“Silas Guimarães”
Eu passei a noite ao lado da Branca, há quanto tempo eu não ficava tão perto dela assim! O seu perfume ainda era o mesmo que eu me lembrava, sua voz doce, os seus gestos delicados, era como se o tempo não tivesse passado. O Emiliano me pedir para cuidar dela, ainda que fosse só por uma noite, foi como um presente, eu poderia admirá-la, sem ter que disfarçar tanto, eu poderia falar com ela naturalmente.
E nós conversamos tanto e rimos. Falamos sobre todos aqueles anos que ficamos sem nos ver, tudo o que fizemos naquele hiato de tempo. Nós dançamos várias vezes e, mesmo quando os outros se aproximavam, eles falavam com nós dois e faziam eu me sentir parte da família. Ela não se afastou de mim e eu me mantive respeitosamente ao lado dela.
- Você continua sendo um ótimo dançarino, Silas. – Ela sorriu pra mim depois que dançamos mais uma música.
- Obrigado, senhora. – Eu respondi e ela me encarou.
- Você pode me levar pra casa? – Ela pediu e o meu sonho de uma noite estava no fim e eu fiz que sim. – Vamos nos despedir então.
Nós nos despedimos de todos ali e eu a conduzi até o meu carro, que estava na garagem dos Monterrey. Eu abri a porta de trás para ela e ela sorriu, fechou a porta e abriu ela mesma a porta da frente e se sentou elegantemente e esperou que eu fechasse a porta. Eu ainda estava atordoado quando eu me sentei ao seu lado. Eu saí com o carro para a rua, me sentia nervoso e como se não soubesse o que dizer.
- Gostaria de ouvir música, senhora? – Eu perguntei.
- Para o carro, Silas. – Ela falou com a voz firme e eu a encarei sem entender. – Para o carro, Silas! – Eu parei o carro e ela olhou dentro dos meus olhos. – Se me chamar de senhora de novo eu vou descer desse carro e pegar um taxi, entendeu? – Eu fiz que sim e ela se virou para frente. – Ótimo, podemos ir e você pode me perguntar de novo.
- Você gostaria de ouvir música, Branca? – Eu perguntei em um tom mais firme e ela sorriu.
- Sim, eu adoraria, pode escolher você tem um excelente gosto musical se eu bem me lembro. – Ela respondeu e eu coloquei para tocar uma seleção do Bee Gees e ela sorriu.
Nós conversamos mais um pouco pelo caminho e quando chegamos ao condomínio em que ela morava e eu estacionei em frente a sua casa ela se virou pra me encarar, os olhos cautelosos.
- Por que você desistiu de mim, Silas, de nós? – Ela fez à queima roupa a pergunta que eu achei que a resposta fosse muito óbvia.
- Não é óbvio, Branca? – Eu olhei para baixo, não podia encará-la.
- Não, não é óbvio. Nem um pouco óbvio. – Ela me encarava de frente. – Silas, você simplesmente se afastou com uma desculpa qualquer e eu acho que eu mereço mais do que o que você me disse.
- Eu não sou digno de você! – Eu repeti o que eu disse a ela tantos anos antes.
- Isso é uma bobagem, Silas, me diz a verdade. – A mulher que eu amei a vida inteira estava ali diante de mim me pedindo a verdade. Eu precisava encará-la e dar a ela o que ela merecia, a verdade, então eu me virei para ela.
- O Zapata descobriu. Ele nos viu juntos e me chamou no escritório. Resumidamente ele me disse que você estava fora do meu alcance, que você estava muito acima de mim e que eu deveria me afastar por dignidade. Um dos amigos dele, que era do seu nível social, se casaria com você e que eu deveria aceitar que vivíamos em mundos diferentes. – Eu expliquei e ela bufou.
- E você acreditou que eu me casaria com aquele amigo detestável do Zapata? Ah, Silas! E essa conversinha de classes? Eu nunca fui assim, Silas, nunca liguei pra isso, você sabia. – Ela estava indignada e eu teria que contar tudo.
- Branca, eu sei! – Eu segurei a sua mão num impulso. – Mas eu ainda não era ninguém, Branca, e o Zapata ameaçou me demitir e fechar todas as portas para mim e você sabe que ele era capaz de me atirar no inferno. Se isso acontecesse, Branca, eu jamais poderia te fazer feliz, eu não me sentiria digno de você, porque eu sequer teria um emprego, você consegue me entender?
- Meu deus! Tão a cara do Zapata fazer essas coisas! Tão mesquinho que aquele maldito homem era! – Ela balançou a cabeça. – Sinceramente, não lamento nem um pouco que ele tenha morrido, a Abigail que me desculpe.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Contrato para o caos: amor à primeira briga
Quero ler capítulos 320...