“Martim Monterrey”
E chegou o dia! Um ano atrás eu jurei que jamais estaria nessa situação outra vez, porque nunca mais eu permitiria que uma mulher voltasse a me humilhar e me magoar como a Alice fez. E aqui estava eu, usando um terno de casamento branco, com uma flor na lapela, de pé ao lado do Emiliano, mais uma vez escolhido como meu padrinho, esperando a noiva. Mas a noiva dessa vez era diferente. A situação toda era diferente.
A Abigail e eu tínhamos um pacto, um contrato, e esse casamento não tinha nada a ver com amor, aliás, tinha mais a ver com ódio, nossa motivação era o ódio, nem mesmo o dinheiro, mas o ódio. A Abigail tinha ódio da madrasta e não queria deixar o dinheiro da herança pra ela e eu tinha ódio da Mônica e do Maurice e precisava do dinheiro para destruí-los.
Contudo, eu não poderia mentir, por esse caminho torto em que nós nos unimos para nos ajudar mutuamente, alguma coisa estava acontecendo e parecia ser alguma coisa boa, mas ainda assim eu tinha medo. Eu não confessaria isso a ninguém, mas eu tinha medo do que estava surgindo.
Na noite anterior, a Abigail me desarmou completamente. Bobagem! Não foi só na noite anterior, foi no dia anterior, desde o café da manhã até a hora em que eu saí da casa dos meus pais não teve nem um só momento em que ela não tenha me surpreendido e me desarmado.
Mas quando ela me beijou e prometeu que não me deixaria no altar, ela falou com tanta convicção que eu acreditei nela. E ela selou a sua promessa com um beijo. E eu estava com a guarda completamente baixa quando ela me beijou ali, debaixo do pergolado da casa dos meus pais, sentada em meu colo. Aquele beijo acabou indo mais profundo do que eu deveria ter permitido, ultrapassou todas as camadas que protegiam o meu coração e fez com que ele palpitasse depois de muito tempo. O que ela estava fazendo comigo? Eu precisava ter cuidado!
A Abigail era uma mulher intrigante, ela era atrevida e zangadinha, mas também era suave e gentil. Em um ano de convivência eu tinha observado a minha noiva mais do que ela poderia supor. E foi observando que eu descobri que ela amava o Emiliano e que o meu amigo jamais retribuiria o seu amor. Foi a observando que eu a vi chorar escondido muitas vezes e aí eu ia lá provocá-la só para que ela sentisse raiva ao invés de tristeza, porque quando ela estava triste eu sentia uma vontade quase incontrolável de consolá-la e não sabia como, mas quando ela estava irritada eu sabia lidar com ela.
Agora eu estava aqui, num salão de festas super chique, com uma festa armada, as mãos suando e o coração disparado, esperando por ela, que provavelmente ficaria uma fera com essa festa.
Quando eu pedi para a minha mãe preparar uma festa eu queria só irritar a minha insuportável, porque ela queria só as assinaturas no cartório. Mas a coisa ficou bem maior do que eu pensei, minha mãe não poupou esforços e o que era para ser um casamento bonito e intimista, mas com algum glamour, de repente havia se transformado um evento e agora eu estava com medo que a minha insuportável surtasse e não se casasse.
- Calma, Martim, daqui a pouco a Abi chega, ela não está atrasada e os seus pais já saíram de casa com ela. – O Emiliano tentava me acalmar.
Eu dei o braço à minha mãe, sentindo a ansiedade crescer e então eu me lembrei que a Abigail havia me feito uma provocação sobre o vestido de noiva e eu me abaixei para perguntar a minha mãe.
- Mãe, como é o vestido dela? – Eu me preocupei que ela pudesse ter escolhido um vestido horrendo só para me chatear e ficaria muito irritada de aparecer com um vestido horrendo na frente de todas aquelas pessoas. Só que a minha mãe me respondeu com uma risada e nada mais, aumentando a minha preocupação.
Depois que entrei com a minha mãe e o Emiliano e a Nat entraram como padrinhos, era a vez da Abigail. Mas eis que quem surgiu foi a minha irmã Pilar como dama de honra, jogando seu charme junto com as pétalas brancas que espalhava pelo tapete. E então, finalmente tocou a marcha nupcial e a Abigail surgiu no início daquele curto corredor, de braços dados com o Tony, o amigo, advogado e nosso cúmplice.
Meu coração parou de bater quando eu a vi. Eu apenas percebi todas as cabeças se virando para ela e ouvi os “oooh” e “aaah”, e aí mais nada. Foi como se o mundo ao meu redor tivesse deixado de existir e só tivesse restado nós dois no vazio. Ela abriu um lindo sorriso e caminhou em minha direção, a passos muito lentos, que me permitiam admirar cada traço do seu rosto e cada curva do seu corpo à medida que o vestido ondulava com os seus movimentos. Que vestido era aquele?
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Contrato para o caos: amor à primeira briga
Quero ler capítulos 320...