“Hana”
Eu estava me olhando no espelho, eu ainda podia ver a marca do tapa que o Frederico me deu, mesmo que ela tivesse desaparecido por completo, eu ainda a via ali. Era assim, sempre que ele me batia eu ficava assombrada pelas marcas, mesmo que elas já tivessem desaparecido. E aí ele me batia de novo e as marcas fantasmas davam lugar para as novas. Era como se as marcas que ele me deixava me lembrassem de que ele faria de novo.
As lágrimas voltaram a escorrer pelo meu rosto enquanto a minha memória voltava para aquele período doloroso e escuro da minha vida, aquele quando eu achava que eu estava apanhando porque merecia, porque foi culpa minha descumprir qualquer regra idiota que ele havia criado ou porque eu o havia irritado. Agora, depois de conseguir me livrar daquilo tudo, eu me olhava no espelho e pensava em como eu pude acreditar que merecia aquilo? Como eu permiti que tudo aquilo fosse feito comigo? Como eu pude ter tão pouco ou nenhum amor próprio? A verdade é que eu pensei que ir morar com o Frederico me livraria do tormento que eu vivia em casa.
Eu era tão insegura, tão infeliz, tão desesperada para me livrar de uma situação ruim que acabei entrando em outra. E aí eu já estava acostumada a não ter direito a nada, a não reclamar, a aceitar o que faziam comigo. Como minha mãe falava “eu não deveria ser tão ingrata com quem só queria o meu bem”, mesmo que o bem que me queriam significasse me manter presa, dominada, manipulada. E para me manter assim, boa, submissa e colaborativa, o Frederico me batia, ele feria o meu corpo, enquanto a minha mãe feria a minha alma, me enchendo de culpa e remorso por todo o sofrimento dela, me fazendo pensar que não era boa o suficiente, nunca, em nada.
A minha sorte foi acabar parando naquele hospital, ao invés do cemitério, e ter encontrado o irmão do meu pai lá. Ele cuidou de mim, me ajudou, me tirou daquele círculo vicioso e destrutivo. Ele me deu uma nova perspectiva e eu sempre seria grata. Mas eu também fiquei imaginando como a minha vida poderia ter sido diferente se o meu pai não estivesse morto.
O interfone tocou e eu respirei fundo. Não estava esperando nada e nem ninguém. Eu saí do meu estado letárgico em frente ao espelho e fui atender o interfone. Para minha total surpresa o porteiro me disse que a Melissa estava ali. Eu liberei a entrada e abri a porta assim que a vi pelo olho mágico.
- Rabicho! – A Melissa me olhou e me envolveu em seu abraço. Eu comecei a chorar. – Está tudo bem. – Ela me afagou e me acalmou, me manteve ali, sob um abraço gentil e protetor até que eu tivesse colocado todas as lágrimas para fora.
- Desculpa! – Eu funguei quando me afastei dela.
- Pelo quê? Rabicho, os amigos servem para acolher quando precisamos, então pode chorar no meu ombro porque ele é pra isso mesmo. – A Melissa sorriu. Ela era tão acolhedora, me conhecia a tão pouco tempo e já tinha feito tanto por mim.
- Vem, vamos nos sentar. Você quer um café, um chá? – Eu perguntei a puxando para o sofá da minha pequena sala.
- Uma água, por favor. – Ela pediu. – Nossa, adorei o seu apartamento! Tão aconchegante, parece até uma casinha de boneca.
- Obrigada, Mel. – Eu me sentei ao seu lado e nós conversamos um pouco sobre o que aconteceu na noite anterior e como eu estava me sentindo. Eu não me segurei e contei a ela que achava que tinha sido tudo armado pelo Rafael e ela riu.
- Ai, Hana, que cabecinha criativa! Eu tinha certeza de que você estava pensando isso. Por isso, antes de vir para cá, eu passei lá na delegacia e falei com o Flávio.
A Melissa me contou tudo o que o delegado tinha descoberto sobre o Rafael e sobre o Frederico e mesmo ela dizendo que tinha certeza que o Rafael não faria isso comigo, eu não tinha a mesma certeza que ela, afinal o delegado disse que eles investigariam ainda mais e que ainda não tinham encontrado uma ligação entre o Frederico e o Rafael.
- Eu ainda tenho o pé atrás, Mel, e quer saber, você também não deveria confiar, pelo menos não até o Flávio dar certeza de que esse Rafael é do bem mesmo.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Chefe irresistível: sucumbindo ao seu toque
Está sempre a dar erro. Não desbloqueia os capitulos e ainda retira as moedas.😤...
Infelizmente são mais as vezes que dá erro, que outra coisa......