Jogo de Intrigas romance Capítulo 38

Encosto na parede, ainda agitada, o corpo ardendo de um desejo insatisfeito.

Mal dou conta da mulher pedindo licença e disparando para fora da cozinha como se estivesse com o diabo em seu encalço. Eu até daria uma boa risada se não estivesse me tremendo toda por dentro. 

Que porra acabou de acontecer aqui? Só de pensar nas mãos, nos lábios e no corpo inteiro de Theodoro se esfregando no meu, tenho vontade de correr até o banheiro e aliviar o meu tesão sozinha. Inferno.

Fecho os olhos e respiro fundo, dando um tapa na minha própria cara.

"Maldita idiota, você tinha tomado a sensata decisão de nunca mais dar o seu corpo a um homem que não merece. E agora, o que foi fazer? Despertar de novo a merda do fogo capaz de te consumir no inferno?"

Só que eu sei muito bem que essa decisão já não é o bastante. Não a partir do instante em que Theo me tocou, anos atrás, pela primeira vez. Não desde que me fez sua. O maldito cappo já me tem por inteiro, há tempo demais para eu querer reinvindicar minha posse de volta.

O que significa que não importa quantas vezes eu me determine a recusá-lo, enquanto estivermos convivendo sob o mesmo teto, estarei à mercê dos sentimentos que tenho por ele.  Preciso escapar daqui de uma vez, mas quando penso em meus filhos e em como essa chance pode estar longe de se tornar realidade, eu desanimo.

Depois que Joaquim voltou para casa, Theodoro e eu combinamos uma trégua. Ele não me atormentaria mais com seu autoritarismo descabido nem com a sua arrogância, e não me procuraria mais como mulher, e eu assumiria o papel de esposa, cuidando dos nossos filhos e gerenciando as tarefas da casa e os nossos compromissos

Era como ter um emprego de novo e, por hora, eu estava satisfeita. E não fossem seus arroubos de paixão, essa noite, eu teria ficado assim por um bom tempo. Não sei se ficar mais velho fez Theodoro mudar sua atitude em relação a mim ou se ele está pressentindo que nossa recém conquistada tranquilidade tem um tempo certo para acabar. O fato é que ele mudou as regras do jogo e, se continuar assim, eu vou precisar antecipar meus planos.

Com essa convicção, respiro fundo e  sigo a passos largos e de punhos fechados, em direção às escadas. Estou inquieta e raivosa demais para permanecer na droga dessa festa, bancando a pose de esposa perfeita. Por isso, subo a escadaria com a ideia de buscar refúgio no meu quarto. Preciso de algum tempo para respirar e colocar as ideias em ordem. Preciso de um instante de paz e silêncio, e não da maldita música romântica que não para de tocar lá embaixo.

Estou começando a experimentar uma vaga sensação de segurança, quando acabo surpreendida por uma série de passos abafados no carpete. Logo atrás de mim a poucos metros. Engulo seco e o meu coração erra uma batida. Chego até a acelerar o passo.

Embora não falte quase nada até a porta do quarto, ela parece ter ficado infinitamente distante agora que o medo varre meu corpo como um sopro gelado.

Dessa vez, não é somente Theodoro, eu sei. A presença atrás de mim é uma ameaça real. Recordo o sequestro de Joaquim, sobre o qual Theodoro ainda está atrás do culpado, e me pergunto se não estou bem perto de ser a próxima a desaparecer.

 

Quando estou prestes a segurar a maçaneta e me refugiar lá dentro, sou tomada por uma onda de raiva e, ultrajada, eu me viro para trás de supetão, enfrentando o olhar gelado do meu perseguidor.

 

É o mesmo homem que estava me encarando antes de Theodoro chegar. É claro que sim. Por que não estou surpresa? O olhar que ele me deu lá embaixo não poderia mesmo ser uma mera coincidência.  Ele estava me observando, me vigiando de perto, escolhendo o melhor momento para atacar.

— Quem é você e o que quer? 

— Meu nome é Luca. Luca Salvatore — responde em português para o meu espanto. —  Sou um velho amigo de Theodoro.

— Ele nunca me falou de você.

O homem sorri.

 

— Tenho certeza de que vocês não contam tudo um para o outro. Ou contam?

Sua atitude me deixa ofendida e perturbada, embora eu não saiba bem o por que.

— Está insinuando alguma coisa com isso?

 

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