— Posso falar com você?
Theodoro ergue os olhos para mim por trás da mesa de jantar.
Joaquim e Heitor acabam de sair correndo da mesa para jogar videogame, por isso, eu decido que é hora de Theo e eu termos jma conversa franca e direta.
Ele assente, quase imperceptivelmente, e se levanta.
Faço o mesmo.
— O que quer falar?
— É sobre o sequestro do Quim.
Os olhos de Theodoro me devastam.
— Por que me perguntou sobre isso agora?
— Por favor, só responda a minha pergunta.
Theo passa por mim a caminho do escritório sem se deter. Eu o sigo, entendendo que ele quer privacidade para me contar alguma coisa.
Meu estômago se aperta, tamanha apreensão.
Quando atravesso a porta, ele a fecha se encostando nela como se eu fosse tentar sair correndo a qualquer hora.
— Agora vai me contar por que levantou esse assunto justamente hoje.
— Você prometeu me manter informada e nunca mais... espera, como assim "justamente hoje"?
Ele suspira alto, desencostando da porta e caminhando até o centro do cômodo a passos lentos.
— Coloquei alguns homens atrás do rastro do sequestrador, como eu já havia dito.
— Sim, disso eu já sei — confirmo, atentando para uma coisa. — Theo, você nunca contou como acharam Joaquim.
— Porque sei que os assuntos da máfia não são os seus favoritos — continuo encarando-o, friamente, e ele esfrega o rosto, frustrado. – Perseguimos o veículo que levou Joaquim por vários quilômetros. Ele acabou batendo e...
Eu me encolho toda e faço uma careta de dor.
— Acabou batendo? Com o meu filho dentro dele?!
— Como você mesma pôde confirmar, Joaquim não se machucou.
— E o sequestrador? Por que não pegaram ele?
— Quando o carro bateu, ele tentou fugir, foi perseguido e acabou levando um tiro... ou vários. Cortesia do Vincenzo.
Abro a boca, chocada demais para articular qualquer palavra por muito tempo.
Quando saio daquele estado de torpor, começo a socá-lo no peito com toda a força.
— Vincenzo é um imbecil! Ele teria confessado se estivesse vivo e eu não estaria vivendo tão desesperada agora. Tenho medo o tempo todo, Theo! Medo de que possam voltar e pegá-lo de novo. Medo quando ele vai e volta da escola...
Ele segura os meus pulsos e eu acabo desabando, sem fôlego, contra o peito dele.
— Eu sei e entendo. Juro por Deus que entendo. Mas soldados são treinados para resistir, Vitória. Faz parte do treinamento. Ele não teria confessado nada.
— Bom, tenho certeza de que o cappo tem os seus métodos de fazer confessar — quando ele me lança seu olhar aniquilador, eu mordo a boca e sua expressão suaviza. — Agora me diga o que aconteceu "justamente hoje".
Seus dedos fazem um pouco mais de força ao redor dos meus pulsos.
— Descobri que um membro da família Salazar esteve aqui na noite do meu aniversário.
— Seu inimigo Salazar?
Seus olhos escuros são inquisidores.
Eu me solto, esfregando os pulsos doloridos, e me afasto alguns passos.
— Você viu alguém suspeito naquele dia?
Penso rápido. Não tenho certeza se posso confiar em Theo e falar a verdade, mas entendo que não tenho muitas opções.
— Havia um homem. Ele subiu as escadas e me seguiu até aqui em cima.
— Seguiu você?
— Sim.
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