“Magda Zapata”
Eu detestava os domingos, sempre detestei, sempre achei um dia inútil, em que tudo parece estar fechado e todo mundo recolhido em sua própria casa. Mas eu não detestava os domingos antes, quando os meus pais estavam vivos eu gostava. Eu ainda me lembrava do cheirinho da carne assada com batatas que a minha mãe fazia todos os domingos.
Mas depois que eles morreram, os domingos se tornaram o pior dia da semana, eu estava sempre sozinha e trancada naquele quartinho dos fundos na casa da minha tia, sem permissão de sair de lá até que os convidados dela fossem embora, o que poderia demorar horas. Mas foi ainda pior depois que eu fui morar com aquele traste do pai do Enrico, os domingos eram os dias que ele reunia os amiguinhos imprestáveis em casa e me obrigava a cozinhar e servir todos eles.
Depois disso eu já odiava os domingos, eu estava sempre sozinha, já tinha me acostumado. Os meus maridos sempre tinham um jogo de golfe ou um encontro num clube de cavalheiros e eu ficava sozinha com o Enrico, que também preferia os amigos a ficar comigo, ou eu acompanhava os meus maridos como uma boneca em uma vitrine, somente para ser vista, para que se sentissem ainda mais admirados por terem uma jovem esposa. O Zapata adorava isso, não gostava que os outros me admirassem, mas adorava me deixar na vitrine, para que ele fosse admirado pela sua conquista.
Eu estava ficando muito saudosa, precisava encontrar algo para me distrair aos domingos, não podia ficar pensando, relembrando aqueles anos infelizes. E eu também não queria ficar pensando no Enrico, se ele estava bem ou no que ele estaria fazendo. Eu me dediquei a ele, eu fiz tudo, e ele se tornava cada vez mais como o pai. Eu decidi que era hora da vida ensinar a ele, assim como me ensinou, então eu deveria deixá-lo com a vida que ele escolheu, mesmo sabendo que seria um caminho difícil.
E foi assim, enquanto eu estava completamente perdida nos meus pensamentos e nos sentimentos que me doíam até os ossos que a campainha tocou. Achei estranho, mas provavelmente era algum vizinho querendo falar alguma coisa sobre o prédio. Eu abri a porta e só encontrei aquele par de olhos verdes brilhantes e aquele sorriso brincalhão em minha frente.
- Oi, tia! – O Tomás deu um beijo no meu rosto e entrou antes que eu o convidasse.
- Garoto abusado! Como você passou pelo porteiro? – Eu fiquei curiosa, ele sempre fazia isso, passava direto na portaria.
- Ah, o porteiro é meu chapa! – Ele deu uma piscadinha pra mim, esse garoto não tinha idéia do quanto o seu jeitinho confiado era cativante. – Não, tia, quando a senhora alugou o apartamento eu fiz o Max incluir o meu nome na lista de visitantes pré aprovados.
- Você é muito atrevido, sabia?! – Eu brinquei e ele riu.
- E você bem que gosta, Magda. – Ele chegou bem perto, muito perto, a ponto de me deixar alarmada sentindo o seu perfume. – Vai se arrumar, tia, a senhora vai passar o dia comigo hoje.
- Quanto atrevimento! Nem sabe se eu já tenho compromisso e chega aqui todo confiante. – Eu brinquei e ele virou a cabeça para trás para rir.
- Mesmo que você tivesse compromisso, Magda, você iria desmarcar e vir comigo, sabe por quê? – Ele era muito confiante e eu queria saber o porquê.
- Vai, faz o seu show, me conta porque eu vou com você. – Eu nem conseguia esconder a minha diversão.
- Porque hoje eu vim de moto e você vai poder tirar uma casquinha do meu corpinho. – Ele falou baixo no meu ouvido.
- Eu não vou subir naquela coisa assassina de novo. – Eu falhei tentando parecer séria e ele riu.
- Você está muito bonita e elegante, Mag, mas eu tenho certeza que tem um jeans no seu closet. – Ele se levantou e me puxou pela mão em direção ao quarto.
- Um jeans? Mas... mas... – Eu o acompanhei e ele entrou no meu closet sem nenhuma cerimônia. Ele vasculhou cada cabide e tirou um jeans azul e me entregou.
- Vai lá, troca essa calça. – Ele falou e eu fiquei estupefata olhando para ele. – Se quiser eu mesmo troco pra você.
Eu achei melhor não duvidar e corri para o banheiro, troquei a calça e voltei para o closet. Ele me observou por um segundo e no segundo seguinte as suas mãos estavam sobre mim, abrindo os punhos da camisa e dobrando as mangas, tirando a parte da frente de dentro da calça e desfazendo uns botões para fazer um nozinho e em seguida abrindo os botões da gola até a parte de cima dos meus seios. E sem que eu tivesse tempo para protestar, ele desfez o coque e deixou o meu cabelo solto.
- Agora sim, você está linda! – Ele elogiou e eu o olhei em choque. Ele segurou as minhas mãos e me olhou nos olhos. – Entenda, Mag, você não tem oitenta anos, tem uns quarenta e poucos que passam por uns trinta e tantos, mas não sessenta ou oitenta.
As suas palavras tocaram em algo que estava congelado dentro de mim e que derreteu um pouco, foi um gesto tão gentil que causou uma revolução em mim e me emocionou. Eu aceitei a sua gentileza.
- Essa semana nós vamos ao shopping comprar umas coisinhas mais modernas e que combinem mais com você. – Ele falou ao me puxar para o seu abraço. – Seja você mesma, essa Mag que me encanta e que é tão divertida. Isso vai atrair as pessoas e você precisa de pessoas, não pode viver fechada e sozinha nesse apartamento, como se o Zapata ainda te aprisionasse.
Nós ficamos abraçados ali por um tempo, eu deixei as lágrimas escaparem, eu realmente me sentia presa. Aquele garoto estava fazendo mais por mim do que qualquer outra pessoa na vida já havia feito. Ele se importava comigo, de um jeito que ninguém nunca se importou, nem mesmo o meu filho, nenhum dos meus maridos, só os meus pais, quando eu ainda era uma criança. Eu aceitei o seu carinho e eu permitiria que ele descongelasse aquilo que estava dentro de mim.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Contrato para o caos: amor à primeira briga
Quero ler capítulos 320...