Bela Flor - Romance gay romance Capítulo 45

Não demorou muito até que chegássemos onde era a funerária e onde também ficava a capela que haveria o velório da vovó.

Hyun-Suk foi quem desceu primeiro do carro, buscando minha mão para me ajudar a descer também. Vi o carro com meus amigos estacionar logo atrás. Rini desceu junto a Minah e Taeil e no carro logo atrás Jackson e Mark desceram com Sunhee.

Eles se aproximaram, assim como Hajun e JiHo que assim que estacionaram o carro ao lado de onde estávamos, vieram até mim e me abraçaram de forma confortável, sem dizer sequer uma palavra, mas me deixando aliviado de certa forma.

ㅡ Vamos entrar? ㅡ Hyun-Suk chamou.

Assenti, caminhando com ele e os outros para dentro da capela.

Nunca fui religioso, mas minha avó tinha um apego muito forte com o catolicismo. Meus pais haviam tido a cerimônia como a que ela teria, por tanto eu acreditava que aquilo era o certo a se fazer, pois ela sempre dizia que, mesmo com a morte, nada era o fim. Talvez agora eles estivessem juntos.

Queria acreditar nisso.

A capela não era muito grande, mas parecia confortável em seu tom amadeirado e dourado, com imagens santas sobre o altar e velas acesas em todos os pontos próximos das janelas. Os bancos se estendiam em algumas fileiras, mas não havia muitas pessoas naquela despedida, era apenas eu, meus amigos e alguns amigos que a vovó havia feito em sua curta jornada na clínica, então dois ou três seriam preenchidos.

Meus amigos adentram o lugar primeiro. Meus pés me fizeram frear. Meus olhos seguiram para o altar outra vez e repousaram sobre o caixão da vovó.

Ele estava aberto, todos tiravam um segundo para dar o último adeus, mas, por mais que agora eu quisesse que acabasse, não estava pronto para dar-lhe adeus.

Pensei em correr, fugir, mas senti a mão de Hyun-Suk repousar em minha cintura outra vez, o que me fez lhe olhar. Tinha certeza que os meus olhos estavam arregalados, tal como o de um garotinho assustado, mas os dele estavam calmos. Mesmo opacos e tristes, os olhos de Hyun-Suk estavam calmos.

Voltei a olhar para o altar e senti meu peito ser comprimido até quebrar em pedaços tão pequenos como grãos finos de areia.

Não conseguia reagir.

ㅡ Vamos até lá. ㅡ ele chamou baixo.

Mas mesmo que Hyun-Suk ainda me segurasse, que me chamasse para ir até lá, ele me esperou. Demorou até que eu desse o primeiro passo e uma lágrima escorresse pelo meu rosto no mesmo segundo, enquanto eu tentava segurar qualquer emoção para não explodir bem ali.

O segundo passo foi dado e parecia que o altar estava ainda mais distante. Segui com Hyun-Suk, eram poucos metros, mas foi como se quilômetros estivessem sendo traçados por mim.

Parei a cerca de um metro de onde o caixão estava. Respirei fundo quando tomei coragem de olhar para dentro e foi como se empurrassem meu peito com muita força, tal que cheguei a dar um passo para trás, sem controle, mas Hyun-Suk outra vez me segurou.

Meus olhos embaçaram. Minha respiração se atrapalhou. Vovó estava bela, estava com um vestido branco, parecia em paz, mas ainda estava morta.

Tentei me aproximar, mas não consegui.

Não conseguia.

Eu a queria viva, a queria comigo, eu a queria de volta. Minhas mãos tremeram. Meus pés seguiram incertos a um passo a mais para frente e minha mão se ergueu.

Eu já não conseguia parar de tremer. Apertei meus lábios para prender o choro que quis explodir, mas respirei fundo quando a toquei e a senti fria.

Meus dedos trêmulos sentiram a morte naquele instante.

Eu quis gritar, quis morrer com ela, quis abraçá-la e implorar para que voltasse comigo, que seria injusto morrer por quem a havia maltratado, enquanto quem a amava ficaria sozinho em um mundo tão grande e assustador.

Mas nada fiz.

Meus dedos se desprenderam de sua pele gélida e meus olhos se desconectaram de sua face sem vida.

Movi meus pés, guiei meu corpo da dor e sentei no primeiro banco, abaixando meus olhos porque ainda não conseguia olhá-la outra vez.

Hyun-Suk se despediu, de forma menos dramática e dolorosa, ele se despediu da vovó e sentou-se ao meu lado sem falar nada.

Ele me respeitou outra vez.

O caixão da vovó enfim foi fechado. A cerimônia breve deu início com o padre guiando sua alma para fosse o lugar onde ela acreditava ser o paraíso e mesmo que aquilo ainda tenha me tirado algumas lágrimas a mais, já estava conformado que ela não estava mais sequer dentro daquela caixa de madeira.

Talvez seu corpo ainda permanecesse ali, mas não o seu espírito bom. Sua alma boa.

Queria acreditar que a vovó agora estava em um lugar de paz, talvez abraçando a mamãe e contando-lhe como sinto sua falta e como, talvez, eu não seja um homem tão ruim...

O dia estava bonito. Ao redor haviam muitas árvores ao redor e um campo verde de grama. O local era espaçoso, alguns prédios pequenos onde os cinerários ficavam no fundo e todos eram revestidos de pedras escuras.

A vovó ficaria em um daquele prédios, ficaria em paz e logo suas cinzas ficariam ao lado da dos meus pais, pois já havia decidido que os queria perto de mim também, para que em datas especiais ou apenas quando eu sentisse saudade e quisesse levá-los flores, pudesse fazer em um lugar tranquilo, digno e bonito.

Nos erguemos quando o rito chegou ao fim. Hyun-Suk, eu, Jackson e Taeil, nos aproximamos outra vez do caixão da vovó.

Naquele momento pude passear meus dedos pela madeira polida, me despedindo enfim dela.

Cada um segurou em uma das alças do caixão e o erguemos. Caminhamos juntos para o lado de fora, Hyun-Suk estava bem ao meu lado.

Respirei fundo quando repousamos o caixão com delicadeza sobre o carro fúnebre que levaria a vovó até o crematório. Ele estava bonito, haviam flores de todos os tipos se misturando a flores de dálias, a que a vovó mais amava ver nos jardins da clínica.

Me afastei alguns passos, sentindo Hyun-Suk tocar sobre meu ombro e esperei até que o carro saísse, para poder segui-lo junto aos demais.

Outra vez aquilo não demorou. Alguns se despediram para sempre da vovó antes que pudéssemos entrar, mas Hyun-Suk e Jackson permaneceram ao meu lado, assim como todos os meus amigos também.

Haviam muitas flores para ela. Flores que ela iria adorar sentir o aroma.

O caixão da vovó foi posicionado sobre a plataforma de metal que a levaria para dentro da urna.

Tudo naquele momento era silencioso. Um a um dos meus amigos outra vez se despediram da vovó, tocando sobre seu caixão, ditando palavras bonitas, mas eu apenas fiquei quieto, optando por ficar por último por ainda não saber como agir.

Hyun-Suk buscou uma dália. Ele me entregou e sorriu.

Encarei a flor, seu tom rosa me fez sorrir. A vovó realmente a amava.

Deixei um beijo sobre as pétalas, imaginando que ali era a mão da minha avó, imaginando que aquela despedida era como as que aconteciam na clínica, como quando, infelizmente, se encerrava o horário de visitas e eu buscava sua mão para dar-lhe um beijo, prometendo que voltaria para lhe ver.

Não a veria mais senão por fotos ou lembranças, mas quis beijá-la ainda assim.

Repousei a flor no centro de seu caixão e deixei outro beijo ali, na madeira, prometendo mentalmente a vovó que continuaria tentando, que continuaria melhorando e que um dia a encheria de orgulho.

Quando observei o caixão ir, adentrando a urna, nada mais fazia sentido para minha vida.

Toda ela havia acabado. Metade quando eu tinha apenas oito anos, quando vi meus pais caídos no centro da casa, com o carvão ainda queimando, as janelas lacradas e seus corpos sem oxigênio, mortos.

E a outra metade ali, tal como o carvão que queimou e os levou, mas desta vez tendo a fornalha que queimava e a levava por completo de mim.

A cremação demorava um pouco. Ainda tínhamos que aguardar para levar as cinzas da vovó até o cinerário, mas eu não conseguiria aguardar ali, ouvindo o som do fogo queimando, despertando dores tão antigas que eu sabia que não me fazia bem.

Meus amigos foram quem me levaram para fora. Hyun-Suk manteve-se longe, talvez aquilo despertasse gatilhos em si também e por tanto ele se afastou indo pela grama quando saímos, seguindo por debaixo de algumas árvores, optando por ficar só.

Talvez ele pensasse em seus pais naquele segundo e sentisse o luto outra vez.

Sunhee caminhou junto a Hajun até onde ele estava. Ela parecia conhecer Hyun-Suk mais do que eu mesmo conhecia, mas era compreensível, eles se tinham a anos, enquanto eu o conhecia a alguns meses.

Vi quando ela o abraçou de modo que se demoraram no toque e Hajun o tocou sobre o ombro. Hyun-Suk parecia confortável com ambos.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Bela Flor - Romance gay