“Martim Monterrey”
Eu fiquei tão confuso quando ela disse não, mas ela não precisaria repetir e nem falar mais alto, eu respeitava um não. Eu não tinha nenhum direito de impor a minha vontade sobre a de uma mulher e eu jamais insistiria só porque eu queria, e como eu queria.
Eu sabia que ela precisava de espaço, ela estava transtornada, eu senti isso pela forma como ela saiu. Eu também precisava de espaço, mas eu não poderia deixá-la sem saber se estava melhor. Eu me vesti depressa e saí do quarto. Fui para a cozinha, preparei o café e me sentei no balcão esperando por ela. No momento em que ela se sentisse confortável para sair eu pediria desculpas.
Eu achei que ela quisesse tanto quando eu, ela parecia querer, mas ela disse não. E eu não entendi como pude me confundir tanto. Sentado ali no balcão eu fiquei pensando no quanto toda a nossa situação era confusa. Nós nos odiávamos, fizemos um acordo para obter o que queríamos e agora sentíamos essa atração louca um pelo outro, ou pelo menos eu sentia. Se eu estava confuso, imagine ela.
Eu esperei por muito tempo, até que a vi passar correndo pela sala. Eu me levantei e fui chamá-la, ela não deveria sair sem se alimentar, sem tomar ao menos um café. E a nossa breve interação me deixou ainda mais confuso. Havia vergonha no rosto dela e eu me senti um canalha por deixá-la assim, envergonhada. Eu avancei o sinal e não deveria, não podia. Então eu fiz o mínimo, eu me desculpei e garanti que não aconteceria outra vez.
Eu sentia como se estivesse me afogando num mar de confusão, me afastei e quando cheguei a porta eu ouvi a sua voz suave me chamar e quando eu respondi, ela me puxou de volta para a superfície.
- Você não leu os sinais errado! – Ela estava dizendo que eu estava certo e que ela queria tanto quanto eu. Então por que? Eu fechei a porta e voltei para perto dela.
- Nós precisamos conversar então. – Eu estava pedindo, suplicando que ela me explicasse.
- Eu não sei se consigo. – Ela tremeu e eu a virei pra mim e com o dedo eu ergui o seu queixo, para que ela me olhasse.
- Não abaixe os seus olhos. – Eu queria que ela me olhasse.
- Eu me sinto tão envergonhada. – Ela não precisava se sentir assim.
- Não deveria. A vergonha é minha, por ter sido precipitado. – Era sincero.
- Você não foi. Mas eu... – Eu a interrompi, não queria que ela se sentisse acuada.
- O que você acha de tomarmos o café e ficarmos em casa hoje? Nós não precisamos falar sobre isso agora, mas podemos nos familiarizar mais um com o outro e você pode se familiarizar com a casa. Foi uma mudança grande pra você, eu entendo que isso te afete. – Eu ofereci e vi uma fagulha de esperança em seus olhos.
- Nós não precisamos falar sobre o que aconteceu? – Ela perguntou como se precisasse confirmar.
- Não! – Eu garanti.
Nós caminhamos em silêncio até o jardim lateral e nos sentamos no banco que havia ali.
- Essa casa é muito linda! – Ela comentou e eu sorri orgulhoso.
- É sim. Ela é muito especial pra mim. A Alice não quis que eu a comprasse, preferiu uma cobertura fria e sem personalidade num bairro badalado. E eu fiz a vontade dela. Quando ela me deixou, eu vendi aquela cobertura horrorosa e comprei essa casa e reformei. Me custou uma fortuna, mas valeu cada centavo. – Eu nem sabia porque eu tinha contado isso a ela, eu apenas contei.
- Então você não ia se morar aqui? – Ela me encarou surpresa e eu fiz que não. – Engraçado, eu pensava que você era o tipo apartamento masculino, frio e sem personalidade. – Eu ri da sua suposição.
- Não, eu tenho uma família grande, fui criado numa casa grande com jardim, piscina, minha mãe tem até uma pequena horta. – Ela sabia de tudo isso, já conhecia a casa onde eu cresci.
- Ai, eu adoro ajudá-la com a horta. É tão calmo e relaxante. – Ela fechou os olhos como se absorvesse o sol da manhã e era como se os raios de sol beijassem a sua pele clara. Depois de um tempo ela voltou a falar. – Sabe o que falta nessa casa?
- Um cachorro! – Nós falamos juntos e começamos a rir e foi como se uma barreira tivesse sido derrubada. O nosso riso foi catártico e libertador, foi como se limpasse todos os resquícios de vergonha e receio que haviam sobrado do que aconteceu no closet.
O resto do dia nós passamos conversando e nos conhecendo um pouco mais, afinal, quem olhasse de fora tinha que acreditar que éramos um casal apaixonado e que viveria junto para sempre. Ninguém poderia sequer desconfiar de que o contrato que nos unia era apenas um contrato de conveniência.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Contrato para o caos: amor à primeira briga
Quero ler capítulos 320...