posso ter sido, mas no momento não mais. Me sinto vazio para ter a oportunidade de deslumbrar uma beleza tão pura. E como um homem vazio e sem esperanças como eu pode apreciar uma vista tão magnifica como essa? Impossível.

Às vezes acho que as cortinas devem esconder eternamente essa vista maravilhosa, assim como os ternos escondem quem eu realmente sou.

Sinto as mãos pequenas de Hana passear pelos meus braços até se espalmarem em meu peito, sua cabeça se encostas nas minhas costas onde ela deixa um suave beijo por cima da camisa apoiando sua cabeça ali.