— Eu não acredito que o filho da puta deixou você vir na minha casa.
O sorriso de satisfação no rosto de Alessandra chama a minha atenção.
Sentadas a beira da sua piscina, nós duas tomamos sol, exatamente como fizemos há poucos dias. A princípio, o assunto girou em torno de amenidades. Ela pouco falou sobre a noite anterior, apenas que chegou indisposta e foi logo se deitar.
Decidi respeitar o seu tempo, conforme o meu plano. Mas, agora, que ela mesma havia dado o primeiro passo para o assunto, eu não pretendia recuar.
— E por que ele não deixaria? — pergunto.
— Porque ele é um babaca. E me odeia.
— Theodoro definitivamente é um babaca — sorrio, fechando os olhos por trás dos meus óculos escuros. Esta tarde, o sol está a pino e já reapliquei o protetor solar, no mínimo, umas três vezes. — Mas ele não te odeia, com certeza. Ele te adora e se preocupa mais com você do que você imagina.
Minha amiga me encara com incredulidade.
Sinto como se eu tivesse dito alguma blasfêmia horrível.
— Então como você explica ele ter me tratado daquele jeito no carro, Vitória? E ter me chamado de vadia na frente do maldito motorista.
— Não justifico. Ele foi um imbecil — respiro fundo antes de entrar no assunto difícil, mas necessário. — Mas o que deu em você, afinal, dentro daquele clube, Alessandra? Parecia fora de si se esfregando com aqueles caras e, depois, deixando que...
— Deixando o que? Não venha bancar a puritana, agora. Nós duas sempre gostamos de causar.
— Não desse jeito.
Fico achando que ela vai negar, mas em vez disso, ela bufa, se ajeitando melhor na cadeira, e faz um desabafo que me deixa chocada.
— Acho que meu irmão desperta o que há de pior em mim. Toda vez que o vejo, tenho vontade de infernizá-lo.
Uau.
A coisa é mais séria do que eu pensava. Muito mais séria.
— Isso desde quando? — pergunto. — E não venha dizer que foi porque nós dois rompemos, porque eu sei que isso não é tudo.
— Ele é um maldito controlador. E um perfeito egomaníaco! — ela grunhe, exasperada — Preciso de mais do que isso para querer humilhá-lo?
— Precisa de muito mais do que isso para humilhar a si mesma. Sabe que eu amo você, mas não concordo com essa atitude.
— Tanto faz.
Sua casualidade me deixa chocada.
— Tanto faz? Eu não estou reconhecendo você, Alessandra. Quer dizer que o rancor que sente pelo seu irmão transformou você em outra pessoa?
— Tudo o que eu quero é ter um pouco de paz — ela coloca as mãos embaixo da cabeça e fecha os olhos, se ajeitando na cadeira, mostrando indiferença por tudo aquilo que eu disse.
— E onde está a paz em se comportar como uma criança de cinco anos?
Alessandra vira a cabeça de lado e me dá um olhar feroz.
— Vai mesmo ficar do lado de Theo a esse ponto? — ela instiga. — Não esqueça que ele chutou você para fora de casa, uma vez, e pode muito bem fazer isso outra.
Suas palavras roubam o ar dos meus pulmões.
— E você está ameaçando ficar contra mim caso isso aconteça?
Ela estreita os olhos.
— É claro que não, sua burra. Adoro você. E concordo com cada porra que você faz. Até com essa estupidez de ficar na casa dele, como uma maldita submissa, respeitando as suas regras estúpidas — o rancor na sua voz me pega de surpresa. Eu não sabia que era aquilo o que Alessandra pensava a meu respeito e estremeço, indignada. — Eu só gostaria de um pouquinho de apoio de volta, é só isso.
Em um rompante, eu me levanto da cadeira e visto a saída de praia enquanto digo:
— Ótimo. Achei que eu estivesse apoiando você quando passo as minhas noites em claro pensando em uma forma de trazê-la de volta a razão. De te proteger.
Em vez de cair em si e me pedir desculpas, ela sorri com insolência.
— Olha só, já está falando igualzinho ao carrasco. Meus parabéns.
Balanço a cabeça, chateada.
— Você está sendo irracional. E eu desisto de colocar juízo na sua cabeça.
— Ótimo, eu não preciso de juízo. Preciso de tequila — ela olha para mim, endiabrada. — Vamos sair para beber mais tarde, o que acha?
Mal posso acreditar. Ela não ouviu nada do que eu disse ou está só se fazendo de surda?
Solto um suspiro profundo.
Alessandra sempre foi meio louca, mas agora está fora de si. Theodoro tem razão, pelo menos quanto a isso.
Precisamos de uma intervenção para a sua irmã. E já! Antes que o pior aconteça.
— Infelizmente não, Alê. Tenho muitas coisas para fazer em casa...
— Como o que? Sentar e sorrir como um bonequinho de ventríloquo? Me diga uma coisa, você não se cansa desse jogo doentio, Vitória?
Trinco os dentes e nem me dou ao trabalho de responder.
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