Emma remexeu-se em sua cama mais uma vez. O seu corpo demonstrava cansaço, mas sua mente trabalhava incansavelmente. Ela ainda não conseguia entender o comportamento de Raoul quando esteve doente. Sem perceber ou dar-se conta a imagem dele tirando a camisa vinha em sua mente deixando-a envergonhada de si mesma. Já faziam dois dias que ele mal olhava para ela. Retirou a coberta de cima de seu corpo desistindo de rolar na cama, ajeitou a sua camisola ao abrir a porta do quarto. Caminhou na escuridão do apartamento ate chegar na cozinha. Ligou a luz, abriu a geladeira servindo-se com um pouco de leite. Ficou em pé pensando na vida sem perceber que alguém estava sentado no sofá da sala com um copo de uísque em mãos.
–Deveria estar dormindo – a voz de Raoul fez Emma virar-se olhando, cuidadosamente, para a sala buscando vê-lo. – o que faz acordada?
–Estava sem sono – disse caminhando em direção a sala, guinando-se pelo som de sua voz.
Raoul resmungou algo inaudível antes de levar o copo aos seus lábios. Bebeu um gole de seu uísque sentindo a queimação tão característica. A semana para ele estava mais estressante que o normal. Havia inúmeros contratos com problemas, Raquel não lhe deixava em paz por um segundo sempre aparecendo em seu escritório e para completar não conseguia dormir.
–Está... Com problemas? – Emma indagou ao parar próxima ao sofá de onde podia ver a silhueta dela.
–Se eu estiver.. Irá me ajudar? – questionou irônico imaginando que ela sairia da sala, entretanto ela se aproximou ainda mais dele, sentando-se no mesmo sofá a alguns centímetros de distancia.
–Sou uma boa ouvinte – declarou sorrindo levemente. Nem ela mesma entendia o motivo de estar ali, sentada ao lado de um homem que não entendia, tentando convencê-lo a se abrir com ela – “Devo estar mesmo me sentindo só”pensou ao olhar para o outro lado da sala.
–És assim com todo mundo ou apenas comigo? – Raoul perguntou ao olhar para ela. Ele não via os seus traços com perfeição, mas podia vislumbrar o contorno de seu rosto, de seu corpo e de suas mãos, as quais estavam pousados sobre o seu colo. – devo imaginar que é alguma gratidão.
–Não diria gratidão – disse pensativa – na verdade... Gosto de ser gentil com as pessoas.
–Gentileza – murmurou ao esboçar um sorriso frio – Não pensaria desta forma se soubesse de certas coisas – falou misterioso ao virar o liquido que estava em seu copo de uma vez em sua boca, fazendo uma careta em seguida. – É melhor ir para o quarto.
–Eu irei quando for também – disse dando de ombros. – não acho que esteja bem.
Raoul suspirou longamente ao escutar as palavras dela. Colocou o copo vazio em um canto no chão, olhou para ela pensativo.
–Nunca vou entender essa sua aura benevolente – confidenciou antes de se apoiar no sofá tentando se levantar. O forte uísque que havia tomado o deixou tonto. Ao tentar se manter em pé desequilibrou-se sendo amparado por Emma.
Desde o momento em que ele se levantou, Emma percebeu que a bebida havia o deixado mais languido. Antes que ate ela mesma percebesse o que fazia, se levantou segurando-o pelo braço, entretanto o corpo dele pendia para baixo. Sem conseguir segurá-lo por mais tempo acabou caindo junto com ele.
Na penumbra do apartamento as suas pernas entrelaçavam-se, enquanto seus rostos, próximos um do outro, podiam sentir a respiração quente e ofegante. As mãos de Emma encontravam-se no peito de Raoul, o qual tentava vislumbrar o olhar de Emma naquele instante. Raoul mantinha o peso de seu corpo equilibrado, suas mãos estavam uma em cada lado de Emma, apoiando-se no chão. Ele podia sentir o coração dela acelerar.
–Se não fosses tão jovem e ingênua eu diria que estaria tentando me seduzir – disse frio ao se erguer do chão – ou está?
–Co... Como? – a sua voz saiu tão perplexa quanto o seu rosto estava avermelhado naquele momento. – Como pode dizer tal...
–Esqueça – a interrompeu sério como sempre – na próxima vez em que estiver com um homem, não seja tão gentil ainda mais se ele estiver bebendo sozinho. Ele poderá entender erroneamente.
Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, ele saiu da sala indo para o seu quarto. Emma ainda ficou sentada, no escuro, sozinha, tentando entender o que havia acontecido com eles.
–Estranho – murmurou para si mesma ao lembrar-se dos seus rostos próximos.
***
A cabeça de Raoul latejava ao entrar em sua sala. Aquela havia sido a primeira vez em que não dormia após beber uísque de forma tão deliberada. Ele não conseguia se entender. Raoul não conseguia distinguir o motivo que o fez agir daquela forma com Emma. Seus pensamentos, desordenados, tentavam encontrar uma razão racional para seu comportamento. Assim que sentou-se em sua cadeira, o telefone tocou indicando que o seu dia havia começado de uma forma atribulada. Trabalhou sem pausas durante horas ate Enzo entrar sem ser anunciado ou bater.
–Espero que não tenha problemas no marketing – disse assim que avistou Enzo sério o encarando. – estou tendo problemas demais esta semana. O que houve?
–Nada – falou ao sentar-se – vim apenas lhe fazer uma visita.
–Menos mal – murmurou antes de voltar a sua atenção para o computador a sua frente. Ele lia os relatórios das outras filiais ao mesmo tempo em que destaca os pontos que precisavam ser melhorados, negligenciados e evidenciados.
–Seu rosto está péssimo. – comentou sério observando-o cuidadosamente – parece que sua esposa não esta cuidando muito bem de você.
–Enzo – o advertiu sem olhar em sua direção.
–Não estou mentindo, certo? Vocês são casados – deu de ombros angelicalmente – falando nela, como está?
–Bem.
–Isso é bom – sorriu ao lembrar-se dela – acho que vou visitá-la qualquer dia desses.
Raoul parou o que estava fazendo encarando o seu primo seriamente.
–O que pretende com isso? Não acho que estejas apenas brincando comigo ou querendo se divertir as minhas custas. Tem algo, e quero saber o que é.
–Nada – sorriu diante da expressão séria de Raoul - você está quase demonstrando algo que não seja frieza e ironia. Isso é um grande avanço.
–Enzo, diga-me de uma vez. Se está atraído por ela lhe aviso de antemão que ela é menor de idade e legalmente casada comigo.
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