Logo cedo em pleno sábado, Raoul passou na casa de Emma para buscá-la. Ela não demonstrava, mas estava confusa. Desde que tivera a sua conversa com Caroline perguntava-se sobre seus verdadeiros sentimentos. Chegaram ao aeroporto no horário previsto e logo embarcavam com destino a Nova York.
Apesar da viagem ter sido desconfortável e feita em um clima pesado, Emma sorriu assim que o avião aterrissou. A sensação de nostalgia sempre lhe seria família ao sentir brisa em seu rosto em qualquer lugar que fosse. Ficou parada com os olhos fechados por alguns segundos. Só os abriu ao escutar o seu nome, olhou e viu Raoul a olhando sério. Entraram no carro que esperava por eles na pista de pouso e logo tomavam as ruas.
–Porque sempre tem alguma reunião de sua família? – perguntou com o intuito de puxar conversa com ele.
Ele a olhou antes de responder como se analisasse a sua resposta.
–Presumo que seja pela importância que temos.
–Importância?
–Sim, somos donos da maior seguradora da Itália e temos expandidos nossos negócios.
–Então a reunião de hoje será mais para negócios do que familiar? – o viu assentir em silencio ficando pensativa em seguida – mas vai estar tudo bem... em me apresentar como sua esposa?
–E porque não estaria?
–Não sei... a sua família não aceitou bem.
–Disse certo, minha família. As pessoas que estarão na festa tem por obrigação de aceitar o que digo ou faço.
–Não esta exagerando?
–Não – sorriu – me parece não ter noção com quem se casou.
–E acho que nunca vou ter.. – murmurou ao desviar o olhar para a janela. Suspirou antes de fechar os olhos e adormecer.
Raoul pegou os papeis que levara consigo ao ver Emma fechar os olhos e começou a ler tranquilamente. Demorou alguns minutos para aceitar que não conseguia concentrar-se. Olhou para o lado e a observou. Percebeu cada detalhe de seu rosto e o modo como sua respiração era ritmada quando dormia. Fez menção de acariciar o seu rosto, entretanto hesitou. Já estava voltando a sua atenção para os papeis quando o carro fez uma curva. O corpo de Emma pendeu para o lado e sua cabeça parou no ombro de Raoul. Ele ficou estático até rir de si mesmo e dar-se conta do quanto à situação era ridícula.
–Estou pior que um adolescente – murmurou ao sentir a sua cabeça em seu ombro não conseguindo evitar um sorriso singelo.
A viagem de carro foi mais cansativa que Raoul imaginara assim que o carro estacionou em frente a uma enorme casa no meio do nada, seus olhos perderam o brilho que havia adquirido. Lembrou-se de sua infância e suspirou frustrado.
–Ei.. Chegamos – sacudiu Emma, despertando-a – vou sair primeiro quando estiver pronta me encontre no interior. – saiu do carro sem ao menos olhar para ela.
Demorou algum tempo ate ela perceber o que havia acontecido. Abriu a porta do carro ficando maravilhada com a casa que estava a sua frente.
–Como pode existir pessoas com tanto dinheiro? – se perguntou ao ver Raoul entrar. Meneou a cabeça e o seguiu apesar de sua insegurança.
Raoul nunca gostou da residência de sua família que ficava em Nova York, sempre a achou esnobe em demasiada. A mesma casa que maravilhava os outros havia lhe trazido maus momentos quando criança.
–Alguém já chegou? – perguntou para a governanta.
–Apenas alguns primos e seu tio, o senhor Giovanni – respondeu em um italiano fluente.
–Obrigado, peço a alguém para levar as minhas malas para o meu quarto. – ao vê-la assentir e retirar-se em seguida, olhou para trás vendo Emma olhar para tudo maravilhada. Olhava para o teto com paixão ao ver os desenhos feitos em gesso – se continuar assim poderá ficar com o pescoço dolorido.
–Nunca tinha visto nada assim antes – comentou para si mesma ao segui-lo assim que o viu dar as costas a ela e seguir para as escadas. – Imaginei que sua família se encontrasse sempre na Toscana.
–Às vezes as reuniões acabam sendo aqui – respondeu sério. Nada havia mudado desde a ultima vez que estivera ali. O corredor possuía os mesmos quadros e vasos. Avistou a porta de seu quarto, o qual era o penúltimo do corredor no lado esquerdo. Abriu a porta deparando-se com a mesma decoração fria e sem personalidade. O quarto era branco com cortinas escuras. A cama possuía lençóis no tom claro, seus livros ainda estavam na estante no canto do quarto. Nada parecia ter mudado.
–Ficaremos no mesmo quarto? – Emma perguntou ao entrar olhando com curiosidade. Aquela era uma oportunidade de conhecê-lo melhor.
–Sim – respondeu sem olhar para a ela. Foi ate a varanda e vislumbrou o jardim, repleto de flores.
Emma mordeu o lábio inferior levemente. Ela esperava que tudo ocorresse bem na reunião.
***
Após arrumarem as coisas e se trocarem desceram para o jardim onde alguns familiares os esperavam. Emma sentiu-se temerosa e deslocada ao ver a quantidade de crianças correndo livremente, as mulheres sorrindo entre si e os homens conversando exaltadamente.
–Ficar nervosa não vai ajudar em nada. O pior já fizemos – comentou próximo ao seu ouvido prendendo a sua atenção – apenas se segure em mim.
Ela assentiu ao segurar na mão que ele lhe estendia. Caminharam de mãos dadas ate onde a tia de Raoul estava com suas primas.
–Tia – ele a cumprimentou sério – está é..
–Emma, nós já sabemos – sorriu a avaliando – é muito bonita. Porque não se senta conosco enquanto ele vai ficar com os homens? – Raoul fez um gesto imperceptível aos seus familiares tendo apenas Emma como foco. Ela lhe assentiu e deu um sorriso leve. Sentou-se ao lado de uma prima dele e começou a escutar a conversa timidamente.
A contra gosto Raoul foi na direção oposta, mas antes olhou para trás apenas para avaliar a situação.
–Parece que nossa avó acertou – um dos homens falou assim que Raoul se aproximou – esta é a primeira vez que lhe vejo preocupado com alguém.
–Deveria cuidar de sua vida primeiro, não acha? – Raoul falou mal humorado ao encará-lo.
–Não precisa ser tão cruel – sorriu – ela estará bem.
–Não estou preocupado com ela. Não da forma que imagina.
–Claro – assentiu brincalhão. Uma das características mais marcante nos Belinnis era o bom humor, algo que Raoul era desprovido.
***
Enrico olhou frustrado mais uma vez para Enzo. Eles estavam sentados na primeira classe em um voo com destino a Nova York.
–Esta é a pior coisa que poderia fazer nessa situação – Enrico disse sério. Ele estava tentando demove-lo da ideia há horas sem sucesso. Desde que Enzo descobrira que Emma havia viajado com Raoul, não pensou duas vezes antes de arrumar as suas coisas e seguir para onde estariam.
–Devo deixar a mulher que eu gosto sozinha com outro homem? Isso tem sentido?
–Eles são casados e alem do mais.. ele precisa dela. Sabe que Tio Giovanni está aprontando algo.
–Não me importo – emburrado resmungou.
–Agora se comporta como uma criança? Estou perdido – percebeu. – Enzo.. você a ama tanto assim? De verdade?
–Sim.. Não haveria outro motivo para ir atrás dela se não fosse amor.
–Mas.. se ela estiver gostando de Raoul, o que fará?
–Apenas se ela fosse idiota se apaixonaria por ele. Eu sou a opção mais viável pra ela.
–Falou como Raoul agora – sorriu – mas sabe tão bem quanto eu que...
–Não precisa prosseguir. Eu imagino o que deva falar.
–Porque virastes tão cabeça dura?
–E porque o defende tanto? Sou eu que a ama. Sou eu que se sacrifica por ela.
–Mas não é você quem ela ama, provavelmente – falou percebendo a tristeza no olhar de Enzo – reconsidere. Vamos pegar outro avião assim que ele pousar e voltar pra casa.
–Não vou.
–Então esteja preparado porque não acho que Raoul tenha ido e levado Emma apenas para enfeite.
–Eu sei.. o pior é que eu sei – murmurou.
“Você poderia ao menos deixá-la escolher e não ficar a pressionando. Droga Enzo. O que fará quando a ver feliz ao lado dele?” Enrico pensou após suspirar.
O avião pousou sem problemas. Enzo e Enrico foram um dos primeiros a saírem do avião lotado. Caminharam pelo saguão do aeroporto com prioridades diferentes em mente, enquanto Enzo mantinha Emma em sua mente, Enrico indagava-se sobre os pratos exóticos que seriam servidos.
***
Assim que os dois primos entraram pela porta da mansão, a governanta os recebeu curiosa, pois era a primeira vez deles indo em uma reunião de negócios como aquela. Os direcionou ate dois quartos e logo eles estavam andando pela casa.
Enzo guardou as suas coisas, mas ao sentar-se na cama o cansaço tomou conta de seu corpo. Deitou-se prometendo a si mesmo acordar antes da reunião e procurar por Emma.
***
A reunião de negócios era realizada cinco horas antes da festa começar e por isso dentro da sala de reuniões os empresários encontravam-se reunidos com os Belinnis. Raoul conseguia demonstrar o motivo de ser escolhido como o sucessor da Senhora Belinni, pois seu raciocínio rápido e lógico estava entusiasmando a todos.
–Agora que foi exposto o percentual de aceitação e sucesso da seguradora imagino que queiram discutir os outros pormenores. Estou certo? – perguntou sério ao olhar para cada um dos empresários. Logo um debate acirrado começava.
***
Emma caminhou pela casa sem destino. Ela e Raoul mal haviam conversado desde que chegaram e algo a deixava inquieta: o modo como olhavam para ela. Ao passar por um extenso corredor abriu uma porta, aleatoriamente, e surpreendeu-se ao ver uma biblioteca mesclado com escritório. Entrou com cuidado, olhou a sua volta ficando em êxtase ao ver tantos livros. Começou a ler o titulo um por um da prateleira mais baixa e não demorou para encontrar álbuns fotográficos.
–Isso pode ser interessante – murmurou ao pegar um. Sentou-se na poltrona mais próxima, apoiou o álbum em seu colo e o abriu. A primeira fotografia possuía uma inscrição bem abaixo – Raoul com dois anos – leu em voz alta. Tocou a fotografia e sorriu ao imaginá-lo tão frágil e meigo como na foto – eu gostaria de ter te visto quando mais novo. – a medida que passava as paginas percebia o quanto ele havia mudado. Quando pequeno possuía um olhar esperançoso, mas a medida que envelhecia o brilho em seus olhos foi se perdendo como o sorriso em sua face. Ao terminar, o fechou e fitou o nada.
–Eu devo estar muito tempo longe daqui porque é a primeira vez que vejo uma garota tão bela por aqui – uma voz masculina soou perto da porta.
Emma virou-se já reconhecendo a voz e ao ver Enrico, sorriu.
–Enrico, não sabia que viria.
–Nem eu – resmungou ao fazer uma careta, a qual foi substituída por um sorriso – Querendo saber sobre Enzo ou Raoul? – perguntou em tom de gracejo, mas ao ver as faces rosadas dela percebeu ser verdade – ei, está falando sério? Está aqui querendo saber sobre eles?
–Na verdade... queria conhece Raoul um pouco mais.
–Entendi – “Coitado de Enzo, veio de tão longe para ser dispensado”. – mas me conte o que está achando da família?
–Ainda não conversei com todos, direito. Mas estão sendo gentis comigo.
–É claro, se não forem provavelmente Raoul cortaria a mesada de todos – riu diante de seu pensamento – seria um caos.
–Mesada?
–Sim, como a maior parte da renda dos Belinni vem da seguradora, ele acaba repassando uma mesada a todos os familiares por mês. Por ser o presidente é ele quem autoriza.
–Então o único que trabalha nessa família é ele?
–Praticamente, Enzo por exemplo só enrola na seguradora. Eu pelo menos sou sincero, sou um Bon Vivant – sorriu.
“Deve ser dificil para ele” pensou ao imaginá-lo sobrecarregado de coisas para fazer. “Vou ajudá-lo esta noite. Farei o possível para que não precise se preocupar comigo”.
–Enrico, sobre hoje a noite.. Poderia me ajudar?
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