No caminho para o canavial, Denise e Saulo riam ao lembrar a primeira vez que se viram.
— Não acredito que chamaram homens para me procurar. — Denise gargalhava.
— Fiquei preocupado demais, esse canavial tem quilômetros de extensão.
— Você achou que eu tinha algum problema de cabeça é?
— Para ser bem sincero, até hoje acho. — Dessa vez, foi Saulo que gargalhou, vendo que Denise fez uma cara nada boa. — Estou brincando, fiquei preocupado porque você saiu sem direção e sem me escutar, me sentiria culpado se acontecesse algo com você.
— Você seria culpado mesmo, aliás, por sua culpa machuquei meus pés.
— Então a pomada para frieira é para isso? — Riu, desligando o carro, pois haviam chegado num ponto específico, que só daria para ir caminhando, já que era próximo ao rio.
— Eu não comprei pomada, engraçadinho, comprei isso aqui. — Denise tirou o hidratante labial da bolsa, aproveitou que o carro estava parado, usou o espelho do quebra-sol para passar o hidratante de morango nos lábios.
— O cheiro é muito bom, queria saber o gosto.
— Toma. — Ela ofereceu o hidratante para Saulo experimentar.
— Não obrigado, o da sua boca serve.
Saulo se aproximou do rosto de Denise, encarando aquela boca, que parecia tão convidativa.
— Você é tão direto, faz isso com todas as garotas?
— Nós ingleses, somos muito diretos, mas não tenho costume de dizer isso para nenhuma mulher, só para você.
— Ah, para Saulo, você até estava indo bem, mas mentir não é legal. — Ela o alertou.
— Não estou mentindo, morena, desde que cheguei ao Brasil, não havia visto uma mulher que me interessasse tanto quanto você.
— Mas você disse que me acha meio fraca da cabeça.
— E é esse seu jeito maluquinho de ser, que está me deixando doido.
Dito isso, segurou a nuca da mulher, puxando-a para mais perto, colando seus lábios para um beijo quente e demorado.
— Posso confessar uma coisa? — Saulo disse após parar o beijo.
— O quê?
— Queria ter feito isso desde a primeira vez que te vi.
— Mas você é muito abusado mesmo, hein? — Denise abriu a porta do carro e saiu sorrindo. — Isso explica muita coisa.
— Não entendi. — Ele desceu do carro também.
— Não é para entender mesmo, olha! — Apontou. — Se subirmos por esse caminho, vamos encontrar um pé de carambola, e se dermos sorte, o pé estará carregado.
— Você já esteve por aqui? — Perguntou enquanto a acompanhava.
— Claro, acha que eu sairia caminhando por aí sem conhecer o lugar?
— Na verdade, eu achava isso mesmo, mas vamos deixar quieto.
Os dois pegaram uma estreita trilha de terra, que passava próximo à encosta do rio, subiram uma ladeira e em dez minutos encontraram uma grande caramboleira.
— Eu sabia que estaria carregada, é a época delas, você gosta? — Denise falava empolgada, enquanto tirava uma fruta da árvore.
— Você não lava antes de comer não? — Saulo perguntou, vendo a moça já pegando a fruta e levando à boca.
— Eu passei a mão tirando a poeira, você não viu? É o suficiente. — Deu uma piscadela de olho para o rapaz.
— Bem higiênica você, gostei.
— Obrigada, eu gostei de você também.
Aquela frase saiu mais como uma declaração, então ela se sentiu envergonhada por dizer.
Saulo pareceu não se importar com a timidez da moça, pegou uma carambola do pé, foi até a margem do rio e passou água, lavando-a, depois levou à boca mordendo um pedaço.
— Muito doce. — Ele disse.
— A minha não está. — Ela retrucou.
— Não me referia a fruta. — Ele sorriu.
— Você por acaso é um conquistador?
— Juro que é você que está me fazendo ficar assim.
— Vamos dar um mergulho? — Ela mudou de assunto.
— Sério? — Perguntou surpreso. — A água deve estar gelada.
— Você se importa com isso? — Denise falou, tirando a camisa e depois a calça que vestia, entrando na água em seguida e dando um mergulho.
Saulo ficou apenas observando aquele ser angelical em sua total perfeição, e queria guardar aquele momento na memória para o resto da vida. Vendo que Denise se divertia, resolveu entrar também, então tirou os sapatos, e depois a roupa, ficando apenas com a cueca branca, da mesma cor que a lingerie que ela estava usando, parecia até que haviam combinado.
Nadando até o meio do rio, onde a moça acabava de emergir, com aqueles cabelos pretos longos e agora molhados, viu a luz do sol refletindo em seu rosto, então ali, naquele momento, sentiu-se completamente apaixonado por ela, querendo estar ao seu lado, para o resto da vida.
Num ato totalmente automático, foi ao encontro da mulher, tomando-a num beijo feroz, correspondido com o mesmo ímpeto. Fazendo com que ali, os dois esquecessem totalmente o mundo exterior, se entregando mutuamente, num sentimento que brotava no interior de cada um.
[…]
Era quase meio-dia, quando Denise vestiu sua roupa e se sentou em baixo do pé de carambola, esperava Saulo sair da água, para irem embora.
— Que tal voltarmos aqui amanhã, aproveito e trago algo para comermos e passarmos o dia. — Saulo sugeriu, saindo da água.
— Não vai dar, amanhã começo a trabalhar. — Ela revelou.
— Serio? Não sabia que estava procurando emprego, se soubesse, teria uma vaga especial para você. — Ele disse.
— Tipo, limpar sua casa e fazer servicinhos extras? — Ela perguntou desapontada.
— Não, claro que não, de onde tirou essa ideia absurda?
— Deixa quieto. — Mudou o assunto. — Qual seria a vaga que iria me sugerir?
— Minha assistente, me ajudaria com uma papelada e anotaria meus recados.
— O emprego parece bom, mas não acho que tenha requisito para esse trabalho. — Confessou.
— Eu te auxiliaria no que precisasse, além disso, seria bom te ter por perto mais vezes.
— Acho melhor mantermos certa distância ainda. — Riu.
— Por quê? Está com medo de acontecer de novo, o que aconteceu agora a pouco?
— Não tenho medo disso, mas já ouvi dizer, que onde se ganha o pão, não se come a carne.
— Essa eu nunca havia escutado. — Ele se sentou próximo a ela.
— Pois bem, agora escutou! — Riu, dando um beijo em Saulo. — Me acha uma mulher fácil? — Perguntou preocupada.
— Não, claro que não! Por que perguntou isso?
— Não sei. — Pensou, antes de continuar. — O que pensa sobre mim agora, depois do que acabou de acontecer aqui?
— Continuo pensando que você é uma mulher maravilhosa e decidida sobre o que quer. O que te preocupa Denise?
— É que tenho medo que você pense que sou uma mulher qualquer, do mesmo modo que aquele administrador pensou.
— Quem? O Túlio? O que ele te falou?
A expressão de Saulo não ficou nada boa, depois que escutou aquilo.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Caminho Traçado - Uma babá na fazenda