Pela manhã, acordo determinada a ligar para Alessandra.
Não importa que seja uma idiota e esteja se comportando como uma criança birrenta e mimada. É a minha melhor amiga e a única pessoa que me estendeu a mão quando precisei. Por isso, mesmo que ela insista, não vou deixá-la se afundar nesse buraco profundo que está cavando para si mesma.
Troco minha roupa e desço as escadas, ainda dolorida pela noite anterior. O sexo foi incrível, mas é lógico que não compensa a dor e a humilhação que estou sentindo agora.
Depois de uma noite perfeita, peguei no sono em seus braços. A sensação de estar aninhada e aconchegada a ele me deixou nas nuvens. Mas quando acordei, Theo não estava mais lá. Ele havia saído sorrateiramente enquanto eu dormia, provando que é mesmo um babaca.
Tenho certeza de que ainda sente alguma coisa por mim, além do sexo, mas é incapaz de admitir. Está se escondendo por trás da fachada de mafioso insensível para não lidar com os próprios sentimentos. E com isso, claro, está me afetando também.
Preciso dar um jeito de me livrar do poder que ele exerce sobre mim. Mas como?
Quando chego à mesa do café, tenho uma surpresa agradável. Meus dois filhos me esperam para comermos juntos. Tem croissant, torradas com geleia de morango – a minha preferida! – entre outras delícias.
Para minha surpresa, as crianças estão arrumadas com camisa branca social, calça preta de tergal e gravata borboleta.
— Até que enfim, mamãe! — Quim reclama, chateado. — Você está muito atrasada.
Heitor me olha com recriminação.
— Quase perdemos o passeio por sua causa, Vitória.
Eu me sento do outro lado mesa, de frente para os dois, esquecendo momentaneamente o meu enorme apetite esta manhã.
— Que passeio? —pergunto, curiosa.
Heitor dá de ombros.
— Papai prometeu nos levar até a casa de uns amigos.
Abro a boca, tamanho espanto, enquanto os meninos começam a atacar o café da manhã como bichos selvagens.
Ouço passos e, ao me virar sobre o ombro, vejo Theodoro se aproximar, com um modelo de roupa idêntico ao das crianças.
— Que tipo de amigos são esses que os meninos vão ver hoje?
Ele puxa a cadeira na ponta da mesa e, por um momento, acho que vai ignorar minha pergunta, enquanto se serve de ovos e bacon.
— Pessoas com quem faço negócios. Por quê?
Eu olho para ele, barbarizada.
— E o que isso tem a ver com as crianças, Theo, pelo amor de Deus? — abaixo o tom para um sussurro que, eu espero, Heitor e Joaquim não consigam ouvir. — Por que expor os dois a esse tipo de ambiente.
Ele rosna um xingamento em italiano sem sequer olhar para mim.
— Que tipo de ambiente? A casa dos meus amigos?
— Você entendeu muito bem.
Theodoro finalmente ergue os olhos e me encara.
Eu me vejo obrigada a sustentar o seu olhar mortal.
— Essas pessoas têm filhos e é aniversário de uma das crianças. Satisfeita?
— Uma festa de aniversário? — pergunto, desconfiada. — Agora de manhã?
— Irei transmitir seu desagrado com o horário aos pais do menino, pode ficar tranquila — ele diz com escárnio.
Emito um longo suspiro.
Estou cansada desse humor ácido dele. Minha vontade é mandá-lo tomar no cu e só não o faço em respeito aos meus filhos. E por medo de perdê-los, também.
— A festa é dentro da casa do menino?
— Não, no jardim — ele estreita os olhos, com desagrado. — Mais alguma pergunta ou podemos encerrar o interrogatório? Estou com fome — ele passa a língua pelos lábios e sua expressão muda para algo muito mais selvagem. — Tive uma noite pesada.
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