Quando chegamos no hospital cujo JaeHwa informou, foi preciso alguns segundos para acreditar que a avó dele estava mesmo ali.
Somente a fachada já entregava o quão precário o lugar era, mas foi adentrando-o que fomos atingidos pela realidade.
Caminhando pelo hospital, era possível ouvir os murmúrios e choros de alguns pacientes que estavam pelos corredores e nos quartos que sequer possuíam portas.
Há pessoas em cadeiras de rodas também e em macas, mas todas pelos corredores. Pessoas doentes e, infelizmente, com feições que exalam tristeza e cansaço.
JaeHwa não pode ter sua avó num lugar como esse, é inadmissível.
ㅡ Qual o número do quarto? ㅡ pergunto a JaeHwa.
Ele já havia ido à recepção, e sem precisar mostrar uma identificação ou pegar qualquer crachá de visitante, conseguiu o número do quarto.
Um péssimo lugar.
ㅡ É aqui. ㅡ diz ao pararmos em frente a um dos poucos quartos com porta.
ㅡ Quer que eu entre?
ㅡ Acho que... preciso de um minuto com ela, Hyun.
ㅡ Tudo bem. Irei te esperar aqui. ㅡ falo segurando firmemente sua mão enquanto encaro seus olhos assustados. ㅡ Estarei bem aqui, amor.
JaeHwa assente, respirando fundo quando encara a porta ainda fechada e toca sobre a maçaneta.
POV: JaeHwa
Sinto como se um furacão estivesse dentro de mim, remexendo na maior velocidade todos os meus órgãos, me deixando completamente enjoado.
Sinto-me enjoado, enojado, e triste, completamente triste.
Hyun-Suk se afasta de mim, encostando-se na parede logo à frente, deixando-me só, enquanto encaro a madeira clara, mas encardida, da porta no qual guarda a pessoa que mais amo na terra e que está à beira da morte.
Eu preciso ir até lá, mas meus pés me traem, me deixando preso ao lugar, com medo, apavorado. Meus dedos suam, mas eu sequer consigo girar a maçaneta.
ㅡ Eu não consigo, Hyun-Suk. ㅡ digo trêmulo. ㅡ eu não consigo ir.
Hyun-Suk volta a se aproximar, segurando-me pelo rosto.
ㅡ Está tudo bem.
ㅡ Entra comigo, por favor. ㅡ peço tocando suas mãos. Ele assente sem ao menos pensar, desviando as mãos do meu rosto quando toca a maçaneta com a destra.
Assinto para que ele a abra, encolhendo-me atrás de si quando vejo a claridade do outro lado.
O quarto não é muito grande, é um lugar simples e com outras cinco camas ocupadas.
Hyun-Suk olha ao redor, caminhando à minha frente. O quarto está em silêncio, todas as pessoas aqui parecem estarem perto do fim da vida, mas é passeando os olhos por cada cama que logo posso ver a cama fininha e de ferro descascado, suportando o corpo fraco, magro e pálido de Jeon Hyelim, minha avó.
Meus pés param. Minha respiração se torna pesada e Hyun-Suk volta a me olhar de modo atento, tocando minha mão.
Meus olhos se enchem de lágrimas, não consigo acreditar que a mulher alegre que tanto me incentivou a buscar meu próprio futuro está aqui. Está assim.
Vovó dorme de modo sereno, e sua respiração é fraca, quase imperceptível. O único aparelho ao seu lado apita a cada novo batimento que seu coração dá, e outro segura a bolsa de soro que está ligada ao seu corpo.
O corpo pequeno parece ainda menor, vovó está muito magra, sem esperanças.
Desvencilhando-me de Hyun-Suk, tomo coragem para me aproximar, dando passos lentos e leves com medo de que algo a acorde e me abaixo na altura de seu rosto, tocando-lhe na mão com calma e cuidado, com medo de que um simples movimento forte a quebre ou machuque.
ㅡ Minha querida vozinha... ㅡ lamento baixo, com saudade de seu sorriso. ㅡ senti tanto a sua falta, vovó.
Hyun-Suk se aproxima um pouco mais, parando perto da cama onde ela está. Deixo um beijo sobre sua mão enrugada, negando mais uma vez para a realidade.
ㅡ Me desculpa te deixar aqui, vó.
ㅡ Com licença. ㅡ uma voz feminina chama. Viro-me fraco para olhar e vejo uma pequena moça adentrar o quarto. ㅡ Sou a enfermeira Jihu, vim fazer a dosagem dos medicamentos da senhora Jeon. Quem são vocês?
ㅡ Sou neto dela. ㅡ digo, fungando.
Tomo um pouco de distância do corpo de minha avó para dar-lhe espaço. A moça sorri, indo até à bolsa de soro, a trocando por uma que contém o medicamento necessário.
ㅡ Diga-me, o que ela tem? ㅡ Hyun-Suk pergunta.
Jihu olha para a vovó e suspira, parecendo lamentar.
ㅡ Os pulmões estão muito debilitados, e aqui não há o equipamento necessário para o tratamento, tememos uma falência dos órgãos, senhora Jeon não aguentará mais dias assim.
ㅡ Minha tia disse que ela poderia morrer hoje.
ㅡ Bom, creio que o médico falou com ela. Não há como estipularmos um dia, o único que controla isso é Deus. Mas como disse, a sua avó precisava do tratamento, mas não temos como dá-lo.
ㅡ Não há outros hospitais que façam isso?
ㅡ Claro que há, mas são particulares. A sua tia disse que não podiam pagar.
Cubro minha boca ao ouvir aquilo e encaro Hyun-Suk.
ㅡ Mas se for conseguido uma transferência imediata, ela ainda terá chances?
ㅡ É possível, vocês podem falar diretamente com o médico. O tratamento é importante e ele pode ao menos dar a chance da senhora Jeon viver mais algumas semanas ou meses, ou até entrar na fila de transplantes. Ela precisaria de exames mais avançados e medicamentos mais fortes.
ㅡ Mas e os novos medicamentos? ㅡ pergunto. ㅡ ela iniciou um tratamento mais forte a dois meses. Não obtiveram mudança?
ㅡ Mas não há novos medicamentos aqui. A senhora Jeon toma os mesmo medicamentos há anos, eles ajudam ela a respirar com um pouco mais de facilidade e também diminui um pouco a dor.
ㅡ Mas... Eu enviei mais dinheiro. ㅡ digo atordoado. ㅡ enviei para os remédios novos.
ㅡ Eu não sei do que está falando, senhor. Nós não cobramos pelos remédios, sequer cobramos pela internação de sua avó, ela está aqui pelo governo.
Nego voltando a olhar para minha avó.
ㅡ Por que ela fez isso? Hyun... ㅡ olho para Hyun-Suk, vendo-o se aproximar no mesmo instante. ㅡ por que ela fez isso com a vovó?
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