Quando entro no carro, me assusto ao ver Alessandra de carra amarrada lá dentro.
— Alê, graças a Deus! — digo, escorregando para o lado dela no banco de trás. — Achei que aqueles caras tivessem pegado você.
— Não, o único que me pegou foi esse babaca do meu irmão — ela vocifera com a maquiagem borrada pelas lágrimas. — Esse Theodoro é um estúpido!
— Cala a boca, Alessandra — Theo grunhe, ocupando o lugar ao lado do motorista. — Eu deveria ter deixado você ser estuprada por aqueles homens?
— Se impedir significasse agir como um brutamontes, sim!
— E o que você queria? Que eu pedisse, educadamente, para eles pararem de masturbar minha irmã no meio do clube lotado? Você tem ideia de como isso vai parecer amanhã nos jornais?
Ela lança um olhar rancoroso para ele.
— Você é um babaca repulsivo.
— Posso ser um babaca, mas você estava se comportando como uma vadia.
— Theo! — eu o repreendo.
— Não se meta, Vitória — ele ordena, rudemente. — É um assunto de família.
As palavras dele me magoam, ainda que eu não demonstre.
— Não me importa que seja um assunto de família. Vitória é minha amiga e eu não vou permitir que fale assim dela.
Para o meu espanto, Theodoro vira o rosto na direção da janela e se cala. Sua expressão, porém, continua péssima. Eu fico me perguntando o que terá acontecido aos homens que assediaram sua irmã na boate.
Com um braço ao redor dos ombros de Alessandra, eu a aninho junto a mim de um jeito protetor. Não consigo evitar. Sinto que, de todas as formas possíveis, minha ausência na Sicília afetou negativamente a vida de todas as pessoas que eu amava.
***
Quando chegamos ao casarão, as luzes estão apagadas e os meninos na cama.
O motorista havia seguido com Alessandra no carro, a fim de garantir que ela chegasse em sua própria casa em segurança. Minha amiga bebeu tanto que chegou a vomitar no caminho. Até riu, achando graça.
Mas Theo não. Ele com certeza não estava no clima para achar graça de nada.
Pego as escadas, subindo de dois em dois degraus, antes que o Senhor da Casa comece a me insultar como havia feito com sua irmã no carro. Eu sei que ele está puto comigo também. Talvez até me culpe, secretamente, pelas loucuras de Alessandra. Como se eu tivesse o poder de causar tufões e maremotos com a minha simples presença.
Passo pelo quarto de cada um dos garotos e deixo um beijo neles antes de seguir para o quarto de hóspedes onde eu estou ficando. Tiro as roupas, que deixo espalhadas pelo chão, e entro no banheiro, ignorando os protestos do meu corpo que não tem mais forças para nada.
Tomo banho e lavo o cabelo, lutando para tirar o fedor de suor e cigarro. Quinze minutos depois, desligo o chuveiro e me enrolo em uma toalha abrindo a porta.
Don Theodoro Tremesso está lá. Sentado na cama, os olhos magnéticos presos em mim.
— Que merda. Você me matou de susto!
— Merda. Você me matou de susto — encosto na parede e fico esperando ele me responder alguma coisa, mas Theodoro permanece em silêncio. — O que é que você quer?
Só então eu percebo que ele está encarando fixamente a toalha ao redor do meu corpo. Em um gesto instintivo, prendo o tecido felpudo com mais cuidado acima dos meus seios e os olhos dele sobem até os meus, lentamente.
— Você me desrespeitou na frente dos meus empregados.
Pisco várias vezes, aturdida.
Do que será que ele está falando. O que foi que eu fiz agora?
— No carro — o murmúrio rouco me faz pensar no tipo de castigo que ele vai querer aplicar pela minha insolência. Infelizmente, em vez de raiva, medo ou indignação, tudo o que eu consigo sentir é um desejo avassalador me consumindo. — Me desobedeceu quando eu mandei calar a boca. Sabe o que eu poderia fazer com você por isso, não sabe?
Pigarreio, tentando me livrar da série de pensamentos indesejáveis dentro da minha cabeça.
— Fiz isso porque você estava sendo grosso com a sua irmã. E inadequado. Na frente do seu motorista, por sinal. Tem ideia de como isso pode parecer na frente dos criados? Ver você perdendo a cabeça desse jeito.
Ele inclina a cabeça de lado e sorri com escárnio.
— Quer que eu acredite que estava mesmo preocupada com a reputação desta família?
— Eu sempre estive — empino o queixo, aborrecida. — Você não pode falar nada a respeito do meu comportamento enquanto eu fui sua esposa.
Quero, desesperadamente, e sem motivo algum, que ele desminta que eu deixei de ser sua esposa. Em vez disso, os olhos dele escurecem de um jeito ameaçador e as palavras que deixam a sua boca são totalmente diferentes do que eu imaginava.
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