Joaquim tinha razão. É um lindo dia para um piquenique.
Theodoro estende uma toalha vermelha sobre a grama, enquanto eu admiro ao redor por trás dos meus óculos escuros. O parque Giancarlo é um lugar verde, repleto de árvores, pássaros e com um lago de água azul cristalina. Fica perto da Taormina, onde Alessandra e eu estivemos há algumas semanas.
— Radical! — Joaquim ri, puxando Heitor pelo braço — Duvido você me ganhar.
Ele sai correndo na frente e Heitor vai atrás dele, gargalhando.
Em cima da toalha, Theo me observa por trás dos óculos escuros. Trocou o traje formal de sempre por jeans e uma camisa branca com a estampa do Iron Maiden que eu nunca vi antes. Não é seu estilo, mas, de um jeito inacreditável, fica bem em Theo e faz o meu coração errar uma batida cada vez que eu olho para ele.
O cappo estende a mão na minha direção. Eu hesito, mas aceito e vou me ajeitar na outra ponta da toalha, tomando cuidado para a saia vermelha plissada, pouco acima dos joelhos, não acabar me deixando pelada no meio do parque. Ele assiste com as sobrancelhas estreitas e eu ignoro seu olhar inquisitivo. De jeito nenhum vou acabar me aninhando nos braços dele. Não se puder evitar. Em um dia quente e ensolarado, com as crianças brincando perto do lago, eu poderia, facilmente, seduzida por aquela ideia de família feliz, o que seria o pior dos enganos.
— É um lugar lindo, não é? — seu suspiro alto provoca uma onda de tristeza dentro de mim.
— Sim.
— Já estivemos aqui antes. Você se lembra?
— É claro que sim — ergo o rosto para o céu azul com nuvens brancas como algodão. — Quando Heitor era bebê, viemos aqui algumas vezes.
— É uma das melhores lembranças que eu guardo, Vitória.
Cometo o erro de olhar para ele e seu olhar torturado me devasta. Meu lábio inferior tremula e eu o mordo, evitando deixar escapar alguma lágrima sorrateira. Algumas das minhas melhores memórias, também, são sobre esse lugar. Mas não vou dizer isso a ele nunca.
— Hoje, eu quis vir por um motivo — Theo avisa. — Precisamos conversar.
— Sobre o que?
— Heitor.
Sua confissão me pega de surpresa. Resolvo aproveitar o momento para esclarecer logo a situação de uma vez por todas.
— O que aconteceu entre vocês dois, Theo? Por que eu sinto que tem alguma coisa ruim entre vocês?
— Não foi o que aconteceu, mas o que não aconteceu — ele balança a cabeça, pesaroso. — Acho que nunca tivemos um relacionamento pai e filho saudável. Por minha culpa, claro.
— E por quê? — eu olho para ele, chateada. — Você sempre quis um filho. Ficou tão feliz quando Heitor nasceu, eu não entendo.
— Você foi embora, eu fiquei sozinho e descobri que não sabia como ser pai — Theodor admite. — No início, eu tentei, mas depois, acabei desistindo. Era difícil demais sozinho.
— Meu Deus, que desculpa mais patética!
Ele fica em silêncio por um longo tempo. E, quando acho que não vai mais falar, sua voz sai rancorosa.
— Pode ser, mas foi exatamente isso. Heitor, agora, me odeia, e eu não sei mais o que fazer para ele voltar a me amar.
Theodoro é sempre tão bruto e cheio de si, tão autoritário! Vê-lo fracassando provoca uma pontada dolorosa em meu peito. Tenho vontade de consolar o cappo, mas em vez disso, emito um pequeno suspiro angustiado.
—Vem aqui — ele chama.
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