“Martim Monterrey”
No fim daquele dia a Abigail e eu havíamos conversado muito, mas nós não voltamos a falar do incidente daquela manhã. Quando fomos nos deitar ainda havia algo que nos deixava um pouco vacilantes um com o outro e para não constrangê-la mais eu esperei que ela fosse se deitar e depois fui para um dos quartos de hóspedes. Mas eu não dormi, era como se algo estivesse errado ou fora do lugar.
- Bom dia! – Eu falei ao entrar na cozinha e vê-la ali de pé junto à bancada.
- Bom dia! – Ela se virou com dois pratos nas mãos e havia um sanduíche em cada um. – Vem, vamos tomar o café da manhã.
Eu passei por ela e me sentei. Ela me serviu café, se sentou ao meu lado e só então me olhou.
- Você não dormiu. – Ela não estava perguntando.
- Eu dormi no quarto de hóspedes. – Eu respondi e tomei um gole do meu café.
- Não, você passou a noite no quarto de hóspedes, mas essas olheiras dizem que você não dormiu. – Ela apontou e eu não sabia o que dizer.
Eu não poderia dizer que passei a noite pensando nela e o quanto o que aconteceu no dia anterior havia me abalado. Ela não entenderia, até porque eu mesmo não entendia o que estava acontecendo.
- Martim, nós precisamos falar sobre o que aconteceu ontem. – Ela falou com a voz firme, como se tivesse acordado decidida a alguma coisa.
- Olha, Abigail, acho que... – Eu não pude terminar o que ia falar, pois o interfone tocou e ela se levantou e foi atender.
Quando desligou o interfone foi atender a porta, mas não me disse quem estava ali, apenas um “já volto”. Mas minha curiosidade foi satisfeita muito rápido, minhas irmãs entraram pela cozinha, bastante alvoroçadas e rindo. A pilar parou em minha frente, segurou o meu pulso e deu uma grande mordida no sanduíche que estava em minha mão.
- Ei, isso é meu! – Eu reclamei mal humorado.
- Mas está uma delícia! – Ela respondeu ainda mastigando.
- Minha nossa, você não tem modos? Eu vi o sanduíche inteiro dentro da sua boca. – Eu reclamei e ela riu.
- Você deveria estar de bom humor, apesar de não ter dormido. – A Natália se aproximou e me deu um beijo no rosto.
- Eu estou de bom humor, mas ela está tentando roubar o meu café da manhã. – Eu estava segurando o sanduíche para o alto enquanto a Pilar lutava para alcançá-lo.
A voz dela era doce e baixa e um estado de confusão se instalou em mim. Eu não sabia o que fazer, não sabia o que dizer, não sabia nem onde colocar as minhas mãos. Ela olhava dentro dos meus olhos e segurava o meu rosto entre as mãos com tanta doçura que eu me derreti inteiro por ela naquele momento.
- Acho que ele está tímido por causa de vocês, meninas. – Ela falou com as minhas irmãs sem tirar os olhos de mim. – Deixa que eu te beijo então!
Ela se aproximou e a sua boca desceu sobre a minha, sem preliminares, apenas uma determinação quando ela colocou a mão na parte de trás da minha cabeça e aproximou o seu corpo do meu. Seu beijo foi exigente e habilidoso, ela estava no comando. Não foi como todas as outras vezes em que nos beijamos, em que eu a peguei de surpresa e ela começou a me beijar de volta depois de passado o choque inicial. Não, dessa vez ela começou, a língua dela que pediu passagem para a minha boca e ela se travou junto de mim. E era muito, era demais e era perfeito.
Eu joguei os meus braços ao redor da sua cintura e a mantive ancorada em mim, mergulhei minha língua ávida em seus lábios, sentindo o seu gosto misturado com o café. Ela parecia precisar me provar, me devorar, do mesmo jeito que eu a ela. Era um beijo intenso, exigente, frenético. Nossas respirações se tornaram irregulares, mas nós não conseguíamos parar. Tudo foi reduzido àquele momento, tudo esquecido com aquele beijo, absolutamente nada mais importava, apenas aquele beijo.
Meu corpo inteiro sentia a necessidade dela, eu senti dentro de mim meu corpo inteiro ser rasgado por um raio que me causou uma descarga elétrica que espalhou milhões de pontos sensíveis sobre a minha pele, que formigou e coçou. A necessidade que eu sentia dela era quase enlouquecedora e me deixava completamente atordoado. Eu estava desesperado para tocá-la mais e ser tocado. Era urgente e impetuoso. Eu me levantei da banqueta em que estava sentado e estava pronto para erguê-la sobre a bancada da pia e tirar tudo o que houvesse entre nós. Eu estava a ponto de implorar por ela.
O som de gritinhos e aplausos me tiraram do meu devaneio e me trouxeram de volta, como se eu tivesse sido puxado de uma vez só do fundo do mar. Eu havia me esquecido completamente das minhas irmãs ali, eu havia me esquecido completamente do constrangimento do dia anterior.
- É, esse foi um bom beijo, mas não sei se é adequado para o casamento! – A minha irmã Natália comentou.
A Abigail não me soltou e nem se afastou imediatamente, não, sua mão afagou docemente a minha nuca e eu precisei fazer um grande esforço para não beijá-la outra vez. E antes que nos afastássemos, quando os seus braços deslizavam lentamente do meu pescoço, eu segurei o seu antebraço e dei um beijo na parte interna do seu pulso. Eu não sabia dizer o quanto aquele beijo havia sido perfeito, nem o quando ele me abalou, mas eu sabia que eu queria mais.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Contrato para o caos: amor à primeira briga
Quero ler capítulos 320...