Jogo de Intrigas romance Capítulo 45

Joaquim tinha razão. É um lindo dia para um piquenique.

 

Theodoro estende uma toalha vermelha sobre a grama, enquanto eu admiro ao redor por trás dos meus óculos escuros. O parque Giancarlo é um lugar verde, repleto de árvores, pássaros e com um lago de água azul cristalina. Fica perto da Taormina, onde Alessandra e eu estivemos há algumas semanas.

 

— Radical! — Joaquim ri, puxando Heitor pelo braço — Duvido você me ganhar.

 

Ele sai correndo na frente e Heitor vai atrás dele, gargalhando.

 

Em cima da toalha, Theo me observa por trás dos óculos escuros. Trocou o traje formal de sempre por jeans e uma camisa branca com a estampa do Iron Maiden que eu nunca vi antes. Não é seu estilo, mas, de um jeito inacreditável, fica bem em Theo e faz o meu coração errar uma batida cada vez que eu olho para ele.

 

O cappo estende a mão na minha direção. Eu hesito, mas aceito e vou me ajeitar na outra ponta da toalha, tomando cuidado para a saia vermelha plissada, pouco acima dos joelhos, não acabar me deixando pelada no meio do parque. Ele assiste com as sobrancelhas estreitas e eu ignoro seu olhar inquisitivo. De jeito nenhum vou acabar me aninhando nos braços dele. Não se puder evitar. Em um dia quente e ensolarado, com as crianças brincando perto do lago, eu poderia, facilmente, seduzida por aquela ideia de família feliz, o que seria o pior dos enganos.

 

— É um lugar lindo, não é? — seu suspiro alto provoca uma onda de tristeza dentro de mim.

 

— Sim.

 

— Já estivemos aqui antes. Você se lembra?

 

— É claro que sim — ergo o rosto para o céu azul com nuvens brancas como algodão. —  Quando Heitor era bebê, viemos aqui algumas vezes.

 

— É uma das melhores lembranças que eu guardo, Vitória.

 

Cometo o erro de olhar para ele e seu olhar torturado me devasta. Meu lábio inferior tremula e eu o mordo, evitando deixar escapar alguma lágrima sorrateira. Algumas das minhas melhores memórias, também, são sobre esse lugar. Mas não vou dizer isso a ele nunca.

 

— Hoje, eu quis vir por um motivo — Theo avisa. — Precisamos conversar.

 

— Sobre o que?

 

— Heitor.

 

Sua confissão me pega de surpresa. Resolvo aproveitar o momento para esclarecer logo a situação de uma vez por todas.

 

— O que aconteceu entre vocês dois, Theo? Por que eu sinto que tem alguma coisa ruim entre vocês?

 

— Não foi o que aconteceu, mas o que não aconteceu — ele balança a cabeça, pesaroso. —  Acho que nunca tivemos um relacionamento pai e filho saudável. Por minha culpa, claro.

 

— E por quê? — eu olho para ele, chateada. — Você sempre quis um filho. Ficou tão feliz quando Heitor nasceu, eu não entendo.

 

— Você foi embora, eu fiquei sozinho e descobri que não sabia como ser pai — Theodor admite. —  No início, eu tentei, mas depois, acabei desistindo. Era difícil demais sozinho.

 

— Meu Deus, que desculpa mais patética!

 

Ele fica em silêncio por um longo tempo. E, quando acho que não vai mais falar, sua voz sai rancorosa.

 

— Pode ser, mas foi exatamente isso. Heitor, agora, me odeia, e eu não sei mais o que fazer para ele voltar a me amar.

 

Theodoro é sempre tão bruto e cheio de si, tão autoritário! Vê-lo fracassando provoca uma pontada dolorosa em meu peito. Tenho vontade de consolar o cappo, mas em vez disso, emito um pequeno suspiro angustiado.

—Vem aqui — ele chama.

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