Nuria
As palavras dele me atingiram como uma lâmina fria.
"Serão enviadas de volta às suas alcateias de origem."
De volta?
De volta para onde?
Não havia um lar me esperando. Não havia mais nada.
Minha família morreu.
Minha alcateia queimou.
Eu não tinha um lugar para onde retornar.
E, ainda assim, ele falava com aquela maldita arrogância, como se estivesse nos dando um presente. Como se estivesse me dando uma escolha.
O nó na minha garganta ameaçava me sufocar. Mas eu não choraria. Não ali.
Não na frente daquelas pessoas que me julgavam.
E, principalmente, não na frente dele.
Respirei fundo, ignorando o olhar penetrante de Stefanos.
Ele se virou para a multidão. "Aproveitem a festa."
O povo respondeu com gritos e aplausos. Mas eu só conseguia ouvir o rosnado do meu próprio ódio.
Stefanos entregou o microfone para o homem ao seu lado e se virou, andando até onde estávamos. As esposas de Solon.
"Aproveitem a festa," ele disse, sua voz fria. "Mas se tentarem fugir..." Ele fez uma pausa e então olhou diretamente para mim, um sorriso de desprezo brincando em seus lábios.
"... nunca mais verão a luz do dia."
Minha mandíbula travou. Desgraçado.
Diana, a mais esperta entre nós, foi a primeira a se manifestar. "Obrigada, Alfa," sua voz era doce, submissa. "Não esperávamos nenhuma bondade depois de tudo, mas pela primeira vez, temos esperança."
Revirei os olhos.
Diana sempre soube se adaptar. Foi assim que sobreviveu com Solon. Sempre se curvando, sempre sorrindo, sempre encontrando um jeito de se manter do lado seguro.
E, no final, tudo que conseguiu foi uma sentença de morte.
Ela deveria ter aprendido.
As outras mulheres agradeceram também. Uma a uma, desceram do palco, misturando-se ao povo da Boreal.
Foi quando Stefanos parou diante de mim.
"Não vai aproveitar a festa?"
Uma risada seca escapou dos meus lábios.
"Aproveitaria," respondi, "se tivesse minha liberdade de volta." Cruzei os braços, sentindo o tecido fino do vestido contra minha pele. "Mas isso? Isso é só uma prisão com outro nome."
Ele sorriu de lado, os olhos brilhando em algo que parecia... diversão. "E o que posso fazer para arrancar um sorriso sincero de você, então?"
Revirei os olhos. "Nada do que faça vai mudar o que temos."
Me afastei antes que ele pudesse responder, descendo do palco.
Odiava aquele Alfa.
Odiava a forma como ele brincava comigo.
Andei pela multidão, ouvindo os sussurros, os cochichos.
As esposas de Solon.
As putas do Alfa tirano.
As mulheres que abriram as pernas e, no final, não serviram para nada.
Meu sangue fervia.
Para Stefanos, eles eram bons. Eram um povo digno. Mas na realidade? Não passavam de hipócritas.
Continuei andando, ignorando os olhares, tentando entender melhor aquele lugar.
As ruas eram limpas, organizadas. As construções polidas e ornamentadas. Os prédios estavam em perfeitas condições.
A Boreal era próspera.
Nada como a Invernal, que apodrecia sob o comando de Solon.
Estava prestes a continuar minha exploração quando senti um puxão brusco no braço.
Rosnei, girando o corpo para encarar o infeliz que ousou me tocar.
Um lobo. Bêbado.
Ele sorriu, os dentes amarelados brilhando sob a luz do evento.
"Quanto você cobra pra ir pra cama comigo?"
Meu estômago revirou.
Puxei meu braço de volta, rosnando mais forte, mas ele não soltou. "Tire suas mãos imundas de mim."
O lobo riu. "Ah, qual é...?" Ele tentou tocar meu rosto, mas dessa vez eu me esquivei.
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