“Magda Zapata”
Eu não tinha entendido muito bem o que tinha acontecido, mas o Tomás me disse que tínhamos que ir para a casa da Abigail, que teria um almoço de família e que o Antônio tinha dito que queria conversar com todos pessoalmente. Eu não achava uma boa idéia, eu poderia colocar todos em perigo se o Ulisses estivesse vigiando a casa dela para me pegar, mas o Tomás disse que eu tinha que ir e que eu iria, andando ou carregada. E ele me carregaria, eu não tinha dúvida.
Mas quando eu entrei naquela casa e eu vi o meu filho ali, vivo, nada mais me importou, só me importava tê-lo em meus braços como quando ele era uma criança que eu podia proteger e apertar em meus braços para que nada de mal o atingisse. Se eu pudesse continuar protegendo... mas os filhos crescem e eles têm que tomar as próprias decisões.
Eu só podia aconselhar, mas ele não levou meus conselhos em conta, nunca levou. Então eu tive que deixá-lo ir e com ele foi metade do meu coração e a outra metade ficou sangrando no meu peito, como se eu estivesse vivendo uma morte lenta e dolorosa todo esse tempo que eu fiquei sem notícias dele, porque com certeza nada pode ser pior do que não saber onde o seu filho está, se ele está vivo ou morto, se ele está ferido, se sente fome ou frio, enfim, o não saber é um vale escuro de dor.
Quando aquele bilhete dele chegou, eu me enchi de esperança e eu me agarrei a ele para não enlouquecer e ir atrás do Ulisses implorar que me devolvesse meu filho ou que o libertasse e me mantivesse em seu lugar. E eu teria ido se o Tomás e os seguranças não tivessem me impedido tantas vezes.
Nas últimas noites, o Tomás me pegou chorando na sala, todas as noites, porque eu já estava totalmente consumida pelo desespero. O que me manteve com lucidez o suficiente para entender que o Ulisses não soltaria o Enrico se eu fosse atrás dele foi o Tomás, esse homem que entrou em minha vida cheio de gracinhas, com pressa, dizendo que só me faria bem, como se procurasse sempre uma cura para o meu coração que foi tão maltratado pela vida. Ele me ofereceu o melhor dele, ele merecia o melhor de mim, mas eu não estava inteira, não até agora.
Eu toquei o meu filho, senti seu calor, seu cheiro, ele estava vivo e diante de mim. E enquanto eu estava agarrada a ele eu sentia todos os sentimentos ruins me deixando. Eu senti como se a outra metade do meu coração voltasse para o meu peito e estivesse sendo restaurado durante aquele abraço. Eu senti a vida voltar pra mim.
- Me perdoa, mamãe! – Ele estava chorando, me pedindo perdão. Havia algo tão diferente nele, algo que eu nunca tinha visto.
- Filho! Filho! – Eu me afastei o suficiente para olhar o seu rosto e coloquei as duas mãos nas suas bochechas, secando suas lágrimas com os dedos.
Ele estava chorando, de um jeito que era totalmente diferente, havia algo mudado nele, sua atitude, suas palavras, seus gestos. Eu ainda não sabia o que era, mas me parecia bom.
- Filho, você não precisa me pedir perdão, porque eu nunca guardarei rancor, mágoa ou raiva de você! Eu sou sua mãe, Enrico, cada vez que eu fui dura com você foi para evitar o seu mal, mas você correu direto pra ele. – Eu lamentei que meu filho tivesse abraçado o mal que se cercou dele.
- Eu deveria ter ouvido você, mas eu precisei me perder para me encontrar, mamãe. – Ele estava de cabeça baixa, nem tinha coragem de me olhar nos olhos. – Mas talvez você não goste de quem eu sou agora.
- Olha pra mim, Enrico! – Eu pedi e ele ergueu os olhos devagar. – Eu sou sua mãe, eu sempre vou te amar. E desde que você seja feliz e não faça o mal a ninguém, Enrico, eu estarei feliz e em paz.
- Mamãe... aconteceu muita coisa. – Ele estalou a língua e desviou o olhar, segurando as minhas mãos no peito, ele respirou fundo. – Eu conheci o meu pai. Ele disse que você está certa, que ele foi um monstro e que você fez bem em fugir.
- E como você se sente? – Eu perguntei cautelosa, o pai era um assunto delicado.
- Ele foi bom comigo. Eu estou vivo graças a ele. Acho que de algum modo ele se redimiu comigo. Mas ele foi embora, disse pra você viver tranquila, que ele não virá atrás de você. – Ele fungou e passou a mão pelo rosto.
- Você está triste porque não vai vê-lo de novo. – Eu senti a sua dor, o pai tinha sido bom com ele. De algum modo isso me confortou, era melhor do que se ele tivesse sido desprezado pelo pai.
- É, estou. Mas eu entendo. Ele é um criminoso, nunca vai deixar essa vida. É melhor que tenha ido. – Ele foi sincero, o que me surpreendeu, porque o Enrico de antes teria mentido para me agradar.
- Talvez, ele repense, agora ele sabe como você se chama, ele pode te procurar. – Eu tentei consolá-lo, mesmo que não quisesse nunca mais ouvir falar no pai dele, eu teria que lidar com isso.
- Não, ele não vai repensar. – Ele deu um meio sorriso.
- Filho, você o conheceu, ele foi bom com você, guarde isso no seu coração. Agora me diz, me fala, Enrico, como você está de verdade. O que aquele monstro do Ulisses fez com você, meu filho? – Eu estava tentando avaliá-lo, mas não conseguia, ele estava mudado, fisicamente ele parecia bem, mas parecia ainda estar com medo.
- Você não precisa saber o que ele fez, mamãe. – Ele limpou as novas lágrimas e tocou o meu rosto. – Eu entendo porque ele é tão louco por você. Você é linda, mamãe! Mas ele é um monstro. Você não imagina o alívio que eu senti quando você se casou com o Zapata. E a raiva que eu senti da Abigail por tentar acabar com o casamento de vocês. Porque eu sabia que assim que o Zapata te deixasse aquele monstro se aproximaria de novo.
- Filho, o que ele fez com você? Como todo esse ódio começou? – Eu precisava saber o que eu não tinha visto.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Contrato para o caos: amor à primeira briga
Quero ler capítulos 320...